Festa do Senhor dos Enfermos. Em Alvarães, a tradição é “centenária”. Realiza-se sempre no III Domingo da Quaresma. O objetivo é “levar a Sagrada Comunhão aos doentes que vivem nos diferentes lugares da vila”.
Este ano não foi exceção. O percurso iniciou-se na igreja matriz e seguiu para a avenida, passando pelas ruas de Pradinho, Chasqueira, Cruzeiros, Várzea, Paúdo, Chucas, Costeira, Carranca, Feira, Souto e S. José. E incluiu, ainda, uma paragem no lar de S. José, na Capela da Sra. da Luz, e na Igreja de S. José.
Eram 09h00, mas desde as 08h00 que as pessoas tinham metido as mãos ao trabalho para preparar os caminhos e as entradas com tapetes de flores feitos de pétalas, verdes e serrim.
Irene Teixeira tem 73 anos e, desde os 14 anos, participa na preparação dos tapetes. “Quando era mais nova, carregava os baldes das flores. Mais recentemente, usamos o serrim. Pintamo-lo no dia anterior e, logo, de manhã, começamos a colocá-lo”, contou, recordando “o capricho” das flores naturais, apanhadas no campo.
Aqui, “todas as pessoas aderem”. “Somos uma freguesia unida e que se junta para manter viva a tradição, seja desta ou de outra festa”, referiu, salientando que as crianças e os jovens também já participam. “Não deixa de ser uma homenagem a todos aqueles que não conseguem deslocar-se à igreja e participar nas celebrações”, acrescentou, confidenciando que “o encontro da população com os doentes é emocionante”.
Há mais de 30 anos a trabalhar no Lar de S. José, Ilda Rodrigues participa “todos os anos” na solenidade. “Colaboramos com a vila porque somos a maior casa de doentes”, disse, destacando o momento “por tudo aquilo que implica”. “É sempre muito bonito. É difícil expressar o verdadeiro significado, porque o sentimento é uma coisa que sempre me atinge muito”, confidenciou.
Para a diretora técnica, os 40 residentes são pessoas que valorizam “muito” tudo aquilo que está relacionado com a religião. “São datas e comemorações que fazem parte das histórias deles e, por isso, são significativas. Daí, termos o cuidado de incluir esta festa no nosso plano de atividades, perpetuando a continuidade desta tradição e, ao mesmo tempo, fomentar o espírito de comunidade”, disse Ângela Araújo.
O Pároco, Pe. Domingos Meira, conta que os Ministros Extraordinários da Comunhão (MEC) levam, todos os Domingos, a comunhão a cerca de 50 doentes. Neste dia, realça “a beleza e o testemunho”. “A comunidade desloca-se até àqueles que não podem deslocar-se (fisicamente) à comunidade, mas que comungam todos os Domingos no mesmo altar através do serviço dos MEC”, referiu, considerando ser esta “a maior festa” da Paróquia. “Quando entramos nas suas casas, vemos a emoção e a saudade da comunidade e de Cristo”, salientou.
Na procissão, ao longo do percurso, as pessoas cantam e rezam ao Santíssimo Sacramento. Para além dos tapetes no chão, há colchas que esvoaçam ao vento nas janelas e, nos peitoris, existem velas acesas. “Esta procissão é um ato de caridade e de misericórdia, um tempo de reflexão e em que se cumprem vários preceitos”, acrescentou Júlio Vieira.
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