Segundo profissionais da área, algumas das medidas anunciadas já fazem parte dos planos de contingência das creches, mas outras irão levantar bastantes questões de ordem prática, embora reconheçam a necessidade imperiosa de salvaguardar a saúde das crianças. Cuidados como uso de máscara pelos profissionais, não autorizar os pais a entrar, um dispensador de desinfetante por sala, arejamento dos espaços sem utilização de sistemas de recirculação de ar condicionado, mesas orientadas no mesmo sentido como na escola, não permitir que as crianças partilhem brinquedos, uma área de isolamento para casos suspeitos de Covid-19, sempre será possível tomar, com mais ou menos esforço. O que condiciona muito a operacionalidade das creches é o espaçamento de 2m entre crianças ao longo do dia, incluindo pausas e espaços de refeição, medida que a própria DGS reconhece de não fácil implementação, dadas as características das crianças e deste tipo de estabelecimento. Por outro lado, berços, camas ou catres devem ser sempre utilizados pela mesma criança e com espaçamento mínimo de 2m entre si, o que poucas creches estarão em condições de cumprir sem reduzir drasticamente a lotação, pondo mesmo em risco a sua viabilidade económica. Também vai ser necessário assegurar a substituição dos funcionários que venham a ser suspeitos de infeção, como é natural.
O Centro Social e Paroquial de Campos, Arciprestado de Vila Nova de Cerveira, para além do Serviço de Apoio Domiciliário, do Centro de Convívio e do Centro de Atividades de Tempos Livres, tem uma creche com capacidade para 75 crianças com idades compreendidas entre os 4 meses e os 3 anos de idade, operada por uma vintena de funcionárias, num horário compreendido entre as 5h30 e as 19h00. O Pároco, Pe. Eugénio Araújo, mantém-se em diálogo com a Segurança Social, que não adianta mais orientações. Com a informação disponível, não autorizará a abertura da creche na data adiantada pelo Governo; só o fará com mais certezas e “depois de as medidas serem devidamente analisadas e avaliadas por especialistas. Mesmo assim, tudo irá depender das decisões que os pais vierem a tomar”. Se até ao fim do mês de maio não se encontrar a solução, ou o Ministério “obriga a reabrir a creche do Centro Paroquial, ou pode cancelar o acordo”, que é um cenário que acha que não deve ser descurado. “Neste momento, os pais das crianças estão a pagar apenas 10% da mensalidade para despesas de manutenção, mas isto é apenas simbólico, claro”. No caso de a valência Creche se manter com menos lotação, vai ser incontornável rever os valores do acordo com o Estado. Entretanto, foi informado que a Segurança Social estaria a agendar testes à Covid-19 para os funcionários, o que ainda não aconteceu.
Já no Arciprestado de Viana do Castelo, o Centro Social e Paroquial de Vila Nova de Anha manterá a creche fechada até 1 de junho. O Pároco, Pe. Alfredo Sousa, falou “com os pais e eles concordaram em não trazer os filhos antes disso”. Por outro lado, a adaptação é muito difícil nalguns aspetos, apesar da reorganização em que já estão a trabalhar. “Há coisas que não sei como vamos fazer: a creche é um lugar de afetos; como é que as colaboradoras vão estar distanciadas das crianças e até elas próprias umas das outras?”, desabafa. Antecipa um momento inicial de negação, até porque as crianças têm muitas saudades umas das outras e das funcionárias, que não vão reconhecer com as máscaras na cara. Além disso, as funcionárias (que irão ser testadas à Covid-19 por iniciativa da Segurança Social) “vão e vêm todos os dias, os pais também vêm do trabalho buscar os filhos, e não vamos saber se estão infetados; isto para além dos assintomáticos”. Para lá da Creche, o Centro Social e Paroquial de Vila Nova de Anha tem outras valências: Estrutura Residencial para Idosos, Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário, Atividades de Tempos Livres, Piscina, Departamento Cultural e Recreativo e Gabinete de Inserção Profissional.
Por seu turno, o Pe. Manuel Almeida, Pároco de Fornelos, Arciprestado de Ponte de Lima, e Presidente do Centro Paroquial e Social local, declara que “só deitando o edifício abaixo e construindo outro é que se pode cumprir as orientações”. Não vê, portanto, quaisquer hipóteses de reabrir a creche no prazo anunciado: “Não há condições. As instruções mais determinantes são por m2 e nós não temos espaço para isso! O protocolo foi revisto há pouco tempo e foram aumentados 3 lugares, o que acabou por piorar a situação.” Apesar de todos os condicionalismos, assegura qua a reabertura irá depender dos pais. Por outro lado, afirma que “uma creche é uma resposta social que dá sempre prejuízo: as mensalidades são calculadas com base no IRS dos pais, portanto são baixas, e a comparticipação da Segurança Social não paga o resto. Temos 2 educadoras e duas auxiliares por sala; são 3 salas. A essas 6, há que juntar mais uma auxiliar de serviços gerais. É impossível dar!…”. Quanto à Covid-19, informa que as funcionárias irão ser sujeitas a testes a expensas da Segurança Social. O Centro Paroquial e Social de Fornelos conta, também, com um Lar de Idosos, um Centro de Dia e um Serviço de Apoio Domiciliário.