Exclusivo Entrevista

João Puig: “Existe uma grande falta de representatividade e as pessoas sentem que não têm voz”

Natural de Viana do Castelo e a residir no Porto, João Puig foi eleito, com 3.325 pontos, cabeça-de-lista do Livre pelo Alto Minho. Com 32 anos, é licenciado em Design pela Universidade de Aveiro, e tem Mestrado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

Micaela Barbosa
13 Mai. 2025 8 mins

Notícias de Viana (NdV): O Livre defende uma democracia mais participativa, mas o que impede o partido de ser mais influente no Parlamento? Falta de estratégia política, ou o eleitorado ainda não está pronto para as vossas ideias?

João Puig (JP): Há aqui um grande problema. O facto de termos ido para as eleições foi culpa de uma pessoa só: Luís Montenegro.

Quando começaram a aparecer notícias sobre a Spinumviva, começámos a achar peculiar e estranho que alguém que defende ser ético, não tenha sido transparente. Ainda tentámos recusar as moções de censura, mas, quando foi apresentada a moção de confiança, já não dava para seguir para mais, e penso que, aqui, o partido não podia fazer mais nada.

 

(NdV): As sondagens mostram que o Livre é um partido que está a crescer. No entanto, tem pouca expressão fora dos grandes centros urbanos, como é exemplo o Alto Minho. Porque devem os eleitores acreditar que a vossa presença no Parlamento tem impacte real?

(JP): Existe um problema que também queremos ver alterado: o processo eleitoral.  Atualmente, existe uma grande falta de representatividade e as pessoas sentem que não têm voz.

Em meios mais pequenos, não existe uma maior representação dos outros partidos porque, para as pessoas se sentirem ouvidas, votam nos partidos que sabem que vão conseguir eleger. Daí ser necessário mudar e refletir no funcionamento da democracia, fazendo com que as pessoas comecem a confiar e a acreditar que o voto delas conta, mesmo que não seja no partido que tem representação direta.

 

(NdV): Ao longo da legislatura, o Livre votou frequentemente ao lado do PS. Como quer o partido demonstrar-se independente e mostrar aos eleitores essa independência?

(JP): Temos as nossas ideias. Somos progressistas, europeístas e ecologistas, mas também aceitamos o diálogo, concretamente com os outros partidos, para combinarmos certos segmentos do que pode fazer-se pelo país. Nunca vamos estar contra isso, mas, para estarmos ao lado de um Governo, precisamos de várias coisas: garantir um Serviço Nacional de Saúde (SNS) pleno, melhorar na área da habitação e na da educação. No primeiro dia, quando chegarmos ao Parlamento, lutaremos por um fim às guerras na Ucrânia e na Palestina, identificando esta última como um Estado. Precisamos, também, de criar uma voz presente na União Europeia para falar dos valores, e que possa dizer a um Putin ou a um Trump que a Europa é dos europeus e não é deles.

 

(NdV): Com um discurso sofisticado e valores muito específicos, como garante o Livre que não está a falar apenas para alguém de um centro urbano, por exemplo, mas para o país inteiro, incluindo quem se sente fora desse radar cultural e político?

(JP): Pelo trabalho realizado no Parlamento. Ao contrário dos outros partidos, que têm mais deputados, conseguimos aprovar grande parte das nossas propostas que melhoram o estado de direito e as condições de vida das pessoas. Por exemplo: o passe nacional ferroviário, que agora se chama Passe Rodoviário, por alguma razão, e também, ironicamente, foi alguém que recusou essa proposta quando a passámos. Isto é do interesse comum. É ligar as pessoas através da mobilidade, incluindo as pessoas que estão fora dos centros urbanos, ligando os centros urbanos aos centros rurais.

 

(NdV): O Alto Minho continua a ser uma das áreas que perde população jovem e ativa. O que propõe o partido que vá além das soluções habituais, como incentivos fiscais?

(JP): Também precisamos investir na ciência e na qualidade de vida das pessoas. Consideramos que são problemas que não se resolvem com uma proposta apenas, mas com um pacote.

Em relação à questão, para mantermos as pessoas com talento, temos de lhes dar as condições para isso. Isto implica mobilidade, habitação acessível, tempo livre e creches.

 

(NdV): Ou seja, mais investimento.

(JP): Sim. Por exemplo: a descida do IRC para as empresas. 45% de quem paga IRC são empresas grandes. Ou seja, é dinheiro que foi dado às maiores e não às médias e pequenas empresas.

Para pegarmos nesse talento, precisamos de fazer apostas diferentes assentes, por exemplo, na qualidade de vida, na habitação

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