A lista do Partido Socialista (PS) do círculo eleitoral de Viana do Castelo é novamente liderada por Marina Gonçalves. Natural do concelho de Caminha, a jurista e atual deputada à Assembleia da República exerceu funções como Secretária de Estado e Ministra da Habitação, nos XXII e XXIII Governos da República Portuguesa.
Notícias de Viana (NdV): Tendo em conta todo o processo até à queda do Governo, o PS não poderia ter feito diferente?
Marina Gonçalves (MG): O PS fez diferente daquilo que nos foi habituando a oposição, nomeadamente nos últimos oito anos, em que os Governos minoritários do PS eram comuns. Em 2022, por exemplo, fomos para eleições depois do Orçamento de Estado ter sido chumbado pelo Parlamento.
Desde o início desta legislatura, o PS foi parte ativa na estabilidade, por exemplo com a eleição do Presidente da Assembleia da República, quando havia um aparente acordo à direita que depois foi revogado. O mesmo aconteceu quando apresentaram moções de rejeição ao programa de Governo. O PS não aceitou. E fez o mesmo neste Orçamento de Estado, com as duas moções de censura que surgiram.
O que não podemos pedir ao PS é que, não tendo apresentado nenhuma moção de censura, nem aprovado as moções de censura de outros partidos, aceite que o Governo tenha, com o único instrumento que pode utilizar, apresentando uma moção de confiança que sabe que não iria ser aprovada pelos partidos, porque seria um voto de confiança num Governo em que não confia. Desde março do ano passado que dizemos que nunca apoiaríamos uma moção de confiança. Seria obviamente um ato, por parte do Governo, deliberado para levar o país a eleições.
(NdV): Durante um ano, o PS, no Parlamento, sobre o Alto Minho, falou do fim das portagens, da elevação de Castelo de Neiva a vila e de Lanheses a vila histórica, e do desassoreamento e reconfiguração do portinho de Vila Praia de Âncora. Não foi pouco?
(MG): Não acabámos o mandato a dizer que fizemos tudo. O PS está na oposição e não no Governo.
Posso olhar para o Governo e dizer que ele não fez nada do que referiu. Os pórticos foram aprovados, apesar de a Aliança Democrática (AD) ter votado contra. Já sobre o desassoreamento e reconfiguração do portinho de Vila Praia de Âncora, esteve durante um ano a ser utilizado politicamente pelo Governo para atacar o passado sem nada a fazer e, agora que estamos em eleições, foi novamente lançado o concurso para desassorear, e não há nenhuma novidade para a reconfiguração.
Além disso, há outras áreas onde ainda há muito trabalho para fazer, desde habitação, saúde, respostas à terceira idade e às crianças, para garantir que o nosso território se desenvolva. No entanto, um partido na oposição ter tido a capacidade de, nomeadamente, resolver problemas estruturais do território, como é o caso do pórtico há tantos anos reclamado, não diria que é pouco. Diria que é algo muito significativo.
(NdV): Uma das críticas mais frequentes ao Governo tem sido a falta de investimento nas regiões periféricas, como o Alto Minho. No programa do PS, o Alto Minho só surge referido quando se fala do investimento na ferrovia. Não é uma contradição?
(MG): Não, de todo. Há uma diferença muito grande entre o programa do PS e o da AD.
O programa da AD, apesar de ainda não o conhecermos, é feito para alguns. As medidas que nos apresentam são sempre muito segmentadas. O programa do PS responde a todos. Por exemplo, quando propomos o aumento do abono de família, as respostas para a terceira idade, e a garantia que efetivamente a habitação não fica no papel, há investimento para poder concretizar todas as necessidades identificadas, nomeadamente no Alto Minho, e em todo o território.
Não nos enganemos ao concluir que, por referirmos uma vez (em específico) o Alto Minho, estamos a abdicar de prioridades para este território. É precisamente o contrário. O nosso programa é para todos e, portanto, quando temos um conjunto de medidas para o interior, as zonas de baixa densidade e as regiões periféricas, estamos também a olhar para o nosso território.
(NdV): O PS governou o país durante oito anos. Cinco das dez Câmaras Municipais do distrito são, também, PS. Como explica que, estando a 40 km de dois grandes centros urbanos, como Porto e Vigo, Viana continue a ter enormes índices de ruralidade?
(MG): Felizmente, somos um território
Torne-se assinante e tenha o poder da informação do seu lado.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.