O que podemos?

Elisabete Pinto
12 Nov. 2024 3 mins
Teatro e Comunidade

Nos tempos desafiantes que vivemos, com guerras e uma crise económica que se reflete nos preços de praticamente tudo, é fácil ceder à descrença.

Atualmente, o valor das casas, por exemplo, é proibitivo para a maior parte das pessoas, atingindo jovens e menos jovens, pessoas com ou sem formação, com ou sem emprego, com ou sem família constituída. Enquanto uns dependem de se endividarem, de ajudas familiares e do Estado para subsistir, outros, como as pessoas ainda sem filhos, não conseguem emancipar-se, sobrevivendo em casa dos pais até aos 30 ou mesmo 40 anos de idade. Há cada vez mais casos de pessoas que viviam pelos seus meios e que são obrigadas a voltar para casa dos pais por não conseguirem manter-se de forma autónoma. Perante isto, o medo cresce nos cidadãos e nas famílias, inseguras acerca do futuro.

E, por causa do mesmo medo, vemos como nos meios de comunicação, nas redes sociais e no café da aldeia, as opiniões das pessoas são cada vez mais crispadas. Sentimos na forma como nos estamos a expressar uma cada vez maior radicalização daquilo que dizemos, que escrevemos, que defendemos.  Vemos isso até no trânsito! O melhor a fazer perante uma buzinadela furiosa é não responder, para não corrermos o risco de provocar um conflito ainda maior!

Nestes dias, parece que ter razão se tornou muito mais importante do que ser capaz de mostrar empatia, respeito, compreensão. E, da nossa pequena rua, passando pelo que vemos no telemóvel, até chegar aos líderes mundiais, parece que só há dois resultados possíveis para qualquer questão: ou tudo, ou nada! A moderação caiu em descrédito. Como se fosse uma fraqueza. As guerras prosseguem, os ódios crescem, toda a gente sabe que é necessário parar, mas ninguém faz nada. E, quem tenta não consegue. Não é ouvido. Veja-se as Nações Unidas, completamente desrespeitadas pelos senhores da guerra que se acham intocáveis.

Como escreveu Sophia de Mello Breyner, “Vemos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar”. – Mas como? O que podemos nós, individualmente, fazer? Se países inteiros insistem na cegueira e no ódio, numa loucura que parece não ter fim? Gosto de pensar que tenho o poder de uma borboleta. E, por isso, no contacto com os meus semelhantes, bato as minhas pequenas asas o melhor que posso e sei, esperando que esse movimento possa ajudar a mudar alguma coisa para melhor. Porque acredito, como S. Paulo, que “Sim, posso!”. E, porque, enquanto puder, direi como José Luís Peixoto, poeta dos nossos dias: “Se te quiserem convencer de que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz”.

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