Zombies digitais

Nuno de Matos
11 Nov. 2024 3 mins
Nuno Matos

Caro leitor, não vou escrever sobre as criaturas de ficção associadas aos filmes de terror. Vou escrever acerca do que encontramos um pouco por todo o lado, nas nossas ruas, nos transportes, nas escolas e até… nas nossas casas: os zombies digitais!

Quando percorremos as ruas da nossa terra, encontrámo-los um pouco por todo o lado. Não são apenas jovens, embora muitos o sejam, circulam ao nosso lado, mas sem nos verem ou verem o que os rodeia. Geralmente, a cabeça está ligeiramente inclinada para baixo, um dos braços levemente levantado. E os olhos? Estão fixos. Onde? No telemóvel que seguram. Zombies, amarrados ao ecrã, fixos no scrolling dos conteúdos que o “mestre” algoritmo lhes vai mostrando. Na rua, na fila do transito, na sala de espera, no jardim, no passeio do cão, tudo é feito em perfeita “ausência”, amarrados ao ecrã. Quando estiver num café, repare nas outras mesas. Vai encontrar, em quase todas elas, pessoas que, embora sentadas na mesma mesa, passam a totalidade do tempo a olhar para o ecrã do telemóvel, quase sem troca de palavras, fisicamente perto, mas a terabytes de distância. Hoje parece que tudo tem de ser fácil, agradável e rápido, e nada como um ecrã para ter a ilusão disso tudo.

Não pense, caro leitor, que se trata de algo menor. O estudo “Scroll. Logo existo!”, elaborado por uma equipa da universidade Lusíada, revela que, tal como o consumo de substâncias como o álcool ou droga nos torna dependentes do intermitente e imprevisível fluxo de dopamina, o mesmo acontece na adição à Internet e às redes sociais. A adição toma proporções tais que a abstinência provoca desconforto físico, com sintomas semelhantes aos de ansiedade e irritabilidade elevada. Sim, estamos a falar de dependência (física e emocional).

A tecnologia é uma parte inevitável das nossas vidas, (comunicação, informação, ferramenta de trabalho), mas é preciso usá-la de forma consciente, isto é, com limites, com equilíbrio entre o on-line e o off-line. Não podemos continuar absortos, consumindo em loop conteúdos sem os questionar, sem pensar, sem limites. É nesse limbo que se abrem as portas para uma sociedade manipulada e controlada por narrativas falsas, com todos os perigos que isso acarreta, a começar pela democracia.

É tempo de reagir! Comecemos por nós, com esforço, certamente, mas fazendo a diferença para com os que nos rodeiam. Deixemos o scroll nas redes sociais e passemos a ler umas páginas de um livro. É tempo de levantar a cabeça, tirar os auscultadores, se os usa, e ouvir o chilrear dos pássaros, os cumprimentos dos que passam por nós, sentir o sol na face.

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