Viana do Castelo lembra vítimas de violência doméstica. Dados expõem “emergência global”

No Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, Viana do Castelo saiu à rua para lembrar as vítimas e alertar para um problema que continua a crescer, tanto local como mundialmente. Na Praça da República, cerca de 40 pessoas juntaram-se numa iniciativa do Coletivo4900 e do Projeto Petúnia, do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), para homenagear as 25 mulheres assassinadas este ano em contexto de violência doméstica e lembrar as mais de 25 mil queixas registadas em Portugal, o valor mais alto dos últimos sete anos.

Micaela Barbosa
26 Nov. 2025 3 mins

“A cada dia que passa, há mulheres a sofrer desta violência, seja física, seja psicológica, seja doméstica, seja sexual, e as respostas não são as mesmas”, afirmou Adriana Temporão, do Coletivo4900.

A ativista sublinhou que, apesar de um estudo europeu reconhecer “progresso importante” por parte de Portugal, “ainda há muito a fazer, nomeadamente na formação de magistrados e magistradas, que muitas vezes continuam a preferir a unidade familiar à salvaguarda da segurança da vítima”.

A fraca adesão à homenagem, que ainda assim “é boa para um distrito como Viana do Castelo”, não surpreendeu a organização. “A indiferença deve-se, muitas vezes, ao medo. Muitas mulheres nem sequer reconhecem que são vítimas, porque dependem financeiramente dos agressores ou porque normalizaram comportamentos violentos”, explicou, acrescentando: “Não haverá muitas mulheres em Portugal que não tenham sido vítimas de algum tipo de agressão machista”.

ONU identifica agravamento e falha no combate à violência 

Os novos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de parceiros da ONU, indicam que uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual ao longo da vida, o equivalente a 840 milhões de vítimas.

Apenas no último ano, 316 milhões foram agredidas por parceiros íntimos. “Por trás de cada estatística há uma mulher, ou menina, cuja vida foi alterada para sempre”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, ao apresentar o relatório que classifica a situação como “uma das injustiças mais ignoradas da humanidade”.

O documento, que recolhe dados entre 2000 e 2023, alerta, também, para o impacte de crises políticas, desigualdades e novas tecnologias na escalada da violência, e denuncia cortes drásticos no financiamento internacional: em 2022, apenas 0,2% da ajuda ao desenvolvimento global foi destinada à prevenção de violência contra as mulheres.

Pedidos de ajuda continuam a aumentar em Portugal

Em Portugal, a tendência também não é de descida. Dados divulgados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) mostram que, entre 2022 e 2024, 36.489 mulheres foram apoiadas pela associação, um aumento superior a 11%. Dos 70.179 crimes denunciados, 85,4% correspondem a violência doméstica. “Não existe estabilidade nos dados. Não há ainda uma tendência de descida, que era o que esperaríamos”, admitiu Daniel Cotrim, assessor técnico da APAV. Apesar disso, reconhece que “as mulheres estão mais informadas, mais alerta para os seus direitos e que querem sair das relações abusivas.”

Daniel Cotrim alertou, ainda, para a “maior letalidade e rapidez na escalada da violência”, associando-a ao crescimento de discursos de ódio, misoginia e falsa informação disseminada nas redes sociais, consumidas por jovens cada vez mais novos.

O Coletivo4900 diz que vai continuar a trazer o tema para o espaço público. “Estamos a chegar a mais pessoas, e a pessoas novas. É um caminho que se faz aos poucos”, destacou Adriana Temporão.

A ação, em Viana do Castelo, terminou com uma homenagem às mulheres vítimas de violência e às que marcaram, ao longo da história, a luta feminista e os avanços nos direitos das mulheres.

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