No passado mês de janeiro, aquando da celebração do 171.º aniversário de elevação de Viana do Castelo a cidade, fez-se história. Marta Jordão Paço, natural de Outeiro, invisual de nascença, tornou-se na Cidadã de Mérito do Município mais nova de sempre, depois de, em dezembro, ter ganhado a Medalha de Bronze no Mundial de Surf Adaptado, nos Estados Unidos da América. Na mesma sessão, foi homenageada Raquel Gaião, bióloga de 23 anos, natural do concelho de Viana, aluna do Mestrado em Biodiversidade e Conservação Marinha na Universidade do Algarve que, em setembro de 2018, se tornou na primeira mulher portuguesa a ganhar o prémio mundial atribuído pela Global Biodiversity Information Facility Young Researchers Award (GBIF).
Estes gestos de reconhecimento têm enorme valor em si mesmos, na medida em que premeiam casos concretos de sucesso fruto de uma grande dedicação e de um grande empenho. O seu valor, contudo, está sobretudo naquilo que eles simbolizam para além das circunstâncias particulares em que se inserem. Na verdade, Marta Paço e Raquel Gaião são dois exemplos de entre muitos jovens vianenses que, por diversas partes do país e do mundo, com o seu saber e a sua generosidade, são extraordinários embaixadores de Viana e das suas gentes.
Viana do Castelo tem, efetivamente, uma juventude de que se pode orgulhar. Abundam os exemplos de jovens que se destacam no âmbito da investigação científica, do ensino, do empreendedorismo, das artes ou do desporto. Multiplicam-se os casos de jovens que, através de diversas formas de voluntariado ou de outros modos de exercício de uma cidadania ativa e comprometida, são “fermento” no meio do mundo e marcam positivamente a sociedade em que se inserem.
Apesar da diversidade de percursos, vou percebendo na relação que mantenho com muitos deles que uma coisa os une: o orgulho nas suas raízes, a “chieira” em ser de Viana, o gosto pela cultura vianense nas suas diferentes – mas sempre ricas – expressões. Isto pode ser percebido, de modo singular, durante aquele que é o momento do ano em que o “orgulho vianense” respira e transpira em cada canto: a Romaria de Nossa Senhora da Agonia. No ano passado, e ainda no rescaldo da última Romaria, um amigo meu que participava pela primeira vez nas festas confidenciava-me: “Fiquei agradavelmente surpreendido pela quantidade de jovens presentes nos diferentes momentos da Romaria”. Sabemos bem como isto é verdade. Por esses dias, é refrescante para a alma ver a quantidade de jovens que desce a Avenida durante o Desfile da Mordomia e o Cortejo ou que “dá vida” à Romaria através da sua participação nos diversos Grupos Etnográficos do concelho; ou ainda a quantidade de jovens que enche a Ribeira na “Noite dos Tapetes”, muitos dos quais fazendo os próprios tapetes, salgando as mãos e
temperando a alma. Tudo isto, naturalmente, graças à presença daqueles que andam nos caminhos da vida há mais tempo: presença que ampara, sustenta e orienta. Os jovens são, de facto, o garante do futuro da “nossa” Romaria, mas também já o presente.
São, acima de tudo, o garante do futuro da cidade e do concelho, mas também já o seu presente. Levando Viana ao mundo, trazem também o mundo a Viana. E Viana tem sabido reconhecer o seu papel. Ainda no final do ano passado, foi criado, no Município, o Conselho Municipal da Juventude, gesto profético que, nas palavras da atual Vereadora da Juventude, Carlota Borges, tem como primeira missão escutar os jovens. Esta escuta é, de facto, essencial: escuta sem preconceitos ou estereótipos e aberta à novidade; escuta que, antes de julgar ou rotular, procure compreender e integrar; escuta franca e sem medo de desafios, numa clara valorização dos benefícios de um diálogo intergeracional; escuta que não receie dar aos jovens o seu lugar no mundo, sem que isto signifique prescindir de alguém; escuta que desafie a tentação do pessimismo e se faça num horizonte de esperança; escuta que se torna imprescindível mesmo e sobretudo quando a mais longa experiência de vida aconselha a “acalmar” o frémito juvenil; escuta que é condição para poder formar os próprios jovens para a escuta.
Há em Viana uma juventude cheia de talento, que dá todos os dias o melhor de si nos diferentes domínios da vida pública. Há em Viana uma juventude que não fica calada, que não se resigna, que recusa ser espectadora, que luta contra a indiferença. Há em Viana uma juventude que sonha com o coração, as mãos e os pés e que se empenha por “deixar o mundo melhor do que aquilo que o encontrou”, gravando o seu nome na história. Há em Viana, acima de tudo, uma juventude herdeira de um inesgotável tesouro transmitido pelas anteriores gerações – facto que nunca poderá ser negligenciado –, às quais deve, em grande parte, quanto tem e quanto é.
Que a Romaria de Nossa Senhora da Agonia seja, então, manifestação visível de uma cidade e de um concelho que se esforçam por desenvolver uma cultura cada vez mais intergeracional. De facto, na Romaria, percebemos como todos têm o seu lugar, dos mais pequeninos aos mais crescidos; na Romaria, percebemos como todos são igualmente importantes; na Romaria, percebemos como a diversidade não é sinónimo de dispersão, mas está chamada a colocar-se ao serviço da unidade; na Romaria, percebemos, enfim, aquela que deve ser a forma de vivermos em comunidade todos os dias do ano: uns para os outros, uns com os outros.
A todos, de todas as idades, mas sempre unidos pela juventude da alma, boa Romaria!
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