O Ephemera é o maior arquivo (privado) do país e um dos maiores da Europa. Quem o afirma é a professora Isabel Campos. É voluntária do núcleo de Viana do Castelo, que inaugurou recentemente uma exposição de cartazes artesanais, “muitas vezes improvisados”, que chegaram ao Arquivo Ephemera “pela mão de centenas de voluntários que os apanharam no chão ou recolheram de mãos”.
“Não me calo” é o mote da amostra que está patente, até dia 22 de outubro, nos Antigos Paços do Concelho de Viana do Castelo. “Temos 25 turmas para visitar a exposição”, adiantou Isabel Campos, enaltecendo a história dos cartazes expostos. “Esta exposição já esteve em vários sítios do país. Todos têm de saber que têm de ter um papel na sociedade e, por isso, é importante que as pessoas sejam alertadas”, disse, acrescentando: “Queremos transmitir valores como a solidariedade, espírito crítico, a contestação, a luta contra o racismo, a violência doméstica, nunca esquecendo a parte cívica, que todos temos de ter.”
A exposição integra as diversas exposições que são promovidas pelo núcleo de Viana do Castelo. “Seguia o dr. José Pacheco Pereira através do seu blogue Abrupto. Acompanhava o seu trabalho e sempre o achei muito interessante. Num dos apelos, na altura das manifestações sobre o encerramento dos Estaleiros Navais, enviei as primeiras fotografias e os primeiros folhetos que consegui arranjar”, contou, acrescentando que, em contactos posteriores, quando manifestou o gosto em colaborar, José Pacheco Pereira propôs a criação de um núcleo em Viana do Castelo, o que se tornou possível em março de 2017.
Atualmente, o núcleo de Viana do Castelo conta com oito voluntários das mais variadas áreas. Segundo Isabel Campos, a maior dificuldade foi encontrar um local onde o material doado pudesse ser armazenado. Os proprietários do café Girassol disponibilizaram-se para que o café fosse o ponto de recolha e a Associação Empresarial cedeu um armário, que se tornou insuficiente, passando a uma sala, até ao último mês de março, quando foram obrigados a sair “pela falta de condições do prédio”. Hoje, estão a utilizar uma sala cedida pela ESE. “No dia da inauguração da exposição, o Arquivo Ephemera e a ESE assinaram um protocolo de cooperação entre as duas entidades, garantindo um espaço de trabalho”, revelou, contando que “têm muito material”.
Com 70 anos, a professora fala com uma paixão sobre a Ephemera. “O material recolhido é, à partida, material que iria para o lixo. Para nós, tudo tem valor. São coisas com história”, defendeu, exemplificando através das campanhas eleitorais que “são uma dor de alma”. “Os partidos não guardam nada, lamentou, recordando a primeira exposição, em setembro de 2017, sobre as eleições. “Contactamos os partidos e eles disseram-nos que ia tudo para o lixo após a campanha. O material que conseguimos foi através de particulares, que nos emprestaram”, contou, admitindo: “Quando há uma campanha eleitoral pedimos a todas as Juntas de Freguesia e Partidos os materiais da campanha. Depois, fotografamos todos os outdoors, o que quer dizer que é uma dor de alma porque eles estão nas rotundas.”
Uma das outras exposições que foi “um sucesso” e tem percorrido vários locais do país foi sobre os pin’s políticos. “No total, fizemos nove exposições. Uma sobre as firmas vianenses, outra mostramos como era Viana do Castelo e como está hoje, outra sobre as eleições americanas e outra sobre os 90 anos do Girassol”, enumerou, admitindo que o tempo de preparação depende do arquivo.
A política do Núcleo de Viana do Castelo é, também, o de preservar o que é vianense, pelo que todo o material que lhes é doado, e diga respeito à cidade. Com a anuência dos doadores, é entregue ao Arquivo Municipal, à Biblioteca ou aos museus, conforme o interesse manifestado. “Podemos referir, apenas como exemplo, as centenas de folhetos, fotografias, discursos, relatórios, materiais de congressos, menus, apontamentos, agendas, calendários, cartões de visitas, cartas etc, que foram doados pelos familiares do Major Tristão Bacelar, família Branco, dr. Vinhas Novais, dra.Teresa Mayer e outros”, exemplificou, atirando: “O filho do dr. Ribeiro da Silva doou parte do espólio do pai ao Arquivo Municipal, tendo o Núcleo do Ephemera colaborado no seu tratamento e organização. Trata-se de um espólio importantíssimo, cuja doação deveria ter sido mais divulgada.”
Isabel Campos garantiu ainda que as pessoas procuram o Núcleo ou dirigem-se ao Girassol para doar material. “Procuramos ir ter com algumas pessoas quando sabemos que têm material interessante, mas, infelizmente, às vezes não vamos a tempo”, lamentou, apelando: “Por isso, não deite nada fora, contacte-nos, peçam a nossa ajuda.”
A Ephemera está a preparar “grandes exposições” e uma delas é sobre o 25 de abril. “Já estamos a preparar o próximo ano. Gostaríamos de trazer a Viana a exposição «Sinais da Liberdade – iconografia do 25 de Abril» que apenas depende da disponibilidade da Câmara Municipal para a escolha de uma data e do necessário apoio”, desvendou, agradecendo a divulgação do trabalho e das exposições do núcleo nos órgãos de comunicação social locais, exceto nas rádios. “As rádios locais não querem, ou não entendem, o nosso trabalho e não nos divulgam. Têm todo esse direito, pois, como nos disse, telefonicamente, o seu diretor, tinha de dar realce à informação que lhe dava dinheiro para pagar aos funcionários”, atirou, terminado: “A exposição do ano passado – “Proibido por inconveniente – foi inaugurada e encerrada, em Lisboa, pelos senhores Presidente da República, Primeiro Ministro, Ministro da Cultura e presidente da Câmara de Viana do Castelo foi a segunda cidade a recebê-la.”
Para mais informações: ephemeraviana@gmail.com.
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