Entre a biologia, a educação e a gestão, Tiago Carrilho encontrou na sustentabilidade o ponto de encontro perfeito. Hoje, no BCSD Portugal, dedica-se a capacitar empresas para que vejam a sustentabilidade como algo prático e estratégico, começando dentro de portas, com dados, decisões e pessoas. Em conversa com o Notícias de Viana, desmistifica conceitos e aponta caminhos concretos para as PME da região.
Notícias de Viana (NdV): Numa conferência referiu-se à necessidade de “simplificar a sustentabilidade” porque “nunca fomos tão ricos em conhecimento”. Como explicaria isso a uma empresa familiar da nossa região que ainda acha a sustentabilidade algo distante?
Tiago Carrilho (TC): A sustentabilidade é, acima de tudo, gerir melhor. Pode ser esmagador pensar em desigualdade global ou alterações climáticas, especialmente para pequenas e médias empresas (PME), mas devemos encarar a sustentabilidade como uma forma de tomar melhores decisões, baseadas em dados.
A entrada de uma empresa na sustentabilidade não passa por trocar lâmpadas ou mudar a frota imediatamente. Primeiro, é necessário perceber quais temas têm impacto no meu negócio e em quais posso ter mais impacto? A partir daí, a empresa constrói o seu caminho estratégico e operacional.
No caso das empresas familiares, isso é ainda mais relevante porque elas já têm valores e querem perdurar no tempo, que são princípios muito próximos da sustentabilidade. Assim, há uma convergência natural entre sustentabilidade e longevidade dos negócios.
NdV: Ou seja, a sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também social?
TC: Exatamente. A sustentabilidade também significa criar valor para a comunidade local. Para empresas em regiões com factores de interioridade, isso quer dizer contribuir para a economia local e melhorar as condições de vida das populações. A sustentabilidade abrange o impacte ambiental, social e econômico, e as empresas têm um papel preponderante nisso.
NdV: O tema das competências verdes é crítico: “trabalho orientado ao propósito” e “déficit de competências verdes”. Na prática, que competências estão a faltar nas PME portuguesas e como se ensina isso?
TC: Quando se fala em competências verdes, geralmente referimos as ambientais: eficiência energética, economia circular, gestão de resíduos, análises de ciclo de vida e escolha de matérias-primas. Mas há outras camadas, desde as competências sociais, ligadas à liderança, relações com colaboradores, criação de empregos de qualidade, combate à desigualdade de gênero. E, por fim, competências ligadas à governança: ética, transparência e valores organizacionais.
É preciso trabalhar todas estas dimensões para que a sustentabilidade seja integrada de forma equilibrada e eficaz.
NdV: Em termos de mudança real, que resistências vê nas empresas, especialmente as mais pequenas, quando tentam seguir uma agenda de sustentabilidade?
TC: A resistência maior não é tanto ambiental
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