Sabe o que são, quantos são e onde estão os nossos Tesouros Nacionais?
O que são? Tesouros Nacionais, ou de uma forma mais correta, Bens Culturais classificados como de Interesse Nacional, são obras de arte e artefactos, únicos e com um elevado valor histórico.
Quantos são? São mais de 1.200 os Bens Culturais classificados como Tesouro Nacional. Uma vasta lista, onde se destacam os bens arqueológicos, mas também pinturas, esculturas e ourivesaria, entre outros.
Onde estão? Mais de 90% das peças classificadas estão em Lisboa. Só o Museu Nacional de Arqueologia contabiliza mais de 940 Tesouros Nacionais, a larga maioria oriunda e resgatada de outras regiões. A generalidade das peças está em reserva e algumas nunca foram sequer expostas.
Lisboa acolhe ainda bens classificados no Museu Nacional de Arte Antiga e no Museu do Tesouro Real, por exemplo. O Porto acolhe Tesouros Nacionais no Museu Nacional Soares dos Reis. Coimbra, no Museu Nacional Machado de Castro. Viseu tem 24 Tesouros Nacionais, no Museu Nacional Grão Vasco. A região do Algarve tem também três Tesouros Nacionais, expostos no Museu de Portimão e no Museu Municipal de Faro. Isto para citar apenas alguns dos 29 museus que em Portugal recebem Tesouros Nacionais.
Classificadas como Tesouro Nacional, estão também seis das sete Pirogas encontradas no Rio Lima, entre 1985 e 2023. As Pirogas Monóxilas são embarcações feitas a partir de um único tronco escavado. Estes exemplares de navegação são únicos na Península Ibérica, serviam para fazer a travessia do Rio Lima, sendo a mais antiga datada do século IV, antes de Cristo.
Foram encontradas nos sítios de Lanheses e Lugar da Passagem, nas freguesias de Lanheses e Geraz do Lima, em Viana do Castelo, e foram, em 2021, os primeiros bens arqueológicos provenientes de meio náutico e subaquático objeto de procedimento de classificação. Surpreendente, pela quantidade, e motivo de orgulho para a região de Viana do Castelo.
A sétima piroga, encontrada apenas em 2023, no areal do camalhão de S. Simão, em Viana do Castelo, ainda não está classificada.
Das sete pirogas monóxilas, apenas uma esteve exposta. Foi no Museu Nacional de Arqueologia, entre março de 2014 e setembro de 2015. É, pois, neste contexto, que importa destacar a inauguração, do passado dia 24 de Outubro, no Museu Municipal de Caminha, da exposição “Da Pré-História à Romanização”, que expõe uma das sete Pirogas Monóxilas.
Esta embarcação, agora exposta, esteve armazenada na Capitania de Viana do Castelo, após a sua descoberta em 1985, foi transferida para o Museu Monográfico de Conímbriga, esteve em tratamento no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, em Lisboa e, finalmente, no laboratório do Museu Nacional de Arqueologia Subaquática, em Cartagena, Espanha.
Foi o findar de um processo, que teve tanto de moroso como de polémico – que os mais atentos decerto conhecerão – e que permitiu ao Município de Caminha estabelecer um contrato de cedência com o Património Cultural I.P., para poder receber este Tesouro Nacional.
A discussão, no entanto, mantém-se acesa: pertencerá esta Piroga a Caminha ou a Viana do Castelo? Será certamente uma questão legal. O que gostaria de manifestar é o desejo de que a maioria das Pirogas encontradas no Rio Lima, possam ficar guardadas e/ou expostas no Alto Minho. Deveremos exigir que o Estado Central, tal como cria as condições para acolher nos Museus Nacionais os nossos Tesouros Nacionais, crie as condições para que se possa acolher na nossa região, com condições de excelência – quer de conservação, quer de exposição – as nossas Pirogas Monóxilas. Talvez através de uma mostra descentralizada e em rede: Lisboa, Caminha, Viana do Castelo e Lanheses/Geraz do Lima, por exemplo. Caminha já acolheu, com as devidas condições, uma das Pirogas; Viana do Castelo, com o projeto de rede de Polos Arqueológicos e com custos reduzidos, também o poderá fazer.
Faltará, pois, criar as condições para que a Vila de Lanheses / Geraz do Lima o possam fazer também. Vital, pois é aqui que está a génese e a história destes Tesouros Nacionais: o Lugar da Passagem, o local na zona ribeirinha do rio Lima que assegurou, durante séculos, a travessia de barco de pessoas e mercadorias entre Moreira de Geraz do Lima e Lanheses.
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