Sacerdotes convidados a “tomar o segundo lugar”

“Do mundo acessível ao coração disponível”, foi este o tema da reflexão que o Pe. Miguel Melo, SJ dirigiu os sacerdotes da Diocese de Viana do Castelo no encontro do Clero, que decorreu no Santuário do Sagrado Coração de Jesus por ocasião da Jornada de Oração pela Santificação do Clero.

Notícias de Viana
17 Jun. 2021 3 mins
Sacerdotes convidados a “tomar o segundo lugar”

Começando por referir que “no coração de Cristo surge uma nova visão sobre as coisas”, o padre jesuíta indicou, conforme afirma o Papa Francisco, que vivemos “mais uma época de mudança, do que uma mudança de época”, e que, neste espírito, existe uma distinção a fazer entre um tempo anterior, caracterizado como uma “sociedade da disciplina, que formula proibições e utiliza o verbo ‘dever’”, e o tempo atual em que cada um emerge “como empresário de si mesmo”. De facto, segundo o conferencista “não é a falta de moral o problema mais forte do nosso mundo; (…) o problema é que, tantas vezes, até aqueles que advogam pelo regresso identitário às raízes cristãs, o defendem como um princípio que implica a exclusão do outro”. 

Com efeito, sobre este pano de fundo e procurando estabelecer uma ponte entre a história de vida de S. Inácio de Loyola e o ministério sacerdotal, o Pe. Miguel Melo indicou cinco pontos de reflexão. Em primeiro lugar, começou por falar da ferida como oportunidade, por esta, tal como a de Inácio, não ser “apenas exterior”, mas comportar “um lastro espiritual mais fundo”, exortando os presbíteros a sentir no seu interior que as dificuldades da vida “podem apenas ser superadas, aprendendo a ‘encontrar a Deus’ dentro dessas feridas”.  

Em seguida, enunciou a necessidade de “exemplos de entrega em tempo de ferida” e de Maria como ícone afetivo, em especial, quando “as imagens imperfeitas de Deus não nos permitem vê-Lo mais próximo”. Nesta linha, da necessidade que Inácio de Loyola teve durante a sua convalescença, de conhecer um novo modo de agir, perguntou: “acompanhamos com admoestações ou com exemplos de serviço? E não só com o nosso exemplo de serviço, como se bastássemos para tocar os corações. Mas também apontando, como sacerdotes, para o exemplo de outros da nossa comunidade paroquial?».

Por último, apontou a importância de descobrir a alegria maior, de auscultar o grito interior profundo e de ajudar a meditar na vida de Cristo para se converter apostolicamente. “O que provavelmente é mais difícil de ajudar outros a reconhecer, é que as nossas frustrações interiores, a nossa dor, são dignas de ser amadas. A dor pode ser amada se a convertemos em oração, talvez mediante o grito”, considerando, ao terminar, que “a nossa ferida é sarada pela presença e pela figura de Cristo que nos extroverte (…), enviando a nossa fragilidade entusiasmada para a missão”.

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