A falta de trabalho e a inflação, são das principais causas que levam as pessoas, maioritariamente, imigrantes, a recorrer ao núcleo da Refood Viana do Castelo (o termo “refood”, em inglês, está associado à ideia de “realimentar”). De acordo com a coordenadora Sandra Pereira, atualmente a instituição garante refeições completas a cerca de 150 pessoas. No entanto, a fila de espera ultrapassa as 200.
O núcleo da Refood Viana do Castelo surgiu em 2017 com o intuito de “combate ao desperdício alimentar, procurando comida que sobra para (re)preparar e servir a quem mais precisa”. “Tudo piorou. Antes da pandemia, procuravam-nos, mas não havia tantas dificuldades como hoje. Uns não trabalham, e os que trabalham não ganham o suficiente para alimentar a família toda”, aponta, revelando que “o número de beneficiários aumentou” e que são maioritariamente estrangeiros, oriundos de Venezuela, Colômbia e Brasil. “Cerca de 90% são imigrantes. É uma realidade que não acontecia anteriormente”, acrescenta, contando que, “a maioria não trabalha”.
Sandra Pereira é voluntária há seis anos na Refood e lamenta “a falta de resposta” face ao número de pedidos. “Temos a capacidade de alimentar cerca de 150 pessoas. Mais do que isso já não está ao nosso alcance, por causa da logística, do número de voluntários e das fontes de alimento”, indica, explicando que dependem dos excedentes alimentares que os restaurantes, os hipermercados e as escolas não vendem. “No último mês, a lista de espera está em cerca de 230 pessoas”, lamenta, apelando ao apoio de outras instituições locais. “Há outras instituições na cidade que poderiam dar mais apoio. Não sei se são eles (imigrantes) que não procuram de forma correta ou se é a cidade que não está a ajudar da melhor maneira”, atira, salientando que são voluntários sem formação específica na área social. “Muitas pessoas nem têm um número de contribuinte, e precisam disso para estar cá”, atira, referindo que aconselham a contar com outras instituições. No entanto, a Refood não deixa completamente de os apoiar. “Temos excedentes de pão, fruta, iogurtes e sopa. Também sobra bastante e, por isso, o que tivermos, entregamos. Uma refeição completa é que não conseguimos garantir”, exemplifica.
Para conseguir alimentar mais pessoas, segundo a coordenadora, era preciso mais voluntários e um novo local… “maior e com mais espaço”. “Este espaço já não dá. Mesmo que tenhamos mais frigoríficos, e temos uma empresa que nos vai ajudar na compra de mais um, ou mesmo que tivéssemos de comprar mais alguns, não tínhamos espaço para os colocar. Não podemos ir para além do espaço que temos”, afirma, confidenciando a ambição de ter um espaço “melhor e maior”, e angariar novos voluntários e parceiros. “Ao longo destes seis anos, também crescemos. Temos o privilégio de muitas empresas serem nossas parceiras e, cada vez mais, somos procurados por outras que querem ajudar a vários níveis, desde com voluntários, recipientes e equipamentos”, enaltece, frisando: “E, o mais importante, é que temos ajudado a cidade a contribuir para o combate ao desperdício alimentar. Se não existíssemos, iam milhares de refeições para o lixo.”
Atualmente, o núcleo conta com cerca de 90 voluntários, que se dividem em dois turnos: 18h-20h e 20h-22h, e promove iniciativas junto da comunidade e de empresas, para dar a conhecer o projeto e angariar novos voluntários e parceiros. “Durante a semana, estamos abertos das 18h às 23h. Ao fim de semana, só fazemos recolhas”, explica, especificando que, desde a pandemia, distribuem os beneficiários entre segunda, quarta e sexta, e terça e quinta. “Fazemos esta divisão devido ao aglomerado de pessoas. Não temos comida todos os dias para as cerca de 150 pessoas, mas temos para dia sim e dia não”, acrescenta.
Sandra Pereira salienta, ainda, que “pelo combate ao desperdício alimentar, que contribui para a diminuição da poluição, vale sempre a pena abrir novos núcleos”. “Temos um novo núcleo em Vila Nova de Cerveira a funcionar. “Qualquer outro concelho que queira abrir, seria ótimo porque há sempre restaurantes e hipermercados que deitam bastante quantidade de comida fora”, apela, terminando: “Há também festas locais ou institucionais que nos contactam para levantar as sobras. E, isso é ótimo. Primeiro, porque não vão para o lixo e, depois, porque conseguimos alimentar mais pessoas”.
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