A Queda da Economia Alemã e os Seus Efeitos na União Europeia e Portugal em 2025

João Bompastor
25 Nov. 2024 4 mins

A Alemanha, maior economia da União Europeia (UE) e principal motor do bloco, atravessa uma crise prolongada, levantando preocupações sobre seus impactos nos demais países-membros.

Com o crescimento estagnado e enfrentando desafios estruturais e conjunturais, a economia alemã afeta não apenas a zona euro, mas também economias mais frágeis, como a de Portugal. Este texto examina os efeitos dessa crise para a UE e avalia o impacto na economia portuguesa em 2025, utilizando indicadores econômicos e cenários macroeconômicos como base.

Desenvolvimento Econômico Alemão: Um Resumo

A recessão alemã começou em 2023, com crescimento limitado a 0,2%. A situação piorou em 2024, e, em 2025, projeta-se estagnação ou uma leve contração. Os principais fatores incluem:

Crise Energética e Transição Verde: O aumento nos custos de energia, impulsionado pela guerra na Ucrânia, afeta a competitividade industrial da Alemanha. Apesar de necessária, a transição energética é cara no curto prazo.

Dificuldades na Indústria Automotiva: Representando 7% do PIB alemão, o setor enfrenta desafios para se adaptar à demanda por veículos elétricos, além de concorrência com mercados asiáticos.

Inflação e Juros Elevados: Com inflação média anual de 5% entre 2023 e 2024 e juros em 4% impostos pelo Banco Central Europeu (BCE), o consumo interno e os investimentos empresariais foram reduzidos.

Esses fatores abalaram a confiança de consumidores e empresas. Em 2024, o índice IFO caiu para 84 pontos, seu menor valor em uma década.

Impactos na União Europeia

O abrandamento alemão já é sentido pela UE, complicando a recuperação pós-pandemia.

Queda no Comércio Intraeuropeu: A Alemanha é o maior importador de bens da UE. A redução na demanda afeta diretamente exportadores como França, Itália, Espanha e Portugal. Exportações intraeuropeias devem crescer apenas 1,5% em 2025, contra 3% em 2022, segundo a Comissão Europeia.

Declínio no Investimento Privado: A incerteza econômica reduziu o investimento direto estrangeiro (IDE) em setores industriais na UE em 8%.

Redução no Crescimento da Zona Euro: O FMI revisou para baixo a previsão de crescimento do PIB da zona euro em 2025, reduzindo-a para 0,8%.

Além disso, a menor capacidade financeira da Alemanha, maior contribuinte do orçamento da UE, impactará programas estruturais e fundos de coesão que beneficiam países dependentes, como Portugal.

Efeitos na Economia Portuguesa em 2025

Sendo uma economia pequena e aberta, Portugal será afetado pela crise alemã em vários níveis:

Comércio Exterior – A Alemanha é o segundo maior destino das exportações portuguesas (11% do total em 2023). Com setores como automotivo, metalúrgico e agrícola em destaque, a queda na demanda alemã pode reduzir essas exportações em 5% a 8%, ampliando o déficit comercial português.

Turismo O turismo alemão representa 10% das estadias de estrangeiros em Portugal. Com a redução da renda disponível das famílias alemãs, espera-se uma queda no fluxo turístico, impactando o PIB turístico, que compõe 16% da economia nacional.

Investimento Estrangeiro Direto A Alemanha é um dos principais investidores estrangeiros em Portugal, sobretudo em energia e indústria. A baixa confiança empresarial alemã pode limitar novos investimentos, prejudicando a criação de empregos e a inovação.

Impacto no Crescimento Econômico Projeções para o crescimento do PIB português variam entre 1,2% (cenário pessimista) e 1,8% (cenário otimista) em 2025, muito abaixo da média de 2022 (6,7%). O desempenho dependerá da diversificação de mercados e da execução eficiente de fundos europeus, como o PRR.

Cenários Macroeconômicos para 2025

Cenário Pessimista

A crise alemã se agrava, com contração de 0,5% no PIB.; Exportações portuguesas para a Alemanha caem 8%; Turismo alemão em Portugal reduz-se em 10%.; PIB português cresce apenas 1,2%, com desemprego subindo para 7%.

Cenário Otimista

A economia alemã estabiliza, com crescimento de 0,5%; Portugal compensa a queda nas exportações para a Alemanha com aumento de vendas para EUA, Canadá e mercados emergentes; O turismo se mantém sólido, com diversificação de mercados; PIB português cresce 1,8%, com desemprego estabilizado em 6,5%.

Conclusão

A crise alemã traz desafios significativos para a UE, especialmente para Portugal. Contudo, a diversificação de mercados e a boa execução dos fundos estruturais podem mitigar os impactos negativos.

O desempenho de Portugal dependerá da resiliência empresarial, da atração de novos investimentos e da capacidade de aproveitar oportunidades trazidas pela transição digital e energética. Transformar esta crise em um motor de crescimento sustentável será o grande desafio.

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