Duncan MacDougall, físico e médico em Massachusetts (Estados Unidos da América do Norte), em 1907, pretendia avaliar o peso da alma (assim pensava), fazendo a diferença entre o antes e o depois da morte: avaliou-o em 21 gr. Quanto pesa a alma humana? O mundo invisível está de regresso. As questões recolocam-se num clima de revolução numérica, de nuvem virtual, de robótica, de Inteligência Artificial (Eric Salobir – Dieu et La Silicon Valley, BC, 2020, 229).
Quando se fala de alma, suscita-se uma dimensão interior que diz o ser na sua vertente espiritual, de inadequada expressão. Estamos perante uma realidade não suscetível de peso ou de medida. Não podemos reduzir a um valor quantitativo a solidariedade, a fraternidade, a compaixão, a amizade e o amor. Um conjunto, bem presente nos seres humanos, não suscetível de quantificação, nem de numerização.
A vida tem dimensões que não são suscetíveis nem de peso, nem de qualquer balança tendente à quantificação. Assim vejo a alma. O meu “eu” não se reduz a um conjunto de sinapses suscetíveis de todo um processo de quantificação do ser: este conjunto dá-me a sensação de poder ser comensurável, mas está muito mais inscrito no não dito que no dito, e nenhum algoritmo, por potente que seja, será o meu. Pode ser uma tentativa de me explicar, de ficar à minha sombra, mas eu fico a léguas, na minha forma de ser, de sentir e de sair fora dos BIG data que sobre mim foram elaborados. Das revoluções emergentes, estamos a léguas de distância.
Falar da alma implica sair para o mundo insensível, espiritual, meta corpóreo, metafísico no exato sentido terminológico. O que obriga a pensar sem as coordenadas a que estamos empiricamente obrigados. Trata-se de estarmos voltados a outra faceta da realidade. O ser espiritual que somos depende de um estado de partida e de uma dose de receção. O amor está na origem e constitui o selo do além. Um ser espiritual votado à imortalidade que tem o carimbo do intemporal. Por enquanto sob o cariz da temporalidade, limitado, sensível, sensacional. Depois pleno, impassível, claro, ágil e subtil. A graça prévia da criação é coroada na graça superabundante da redenção.
A alma, realidade que anuncia outro modo de viver, de sentir, ultrapassando as reduções espaciotemporais. Desenvolver este modo de viver é já possível para o homem que acredita, que confia que não foi votado a um destino mágico, cheio de balanços funestos, mas que acredita que foi criado por amor e por amor vive no encalço de ser em plenitude.
Que se faz, quando se pensa em quem nos deu a vida e se ausentou por instantes? – O mês de novembro é adequado para este exercício diário: cada um enfrenta o seu ser fugitivo e movediço, enquanto amanhece em pessoa espiritual que promete e garante imortalidade. Quando rezamos pelas almas, recordamos que Deus é plenitude. Alma e divino se entrelaçam. Por enquanto, “é nossa responsabilidade não ser passivos diante daquilo que brota. É nossa responsabilidade reconhecer que o mundo será como o fizermos” (289).
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