Até dia 10 de março, os docentes vão estar na rua para dar visibilidade às suas reivindicações para a próxima legislatura. As primeiras ações decorreram em Viana do Castelo e em Braga.
Entre as cerca de duas dezenas de docentes que se encontravam no passeio das Mordomas da Romaria, em frente à Câmara Municipal de Viana do Castelo, estavam duas educadoras de infância: Ema Barbosa e Maria Almeida.
Ema é de Ponte da Barca, mas está colocada em Monção. Deslocou-se à capital do Alto Minho por ainda estar “contratada”. “Já tirei o meu curso há 21 anos. Já era altura de nós, contratados, entrarmos para a carreira, uma vez que estamos sempre em contratos precários. Nunca sabemos se vai durar um, dois ou três meses”, lamentou, contando que, embora esteja já há dois meses a exercer, não sabe se vai ficar até ao final do ano letivo. “Espero bem que sejamos ouvidos. Se não nos juntarmos, ninguém nos vai ouvir e, por isso, temos de nos unir para promover e participar nestas ações”, considerou.
Maria Almeida é de Monção, e marcou presença para “lembrar os partidos que serão eleitos no dia 10 de março, que os professores vão continuar a lutar”. “A situação da carreira está muito má. Ainda assim, não estamos aqui só por isso. Estamos pela aposentação, pelos horários de trabalho e, essencialmente, pelos alunos, que são o futuro do nosso país”, afirmou, confidenciando a sua esperança no novo Governo. “Eu espero que eles nos ouçam, porque o futuro de Portugal depende dos professores. Não podemos ser um Portugal melhor se não tivermos uma boa educação, e com qualidade”, acrescentou.
A iniciativa é promovida pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e, em Viana do Castelo, reivindicaram-se os horários e as condições de trabalho”. “Estamos num período de promessas. As promessas têm de se transformar em compromissos, e os compromissos são para cumprir. Estamos atentos a isso. Todos os partidos políticos têm dito que vão recuperar o tempo de serviço dos professores. Entre o dizer e o cumprir vai um longo caminho, mas nós cá estaremos depois do dia 10 de março para exigir o cumprimento desses compromissos”, afirmou Francisco Gonçalves, subsecretário-geral da Fenprof, confidenciando que, depois de “uma série de inquéritos” realizados, “os professores trabalham mais que 50 horas por semana”. “Como é que isto sucede, se o que está na lei são as 35h? Isto acontece, porque o Ministério considera que se trata apenas da componente letiva. Há um conjunto de trabalho com alunos, desde apoios, preparação para exames, aulas de substituição e etc., que são empurrados para a componente não letiva e, depois, falta o tempo de descanso e lazer dos professores”, especificou, argumentando: “A resolução deste problema seria muito fácil. Todo o trabalho com os alunos seria considerado componente não-letiva. Ficariam, apenas, para a escola da componente não-letiva, as reuniões pedagógicas e o resto (componente não-letiva) seria para o trabalho não individual de preparação de atividades e correção de testes. No entanto, implicaria uma maior contratação de mais professores.”
O responsável apontou críticas ao investimento feito na educação por parte do Governo, afirmando que “o Ministério prefere fechar os olhos a esta situação”, permitindo que haja nas escolas “um conjunto de abusos” e, consequentemente, “os professores sentem-se mais sobrecarregados”. “Isto não é forma de resolver os problemas da educação. Aliás, contribui fortemente para o desgaste, o envelhecimento, e não torna a carreira mais atrativa. Conjuntamente a estes problemas, temos ainda a recuperação do tempo de serviço, os salários, a precariedade, a inexistência de apoios para os professores deslocados e não existir um regime de proteção de doença para os professores que estão em situação de incapacidade”, enumerou, referindo que, depois do dia 10 de março, vão “exigir” que “as promessas apresentadas sejam transformadas em compromissos para cumprir”. “Até lá, vamos chamar a atenção para esses problemas, e que os partidos políticos apresentem soluções para os problemas”, frisou, terminando: “Até ao final da década, mais de 30 mil professores vão aposentar-se. No início deste ano letivo, foram cerca de 600, os jovens professores recém-formados para fazer face a 3.500 aposentações, em 2023, e a quatro ou cinco mil este ano, porque há 1.048 professores que, nos próximos meses, vão aposentar-se.”
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