A Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESE-IPVC) recebeu a apresentação do livro “A Aliança do Pensar e do Fazer”, obra que resulta da dissertação de mestrado de Inês Marques, distinguida com o Prémio Editorial Cáritas Maria Engrácia Pinto Soares Correia. O evento juntou representantes da academia, da Cáritas Portuguesa e da Cáritas Diocesana de Viana do Castelo, bem como o Bispo de Viana do Castelo e o vice-presidente da autarquia, e destacou a relevância científica e social da investigação sobre a qualidade de vida das mulheres portuguesas com mais de 70 anos.
A diretora da ESE-IPVC, Carla Faria, abriu a sessão sublinhando que o trabalho “é sobre mulheres mais velhas, desenvolvido por duas mulheres mais jovens, revelando a resiliência feminina ao longo do tempo”. Para a responsável, compreender o envelhecimento “numa perspetiva de curso de vida” é crucial para a construção de políticas públicas mais justas.
Também a coordenadora do mestrado, professora Patrícia Bastos, destacou que a investigação se diferencia pela articulação entre dados quantitativos de grande escala e uma análise qualitativa aprofundada, oferecendo uma compreensão mais completa das trajetórias femininas de envelhecimento.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Manuel Vitorino, sublinhou o impacte do envelhecimento no território, lembrando que há freguesias onde “mais de 50% da população tem mais de 65 anos” e que muitas dessas pessoas “vivem isoladas, sobretudo mulheres viúvas”. “Conhecer as suas histórias, necessidades e fragilidades é fundamental para que os municípios e as instituições ajustem as respostas sociais”, afirmou, acrescentando que fenómenos como a solidão, o medo e a insegurança são realidades que precisam de ser combatidas com políticas adequadas.
A presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, elogiou o papel dos politécnicos na promoção de “investigações diferentes e corajosas” e afirmou que o prémio pretende “dar visibilidade ao conhecimento produzido e ligá-lo à intervenção social”. Para a responsável, estes trabalhos revelam “novos mundos e novas perspetivas” e reforçam o papel da academia como espaço de participação social.
Em representação da Cáritas Diocesana de Viana do Castelo, José Esteves evocou a figura de Maria Engrácia Pinto Soares Correia, professora e dirigente social, cujo legado inspira a distinção atribuída anualmente. “O protocolo, entre a ESE-IPVC, a Cáritas Diocesana e a Cáritas Portuguesa, procura incentivar o estudo das problemáticas sociais, o apoio à população vulnerável e a mobilização dos jovens para a prática da solidariedade”, explicou.
Na apresentação do estudo, Inês Marques explicou que avaliou a qualidade de vida das mulheres a partir da satisfação com diversas dimensões humanas, cruzando dados do projeto europeu SHARE com entrevistas a mulheres que cresceram antes do 25 de Abril. Os resultados mostram que as mulheres entre os 70 e os 79 anos apresentam melhores indicadores de qualidade de vida do que as com 80 ou mais anos, e que fatores como escolaridade, redes sociais, perceção de saúde e condições financeiras influenciam significativamente o bem-estar.
A análise demonstrou ainda que experiências da infância e da juventude, como condições socioeconómicas, saúde, migrações e relações com os pais, têm impacte duradouro e tornam-se especialmente determinantes a partir dos 80 anos.
O estudo identifica também o papel dos acontecimentos históricos na construção das trajetórias de vida, com destaque para a Revolução de 25 de Abril de 1974, referida pelas entrevistadas como um marco de transformação social e emancipação feminina.
Para a autora, estas conclusões reforçam que “o envelhecimento não começa aos 65 anos, mas é construído ao longo de toda a vida”, e que políticas públicas devem considerar estas desigualdades acumuladas.
O Bispo de Viana do Castelo, D. João Lavrador, também marcou presença na sessão, lembrando que o trabalho da Cáritas “não é apenas social-caritativo, mas cultural e humano”, e que iniciativas como esta permitem “dar luz aos que precisam e aos que fazem a diferença”.
A apresentação terminou com a entrega formal do prémio e o compromisso das três instituições em continuar a valorizar investigações que aproximem o conhecimento científico da intervenção social.
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