A questão do alojamento é, cada vez mais, um dos maiores problemas dos estudantes universitários deslocados. Com o objetivo de “mitigar a escassez de opções habitacionais para estudantes em diversas regiões do país”, o Governo, em colaboração com a Movijovem e o INATEL, vai disponibilizar, neste ano letivo, 709 camas, 59 são no Alto Minho.
Segundo os resultados do Inquérito às Condições Socioeconómicas e Académicas dos Estudantes do Ensino Superior, promovido e financiado pela Direção-Geral do Ensino Superior, o alojamento representa a fatia mais pesada nas contas mensais dos jovens. Por estas e outras razões, o antigo Governo lançou, no ano letivo 2022-2023, um programa, que está integrado no Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior.
O protocolo foi recentemente renovado, permitindo aos estudantes do ensino superior continuar a poder ficar alojados em Pousadas de Juventude.
A Movijovem, organismo de referência na promoção da mobilidade dos jovens e gerente das Pousadas de Juventude, informou que “o número de unidades vai passar de 19 para 22”. “O protocolo de renovação de colaboração entre o Governo, a Movijovem e o INATEL vai permitir ceder 673 camas das Pousadas de Juventude e 36 camas da rede do INATEL”, especifica a nota.
O programa ficará disponível em unidades de Aveiro, Abrantes, Almada, Beja, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Guimarães, Lisboa Centro, Lisboa Parque das Nações, Oeiras, Portimão, Portalegre, Porto, Santa Cruz, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Vila do Conde e Vila Nova de Cerveira.
“O nosso objetivo é que as pousadas não sejam meros dormitórios”
Relativamente ao Alto Minho, mais concretamente nas unidades de Ponte de Lima (16), Viana do Castelo (29) e Vila Nova de Cerveira (14), estarão disponíveis 59 camas. A informação foi avançada pelo vice-presidente da Movijovem, Tiago Rego, que confidenciou que a expectativa é que “as vagas sejam ocupadas na sua plenitude”.
Todo o processo é gerido pelos Serviços de Ação Social das universidades e dos institutos politécnicos. Em Viana do Castelo, segundo Tiago Rego, já havia esta prática e, por isso, este ano foi replicado a nível nacional para “facilitar o processo”. “Os Serviços de Ação Social têm a lista das vagas e, com isto, gerem e encaminham os estudantes para as respectivas Pousadas de Juventude”, explicou.
A candidatura é feita a cada ano letivo, uma vez que, fora desse período, as pousadas continuam a trabalhar normalmente, alojando turistas e, cada vez mais, peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela. “As camas disponíveis são em quartos duplos e múltiplos com acesso à casa de banho que, dependendo da unidade, pode ser privada ou partilhada em balneário”, especificou, esclarecendo que, “para criar comodidade”, o limite são dois estudantes por quarto. “Para além da limpeza dos quartos, oferecemos o pequeno almoço, roupa de banho e de cama”, acrescentou, destacando os outros espaços comuns e de convívio. “O nosso objetivo é que as pousadas não sejam meros dormitórios, mas que se tornem vivas. Ou seja, que os jovens tirem melhor proveito delas”, frisou.
O vice-presidente contou ainda que o feedback dos estudantes é “positivo”, sobretudo, pela sua centralidade. Nas unidades do Alto Minho, a de Ponte de Lima é exceção, mas “só são cerca de 500 metros”. “Conseguem ter acesso a tudo e, sendo cidades pequenas, não precisam de transporte para se deslocar”, exemplificou.
Aliado ao alojamento no ensino superior, com o objetivo de “ajudar na mobilidade”, a Movijovem disponibiliza ainda sete viagens gratuitas na CP e seis noites em Pousadas de Juventude. “Queremos que os jovens explorem o país de norte a sul, mostrando-lhes igualdade de oportunidades no acesso ao turismo e mobilidade”, vincou, dando nota que há muitos outros programas que oferecem vantagens aos jovens nas 43 pousadas que existem em Portugal Continental. “As pousadas também são um instrumento de coesão territorial. Isto é , jovens do interior podem vir ao litoral e vice-versa, garantindo assim a igualdade de oportunidades para a juventude portuguesa. Esta é uma das nossas missões prioritárias em que, de forma gratuita, os jovens passam a conhecer para que, no futuro, usem-nas com mais intensidade”, acrescentou.
“A comodidade e a capacidade de acolher os jovens são diferentes de outros sítios”
Atualmente, um dos desafios das Pousadas de Juventude é competir com hostels, hotéis low cost e até de alojamentos locais. No entanto, Tiago Rego tem “sérias dúvidas que consigam preços mais compatíveis” e ofereçam uma comodidade que premeia a mobilidade individual e de grupo. “Apesar de serem mais modernos, a comodidade e a capacidade de acolher os jovens são diferentes de outros sítios”, considerou, afirmando que as pousadas têm uma resposta “muito eficiente” para as camadas jovens. “Quando surgem as pousadas ainda não tínhamos o turismo tão massificado”, referiu, garantindo que as pousadas se mantêm “fiéis” às suas origens. Contudo, “têm-se adaptado” aos novos tempos.
“O Alto Minho é a zona do território com mais Pousadas de Juventude”
Para além de Ponte de Lima, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira, Melgaço também dispõe de uma Pousada da Juventude, mas está concessionada, através de um protocolo entre a Movijovem e a Câmara Municipal, à Escola Superior de Desporto e Lazer do Instituto Politécnico de Viana do Castelo para “apoiar a residência de estudantes”. “O Alto Minho, face à sua população, é a zona do território com mais Pousadas de Juventude”, afirmou, salientando que as pousadas surgiram para “promover a coesão territorial”. “Num programa promovido pela Movijovem, chegamos a oferecer a estadia a um grupo de alunos. Um dos alunos, com 11 anos à época, veio ter comigo e disse que nunca tinha visto um rio tão grande. Ele estava a referir-se ao mar. Expliquei-lhe e, todo contente, foi contar aos colegas e amigos da turma que tinha visto o mar. Fiquei surpreendido por um miúdo de 11 anos, de Braga, a escassos quilómetros do litoral, ainda não tinha visto o mar. E, por isso, a importância destas unidades é também perceber que há realidades que, por mais que se pensem esbatidas, ainda não estão”, contou, reconhecendo o impacto das pousadas desde que surgiram até aos dias de hoje.
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