Portugueses querem mais solidariedade global, mas exigem eficácia e transparência

Mais de metade dos portugueses (55%) nunca ouviu falar de “Coerência das Políticas para o Desenvolvimento” (CPD), revela um estudo encomendado pela Fundação Fé e Cooperação (FEC) e pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), realizado pela PITAGÓRICA. O projeto insere-se na iniciativa “Coerência – o Eixo do Desenvolvimento”, cofinanciada pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, e avaliou a perceção dos portugueses sobre o papel do país no desenvolvimento global, em áreas como segurança, migrações, alterações climáticas, comércio e segurança alimentar.

Micaela Barbosa
14 Ago. 2025 2 mins

Apesar do desconhecimento generalizado sobre o conceito, que consiste em alinhar políticas internas e externas para que não se contradigam e contribuam para o desenvolvimento sustentável, os inquiridos mostram predisposição para a solidariedade internacional: 54% consideram importante apoiar países em desenvolvimento, 66% defendem ajuda a países com pobreza extrema e 71% querem o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, apostando mais nas energias renováveis.

No campo das alterações climáticas, 67% acreditam que o fenómeno é real e agravado pela ação humana, enquanto 86% apoiam legislação que obrigue as empresas a provar que os seus produtos não violam direitos laborais ou ambientais. Contudo, apenas 8% acreditam plenamente que as políticas da União Europeia e dos Estados-membros eliminam a pobreza e as desigualdades.  “Portugal deve estar ao lado dos mais vulneráveis, não só por solidariedade, mas porque isso reforça a nossa posição internacional”, sublinha o relatório, acrescentando que “os dados mostram que existe vontade de ajudar, mas também exigência de resultados”.

A FEC e o IMVF divulgaram também o estudo “Podemos arriscar a incoerência?”, que alerta para riscos de políticas nacionais e europeias que contradizem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

O documento aponta “práticas comerciais injustas, políticas migratórias restritivas e acordos económicos desequilibrados” como exemplos de medidas que, embora tomadas no plano nacional ou europeu, “têm consequências diretas e desproporcionais em países em desenvolvimento”.

Segundo as organizações, “estas incoerências políticas prejudicam diretamente países como a Guiné-Bissau, onde o acesso a bens essenciais, mercados justos e financiamento sustentável depende de decisões tomadas nos centros de poder da Europa”. Para a FEC e o IMVF, “sem um alinhamento estrutural, o contributo de Portugal e da União Europeia para os ODS continuará a ser fragmentado e, em muitos casos, contraditório com os seus próprios discursos e compromissos internacionais”.

c/ Agência Ecclesia

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