O clero de Viana do Castelo, em fevereiro, participou numa ação de formação sobre pastoral juvenil, em Lamego. O Pe. Rui Alberto, sacerdote salesiano, foi o orientador. O Notícias de Viana pediu-lhe para responder às questões colocadas aos padres da Diocese.
Notícias de Viana (NdV): O que não sabemos sobre jovens?
Pe. Rui Alberto (PRA): No âmbito científico, tem crescido a qualidade e a quantidade de investigação sobre a realidade dos jovens em Portugal. Mas, uma boa parte desse conhecimento é mais determinado pela agenda ideológica dos investigadores ou das instituições do que pelas vivências reais dos jovens. Falta-nos perceber como é que os jovens encontram razões e estratégias de sobrevivência. Quais as boas práticas que levam alguns jovens a lidar com as carências de todo o tipo melhor do que outros? Sabemos pouco sobre a forma como os jovens elaboram a sua experiência religiosa e a busca de sentido. Em particular, dentro da Igreja, estamos muito desatentos à realidade dos jovens.
(NdV): À luz do Reino, qual a maior emergência que afeta os jovens?
(PRA): A falta de esperança e a perda de memória. Como sociedade, temos sido incapazes de transmitir às novas gerações “guiões” válidos e capazes de inspirar caminhos de maturação harmónicos. Em muitos âmbitos: no balanço profissionalidade-tempo livre, na estruturação das relações românticas, na resiliência à frustração…
(NdV): Qual o olhar habitual sobre os jovens, em Igreja?
(PRA): Basicamente, desatento. Ou saltitante: pontualmente, a propósito de algum evento, há um crescendo de atenção aos jovens. Mas é um olhar pouco objetivo, cheio de lugares-comuns (tanto positivos, como negativos). E com uma grande dificuldade de pensar a condição juvenil à luz da fé e dos critérios do Reino.
(NdV): Quais os novos lugares onde poderemos fazer acontecer o encontro com os jovens?
(PRA): Em primeiro lugar, os lugares da fragilidade, onde a vida é ameaçada na sua possibilidade, integridade e qualidade. Mas também os lugares onde os jovens se sentem vivos: o tempo livre, o voluntariado…
(NdV): Como qualificar os lugares “tradicionais” da Pastoral Juvenil? (PRA): Dando mais qualidade relacional. Com segurança. Com diálogo verdadeiro e estimulante. Com a criatividade de propor a fé em Jesus, o Único que salva, ancorando a narração evangélica naquilo que são as perguntas e os desafios do ser jovem hoje, em Portugal. Mas também dando mais formação a quem se ocupa deste campo. A própria qualidade da “conversa eclesial” sobre Pastoral Juvenil precisa urgentemente de um upgrade.
Fotografia: Agência ECCLESIA
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