Paulo Fernandes, 54 anos. Trabalha no desporto escolar desde 1999. Hoje em dia é o seu coordenador distrital. Ao Notícias de Viana explicou em que consiste e quais os maiores desafios que enfrenta.
Notícias de Viana (NdV): Como define desporto escolar?
Paulo Fernandes (PF): O desporto escolar tem como objetivo proporcionar a prática desportiva aos alunos, em várias escolas. Sendo um projeto nacional, dá a possibilidade de praticar modalidades a que, por norma, em alguns casos, não é possível ou não é fácil aceder. É de expressão voluntária. As escolas definem um projeto, definem as modalidades em que querem que a prática desportiva seja implementada, e os alunos aderem voluntariamente aos treinos e às competições que depois vamos realizar. Temos como grande suporte as várias federações que colaboram com o desporto escolar, para que o projeto seja de âmbito nacional e tenha uma implementação forte junto às escolas. (NdV): Referiu as federações. O desporto escolar é concorrente do desporto federativo? (PF): Nós queremos apresentá-lo de maneira diferente. Queremos apresentá-lo como uma base de recrutamento possível para depois, os que tiverem mais qualidade e mais aptidão, serem inseridos nos clubes federados. Mas o nosso grande objetivo é, em massa, produzir, junto das escolas, atividades que permitam aos alunos praticar desporto escolar. Sabemos que, em alguns casos, o desporto federado acaba por ser a etapa seguinte. Mas nós, desporto escolar, não insistimos, ou pelo menos não é um dos nossos grandes objetivos. O grande objetivo, mesmo, é a prática massiva de atividades desportivas e que os alunos possam experimentar.
(NdV): Então a prioridade é proporcionar a prática desportiva, independentemente do futuro desportivo?
(PF): Exato. O foco é a prática desportiva. O desporto escolar tem, neste momento, 36 modalidades e 5 mil inscritos. Por exemplo, em Viana do Castelo, as náuticas são sempre modalidades atrativas e fortes. Temos vários clubes e temos condições naturais para isso. Noutras zonas serão implementadas mais fortemente outros tipos de modalidades. Mas a preocupação é mesmo proporcionar a todos os alunos aquilo que, para nós, é fundamental: que eles consigam ter um leque de oportunidades e de modalidades, e que possam praticá-las. O objetivo é não fazer aquele trabalho de treino intensivo, mas ir rodando. Claro que, quando há uma atividade específica centrada numa modalidade, ou numa competição formal, há um trabalho mais concentrado, partindo do voluntarismo do próprio aluno. São duas coisas que acontecem em paralelo: um trabalho mais contínuo e, depois, um trabalho mais experimental. Temos vários outros projetos, em que eles podem saltar para o basquetebol, para o mega sprint. Mas, ainda ontem, tivemos uma atividade focada só no futebol feminino, por exemplo.
(NdV): E qual é o panorama do desporto escolar no Alto Minho?
(PF): Estamos presentes em todo o distrito e em todas as escolas. Claro que um agrupamento com mais alunos tem mais atividades, mas há muitas escolas que, apesar de não terem muitos alunos, têm riquíssimos projetos de envolvimento com a comunidade, devido à sua proximidade ao meio, que, para nós, também são importantes. Neste momento, temos projetos em que podemos envolver a comunidade, não só os alunos, mas inclusive o pessoal não docente da escola. Vamos sempre indo ao encontro daquilo que é o momento e daquilo que o momento nos pede. Vamos sempre tentando procurar criar novas rotinas, para chamar mais pessoas ao desporto escolar. Claro que, como tudo, é um projeto que envolve dinheiro e estamos sempre sujeitos àquilo que são as verbas que vêm e que são envolvidas no projeto do desporto escolar. Mas tentamos fazer mais e melhor
(NdV): Neste momento, que significa fazer mais e melhor?
(PF): O desporto escolar, inicialmente, tinha 20 e poucas modalidades; hoje temos 36. Vamos alargando projetos e envolvendo outras pessoas. Um exemplo são os Centros de Formação Desportiva, que são outro tipo de projetos dentro do desporto escolar, mais especializado numa determinada modalidade, mas aí já com o apoio dos clubes e com o apoio dos equipamentos e dos seus técnicos. Isso acontece, nomeadamente, nas náuticas. Em primeiro lugar, porque nem todos os professores têm capacidade para poder estar em algumas modalidades que não fazem parte do tronco da aprendizagem do seu curso. Por outro lado, porque exigem outras questões de segurança. Mas, ao longo dos anos, vamos envolvendo outras pessoas que estão interessadas, vamos também incluindo outros projetos, como o desporto escolar sobre rodas, que tem como objetivo retomar a rotina dos alunos em andar de bicicleta.
(NdV): Que dificuldades sentem?
(PF): A primeira dificuldade que temos é a questão da orçamentação de todo o projeto. Nós vivemos daquilo que são os recursos oriundos dos jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que nunca têm um valor estável. Outra dimensão prende-se com o facto de nós envolvermos professores. Claro que a classe passa, neste momento, por um período de mais insatisfação, que é notória em todo o país, mas, quando os professores depois entendem que estes projetos que envolvem os seus alunos são enriquecedores e são motivadores para eles, acabam por aderir e passar uns momentos muito agradáveis. Falando daquilo que é o dia-a-dia das escolas, a maior resistência que nós temos é o facto de as nossas atividades, os nossos quadros competitivos, os nossos jogos, se realizarem maioritariamente ao sábado. É algo que nós, ao longo dos anos, estamos a tentar que seja alterado, para que se possa realizar uma tarde de desporto escolar dentro da semana, para que esse momento seja mais agradável. Muitas vezes, chegamos a sábado de manhã e os pavilhões estão vazios, porque o desporto escolar ainda não tem adesão nem o acompanhamento do encarregado de educação que tem um jogo de um clube federado, em que olhamos para as bancadas de um pavilhão e vemos que ele está preenchido. No desporto escolar nem sempre é assim. E sabemos, antes de mais, que se for no dia de semana, nem que não sejam os alunos que estão na escola, a envolvência da competição é totalmente diferente.
(NdV): Porque estão vazias as bancadas no desporto escolar? (PF): O desporto escolar ainda não é considerado um fenómeno desportivo pelos encarregados de educação. Para eles, aquilo é um momento em que os miúdos vão praticar uma atividade um pouco lúdica, mas sem o peso da competição em si mesmo. Não temos aquela rivalidade, nem aqueles momentos que muitas vezes não são tão agradáveis em si mesmo, porque o desporto escolar tem uma vertente muito mais lúdica, em que os alunos se divertem. São alunos atletas, mas sem aquela carga de treino que se tem num clube.
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