O sol ajudava a aquecer a tarde fria de dezembro. Eram cerca das três da tarde quando as crianças começaram a juntar-se junto aos contentores do acampamento de etnia cigana, em Darque, Viana do Castelo. Esperavam sentadas, de pé, a correr de um lado para o outro. Esperavam, sobretudo, pelas prendas.
Ali vivem cerca de 60 famílias, à espera de uma mudança prometida há anos: as novas habitações que estão a ser construídas. Nos últimos tempos, dizem, “houve mais evolução”. “Disseram-nos que faltava pouco”, contaram alguns moradores. Até lá, é naquele espaço provisório que a vida acontece e onde o Natal chegou mais cedo.
A iniciativa repete-se desde 2013. O Secretariado Diocesano da Pastoral da Mobilidade Humana, em parceria com o Município de Viana do Castelo, voltou a organizar a habitual Festa de Natal para as crianças da comunidade. As prendas foram oferecidas pela Câmara Municipal. O lanche ficou a cargo da Diocese. “Já não precisamos de lhes dizer quem somos”, explicou Ana Costa, do Secretariado Diocesano da Mobilidade Humana. “Eles conhecem-nos. Alguns receberam aqui prendas em criança e, hoje, já vêm trazer os filhos”, acrescentou.
Ao todo, foram preparadas cerca de 50 prendas, com algumas a mais, para garantir que nenhuma criança ficava de fora. Este ano, a Câmara decidiu alargar a oferta até aos 16 anos.
Antes da distribuição, a ansiedade era visível. Depois, a alegria tomou conta do espaço. Uma jovem da comunidade vestiu-se de Pai Natal e começou a distribuir as prendas. Muitos abriram logo os presentes: puzzles, jogos, legos, bonecos, missangas. Grande parte das crianças rasgou o papel no momento, sem esperar. Ficaram “felizes”, “entusiasmadas”, mostravam uns aos outros o que tinham recebido.
Para algumas famílias, aquelas eram as únicas prendas de Natal. “Houve um ano em que nos disseram isso e marcou-nos muito”, recordou Ana, alertando que “aqui há situações de grande pobreza”. “Para estas crianças, o Natal são as prendas”, referiu.
Antes da entrega, veio o lanche. Simples e partilhado. Um momento de convívio entre crianças, famílias e voluntários. “Para nós também é sempre uma alegria muito grande”, assegurou Ana.
Naquela comunidade, o Natal vive-se de forma própria. O dia 24 é passado em família, em casal. O dia 25 é vivido em comunidade. E, naquele sábado de sol em Darque, foi vivido com sorrisos, embrulhos coloridos e a certeza de que, pelo menos ali e naquele dia, ninguém ficou esquecido.
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