Anteriores manifestos Quando chegou a Viana para repousar e fazer do convento de São Domingos a sua «morada perpétua», já era D. Frei Bartolomeu dos Mártires – figura ímpar na vida da Igreja, local e universal, e da sociedade em cuja salvação se comprometeu – um verdadeiro monumento vivo. A escolha que fez de viver […]
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Quando chegou a Viana para repousar e fazer do convento de São Domingos a sua «morada perpétua», já era D. Frei Bartolomeu dos Mártires – figura ímpar na vida da Igreja, local e universal, e da sociedade em cuja salvação se comprometeu – um verdadeiro monumento vivo.
A escolha que fez de viver e morrer e de ser sepultado em chão vianês como «puro frade», depois que lhe chegou o aviso de Roma, em 20 de Fevereiro de 1582, de que o papa Gregório XIII tinha aceitado a renunciação do arcebispado de Braga, foi mormente acolhida como um benefício e um privilégio para Viana, reconhecidamente consensual entre os seus regedores, nobreza e povo.
Tamanha dívida de gratidão só poderia ser paga com vários géneros de agradecimento. O primeiro de todos foi o respeito da «vontade pública e sabida» de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, expressa também por seu punho em testamento, de «enterrar-se entre seus religiosos», na igreja do Convento de São Domingos, «naquela casa que alevantara dos fundamentos, e em que se recolhera desd’o dia que renunciara o arcebispado, sem nunca sair mais dela».
Erguer-lhe «uma famosa estátua» – expressão de Frei Luís de Sousa, em carta de 7 de Maio de 1619, remetida à «Câmara e governo da notável vila de Viana e a toda a mais nobreza e povo dela», designando assim o túmulo para onde foram trasladados os restos mortais do «santo», na igreja de Santa Cruz – foi outro manifesto de gratidão, complementado com o que a tornaria uma «estátua animada» – a publicação das suas memórias, à custa daquela vila, naquele ano, consagradas pela escrita daquele autor n’«A Vida de D. Frei Bertolameu dos Mártires».
Em tais empresas empenhou-se devotadamente o povo de Viana, que, nas palavras de Frei Luís de Sousa, era «dotado de um particular zelo pelo bem de sua república e, no que toca ao comum, ainda que uns com outros andem desavindos, logo são unidos e conformes e, onde sentem ser necessário, sabem não perdoar a diligência, nem trabalho, nem despesa».
Necessário foi, após o falecimento de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, em 16 de Julho de 1590, defender dos estados eclesiásticos e seculares de Braga o que o seu outrora arcebispo havia deixado de materialmente santo à sua Viana, que, nas palavras de D. Armindo, proferidas quatrocentos anos depois, era «a última riqueza de que se pode dispor – os restos…».
O grande apreço pelas suas santas relíquias esteve na origem da emulação «entre as cabeças de dous povos tão ilustres como antigos» – Braga e Viana –, começada no seu falecimento e, mais tarde, repetida «com ânimos tão acesos e tão zelosos» ao trasladá-las para o novo túmulo.
Frei Luís de Sousa resumiu em poucas palavras a razão da porfia ou contenda, que classificou de «santa e piadosa» e «em que cada parte parecia ter bom direito»: «pretendiam os de Braga alcançar por vassalos o que os vianeses possuiam por vizinhos. Braga alegava vinte anos de conversação e serviço do Santo. Viana fundava-se no amor e vontade declarada do mesmo Santo, inda que com menos anos de vizinhança».
Além disso, «se Braga sintia por menoscabo seu ficar defraudada dos ossos de seu senhor, Viana tomava em caso de honra cuidar-se que poderia haver força que dentro em sua casa lhe fizesse largar nem um cabelo das santas relíquias de seu benfeitor».
(continua na próxima edição)
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