O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XXII

O ponto final A intransigência do Conselho Provincial em fazer depender da primeira as demais condições sujeitou o superior provincial a julgar prudentemente «desnecessário» transmitir por escrito o valor de uma avaliação feita entretanto à casa de Viana, preferindo fazê-lo num encontro pessoal com D. Armindo. De facto, em certo dia da semana depois do […]

Notícias de Viana
23 Abr. 2021 6 mins
O Seminário de Viana do Castelo: Prioridade da Identidade Diocesana Subsídios para a sua história – Parte XXII

O ponto final

A intransigência do Conselho Provincial em fazer depender da primeira as demais condições sujeitou o superior provincial a julgar prudentemente «desnecessário» transmitir por escrito o valor de uma avaliação feita entretanto à casa de Viana, preferindo fazê-lo num encontro pessoal com D. Armindo.

De facto, em certo dia da semana depois do dia 10 de Junho, o padre Manuel Durães Barbosa passou pela residência episcopal de D. Armindo, antes deste ser visitado pelo ecónomo provincial, e revelou-lhe que a tal avaliação da casa espiritana era superior a cem mil contos, mas, no caso de haver entendimento das partes, o preço poderia ser outro.

A notícia da passagem do provincial foi registada na mesma folha em que D. Armindo dactilografou as notas da reunião com o ecónomo provincial – «imediatamente após o encontro» –, no dia 25 de Junho de 1984, dois dias antes de terminar o prazo de 90 dias, definido pelo Conselho Provincial para encerrar as conversações com a Diocese de Viana do Castelo. 

De acordo com D. Armindo, o ecónomo da Congregação do Espírito Santo, o padre Abel Moreira Dias, começou por dizer «que não fora possível encontrar qualquer casa que lhes servisse» e «que a maior parte dos membros da Congregação era contra a negociação com a Diocese, pois não queriam prescindir desta residência». 

Neste sentido, acrescentou «que já tinham falado com a Câmara, com o GAT, etc. e que já tinham pensado no tipo de obras a realizar, nas quais gastariam uns 50.000.000$00». Mais, «que só por alturas da Páscoa de 1985 estaria o projecto em condições de ser submetido a aprovação». Mas, «que, ainda assim, se houvesse condições para a cedência, o Conselho da Congregação estava disposto a andar por diante» no diálogo com a Diocese de Viana do Castelo. 

A respeito da avaliação do «Seminário das Ursulinas», D. Armindo anotou o seguinte: «a pergunta minha sobre a avaliação, disse que era superior a 126.000.000$00 (E perguntou-me se o Provincial não me tinha entregue esta avaliação…)».

À guisa de conclusão, assentou ainda: «e foi nestes termos de nada resolvido e de ponto final que nos despedimos, não sem falarmos de outras hipóteses que a Diocese teria que enfrentar». 

O lenitivo

Em 28 de Junho de 1984, o Conselho Provincial reuniu em Coimbra e tomou conhecimento, através do superior e do ecónomo, de que o impasse com a Diocese de Viana do Castelo não foi desbloqueado. Decidiu então restaurar a casa de Viana, tendo em vista a continuação de uma comunidade espiritana, onde estaria presente um responsável pela animação missionária e pastoral das vocações.

A decisão foi comunicada por escrito a D. Armindo pelo padre Manuel Durães Barbosa, no dia 3 de Julho de 1984, no qual expressou votos para que a Diocese de Viana do Castelo encontrasse «uma solução rápida e eficiente» para a sua «legítima aspiração – a criação do Seminário Menor» – e, em nome dos espiritanos nela residentes, manifestou disponibilidade para «colaborar em todos os aspectos da vida eclesial», salvaguardando «o carisma de missionários para o exterior».

No Conselho Provincial realizado entre 15 e 16 de Novembro de 1984 foi decidido que, uma vez remodelada a casa de Viana, ela serviria para lugar de repouso de missionários e nela se procuraria inserir um espaço físico independente, que funcionaria como centro de animação missionária e vocacional.

Curiosamente, as obras de reabilitação do edifício começaram em 1 de Setembro de 1986, a cargo da mesma empresa – «Empreiteiros Casais», de António Fernandes da Silva & Irmãos, de Braga – a quem seria adjudicada a primeira fase de construção do Seminário Diocesano, em 9 de Novembro de 1990.

Na edição de 4 de Dezembro de 1986 do jornal diocesano «Notícias de Viana», Lima Barreto realçou o significado do empreendimento feito pelos espiritanos, considerando que, por um lado, iria permitir «a criação de um Centro Residêncial para os mais velhos e cansados missionários, esses também ligados sentimentalmente a esta terra, pois foi dela que partiram como arautos do evangelho e da justiça social».

Por outro, seria uma obra «voltada para a generosidade dos jovens», com espaços para «encontros, colóquios, retiros, grupos de animação e outras actividades voltadas para a dinamização do ideal missionário. Seria até bem aceite e da melhor eficácia, a criação de um Lar para Estudantes».

Ainda com algumas obras por concluir, a casa espiritana foi inaugurada em 16 de Maio de 1988, tendo na ocasião discursado o padre Abel Moreira Dias, que aludiu às pretéritas negociações com a Diocese de Viana do Castelo.

De acordo com o ecónomo provincial, a cedência do edifício para Seminário Diocesano não foi possível concretizar-se «por se não ter conseguido encontrar na cidade de Viana do Castelo uma casa adaptada à instalação da comunidade espiritana que teria de abandonar o seminário». Mas, não só. 

Conforme revelou o padre Abel Dias no acto inaugural, «já no fim da fase final dessas negociações, ao analisar o dossier documental desta casa, viemos a descobrir uma cláusula existente na escritura de doação, pela qual no dia em que este seminário deixasse de estar ao serviço da Congregação, reverteria novamente a favor do doador ou dos seus herdeiros, descendentes por linha de primogenitura».

Ainda se tentou contornar a situação e «furar as malhas da lei». Na verdade, «conseguimos furar a primeira mas caímos na segunda», de tal modo que a transferência para a Diocese tornou-se «totalmente inviável», ainda que tivesse havido acordo, «após haver encontrado uma casa que nos substituísse esta».

Assim sendo, «para todos aqueles (dentro ou fora da Congregação, dentro ou fora dos meios eclesiásticos) que sonharam com tal solução, aliás justa, que este facto lhes sirva ao menos de lenitivo ao seu desgosto».

(continua na próxima edição)

Tags Diocese

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