A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, anunciou este mês a criação de um grupo de trabalho devido ao fecho de várias salas de cinema no país. Na sequência desse anúncio, o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Luís Nobre, remeteu um ofício à ministra a solicitar que o município fosse incluído nesse grupo. O pedido surge após as notícias que dão conta da intenção da administração do Estação Viana Shopping em proceder à desafetação das quatro salas de cinema do centro comercial.
Também em Braga foram feitos pedidos de desafetação de salas, e há já distritos inteiros, como Beja, Bragança e Portalegre, onde, atualmente, não existe exibição comercial de cinema regular.
Em várias cidades, as luzes das salas apagaram-se de vez. O Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) revelou que, em 2024, o número de espectadores nas salas portuguesas caiu 3,8% face ao ano anterior, ficando pelos 11,8 milhões. São números que preocupam, pois revelam uma tendência de afastamento progressivo do público.
Mas afinal, o que está a levar tantos cinemas a fechar portas?
Uma das respostas mais evidentes são as plataformas de streaming. Serviços como a Netflix, HBO Max, Disney+, Amazon Prime Video, entre outros, explodiram em popularidade e oferecem uma alternativa cómoda e acessível, alterando profundamente os hábitos de consumo de cinema e séries.
Para quem não está tão familiarizado com estas tecnologias, as plataformas de streaming são, em traços simples, os “videoclubes modernos”. Quem se recordar de alugar cassetes VHS nos videoclubes da cidade pode ver aqui uma evolução desse conceito. Hoje, já não é preciso sair de casa para escolher um filme: basta ligar a televisão, o computador, o tablet ou até o telemóvel, entrar numa aplicação, escolher o que se quer ver e carregar em play. O vídeo é transmitido através da internet e pode ser visto em qualquer lugar, a qualquer hora.
O que antes era “ir ao cinema, comprar o bilhete, sentar-se na sala e ver o filme” é agora “ligar a televisão, abrir uma aplicação, escolher o filme e vê-lo no conforto do sofá”.
Normalmente é paga uma subscrição mensal, que varia entre 6 e 20 euros, conforme o serviço e o plano escolhido e, estas plataformas já não se limitam a filmes e séries: hoje incluem também programas especiais e até desporto em direto. Um exemplo recente é a Liga dos Campeões Feminina da UEFA, transmitida em direto para toda a Europa através do Disney+, sem custos adicionais. Isto mostra bem como estas plataformas alargaram o seu leque de oferta. Já não são apenas “filmes e séries”, mas sim “entretenimento total”.
Face a tudo isto, surge a pergunta inevitável: o que será do cinema tradicional?
As salas tentam resistir com experiências diferenciadas, som e imagem de alta qualidade, eventos especiais, bilhetes mais acessíveis em certos dias, mas, a verdade é que a ida ao cinema, enquanto ritual social e cultural, parece estar a perder força.
Estaremos a assistir ao fim do cinema como o conhecemos ou apenas à transformação inevitável de uma arte que sempre soube adaptar-se aos tempos?
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