O desaparecimento do comércio local

De Carreço a Viana do Castelo há, no mínimo, três grandes superfícies que “prejudicam” o negócio ao comércio local. A esta realidade acresce a inflação que diminuiu o poder de compra. “Os preços subiram e as pessoas são mais cautelosas nas compras que fazem”, confirmou uma comerciante, reiterando: “Este é o nosso ganha-pão e, por isso, temos de aguentar como podemos.”

Notícias de Viana
24 Abr. 2023 4 mins
O desaparecimento do comércio local

Um outro comerciante vai mais longe e lamenta a falta de ajuda por parte da Câmara Municipal de Viana do Castelo. “O comércio local está péssimo. O movimento é fraco e, todos os dias, temos a polícia a multar aqui fora da porta. Isto são coisas que dificultam o nosso trabalho”, afirmou, exemplificando: “São capazes de organizar uma corrida para as 18h00, na cidade e, às 07h00, vedam isto tudo para a corrida.” 

Por volta das 22h00 vai despejar o lixo e “não anda ninguém nas ruas”. “O centro da cidade está cada vez mais vazio. À volta, está tudo cheio de hipermercados. Só da Areosa ao campo de futebol há três hipermercados e, de Darque à cidade, há mais uns quantos”, constatou, acrescentando que “as pessoas não vêm porque estão servidas pelas grandes superfícies”. “Depois é o que se vê, os prédios todos abandonados. Sem ninguém. E, portanto, o pequeno comércio perde”, afirmou. 

Já sobre a subida de preços, o comerciante não sentiu nenhuma alteração porque não mexeu nos seus preços. “Os preços dos meus produtos estão como estavam. Não vendo barato, mas vendo com qualidade”, afirmou, frisando que as pessoas reconhecem o seu trabalho, “mas não vêm”. 

Os preços e a inflação 

Este mês, o Observador noticiou que “a Proteste analisou um cabaz com 30 produtos e concluiu que os produtos de marca branca aumentaram mais que os da marca do fabricante, e que ambos aumentaram mais do que a inflação”. Um outro estudo, divulgado pela HelloSafe, mostrou que Viana do Castelo tem o índice mais elevado de despesas alimentares do país, em que as despesas de supermercado representam 32,4% do orçamento familiar mensal e os restaurantes, 11,3%. 

O Notícias de Viana percorreu o centro histórico e deslocou-se a uma grande superfície, uma mercearia, um talho e uma peixaria (congelados) para comparar os preços dos produtos das suas respetivas marcas. 

O peixe e a carne continuam a ser os produtos mais caros. No entanto, são mais baratos numa grande superfície do que num talho ou peixaria. Por exemplo, enquanto uma costela de porco custa 5,19€/kg numa grande superfície, no talho, custa 19,90€/kg. 

A lista continua. O preço por quilograma de frutas e legumes não difere muito, assim como no caso dos enchidos. Já no que toca a produtos de higiene e limpeza, os preços são altos. Os cereais, massas, arroz, azeite, óleo, vinagre e enlatados (salsichas, atum e feijão) não excedem (total por categoria) os 13€. 

Nas bebidas, a mercearia tem preços mais caros, mas a água faz uma diferença de 0,40€. Enquanto, na grande superfície, um garrafão de 5 litros da marca Luso custa 1,99€, na mercearia custa 1,19€. Os laticínios, desde leite, ovos, iogurtes e manteiga, sofreram uma subida de preços e, embora a mercearia apresente preços mais baratos, no que toca à manteiga, a conversa é outra. Numa grande superfície, o preço do quilograma é de 9,46€ e, na mercearia, é de 11,56€. 

AEVC e os apoios ao comércio local 

Manuel Cunha Júnior, presidente da Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC), reconhece que “o aumento dos juros e a inflação afetam diretamente o poder de compra” e, consequentemente, a faturação das empresas e, “ainda de forma mais direta”, o “comércio local”. 

Ao contrário dos comerciantes, o responsável admite que, “nas últimas três décadas, houve um grande investimento de grandes superfícies” e “uma remodelação da tipologia de investimento e público-alvo, com a redução de espaço útil das empresas e uma maior proliferação pelas principais freguesias dos concelhos” que “cria uma concorrência desleal com o comércio local, frente ao poder de negociação e valores operados à sua escala”. “É possível que o comércio local possa coexistir com estas empresas. A metodologia de operação deve ser voltada para a localidade de abrangência e a proximidade com o cliente, serviços mais personalizados para a atratividade”, frisou.

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