Com o escalar das tensões geopolíticas, a União Europeia tem sentido cada vez mais a pressão para garantir a sua autonomia. Esta realidade tem forçado os líderes europeus a repensarem urgentemente a sua dependência externa em vários setores como a energia, a defesa e as infraestruturas digitais.
Olhando apenas para o setor tecnológico, num simples exercício, observemos o nosso dia a dia:
Logo ao acordar, olhamos para o nosso telemóvel, provavelmente um iPhone (Estados Unidos da América), um Samsung (Coreia do Sul) ou talvez um Xiaomi, OPPO ou Vivo (todos provenientes da China). Estas marcas, em conjunto, dominam cerca de 70% do mercado global.
A única marca europeia com alguma presença internacional é a Nokia, onde é estimado que detenha menos de 1% do mercado global e que desde 2016 já não fabrica telemóveis. Os mesmos são concebidos e comercializados pela HMD Global (marca também finlandesa).
Verificamos o nosso email, seja no Gmail ou no Outlook (ambos provenientes dos Estados Unidos da América). Trabalhamos em computadores cujo o sistema operativo é MacOS (Apple, EUA) ou Windows (Microsoft, EUA), que juntos representam cerca de 90% do mercado global. Alguns utilizadores mais técnicos podem utilizar o Linux, criado pelo finlandês Linus Torvalds (uma exceção europeia) mas, mesmo este sistema aberto depende significativamente de contribuições de empresas americanas como IBM ou a Google.
Guardamos os nossos dados e documentos em servidores geridos por gigantes tecnológicos norte-americanos (Google, Amazon, Microsoft) e comunicamos através de plataformas cujas regras e algoritmos são definidos a milhares de quilómetros das nossas fronteiras.
É realmente um desafio lembrarmo-nos de uma plataforma tecnológica europeia.
A Europa, berço de revoluções industriais e científicas, parece ter ficado à margem da revolução digital. Perdemos o comboio? Ou será que nem nos esforçamos para chegar à estação?
É claro que existem algumas exceções. O Spotify, nasceu na Suécia e tornou-se líder no streaming de música. O Revolut, nasceu no Reino Unido e tornou-se uma referência na banca digital. Mas se olharmos para o nosso dia a dia, estas são exceções, não a regra.
Até no setor automóvel, onde sempre fomos uma referência, a Tesla alcançou uma valorização extraordinária que supera individualmente várias marcas europeias tradicionais, e, para piorar este cenário, a China começa a dominar a nova geração de carros elétricos.
Temos ilhas de inovação, mas falta-nos a coesão.
Se dependemos dos dispositivos, do software, dos servidores, das redes e dos algoritmos de outras potências, o que nos resta de soberania efectiva?
Resta saber qual será a resposta da Europa a este desafio. Seguiremos o caminho da dependência ou ousaremos traçar a nossa própria rota de inovação?
Não se trata apenas de orgulho continental, mas de construir um futuro onde tenhamos uma voz ativa. Afinal, quem melhor do que nós próprios para criar soluções que servem verdadeiramente os valores e os interesses europeus?
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