Não matarás

Elisabete Pinto
15 Jan. 2025 3 mins
Teatro e Comunidade

Todos conhecemos perfeitamente. Crentes e não crentes. É um dos Dez Mandamentos. Talvez, o mais exato. Direto, fácil de perceber. Sem margem para dúvidas. Não matarás. Mas, ele matou-se. Suicídio, chamamos a esse ato tão terrível, o qual, na Natureza, só os seres humanos somos capazes de fazer. Todas as pessoas se confrontam com pensamentos suicidas, pelo menos uma vez na vida.

Felizmente, a grande maioria nunca chega a encarar essa possibilidade de forma séria. Mas, os dados científicos demonstram que, apenas em Portugal, em média, todos os dias se perdem duas vidas para esta doença. É assim que o considero. Uma doença com muitas causas e sintomas, tantas vezes, indetetáveis antes de ser tarde demais.

Como desejo que ele pudesse ter sido ajudado a tempo de evitar a morte… Era uma pessoa conhecida, muito querida pela sua comunidade e muito amada pela sua família. Não resistiu ao sofrimento, que ninguém suspeitava que pudesse ser tão grande. Mais uma jovem vida perdida no melhor da idade.

Perante a desgraça, para quem fica, o que se faz? Como confortar os familiares e amigos? Como enfrentarmos, cada um de nós, os ritos fúnebres de alguém que tirou a própria vida? Como encarar os nossos próprios dilemas morais, que nos confrontam com os valores com que fomos educados, nomeadamente, os católicos, que nos dizem que “Não matarás”? A resposta, acredito, pode ser e foi dada a todas as pessoas que se reuniram no piedoso ato, pelo sacerdote a quem coube a responsabilidade, certamente também tão difícil de assumir, de dirigir as exéquias.

Numa homília plena de respeito, a empatia perante a dor de quem perdeu um ente amado, a validação das dúvidas que estes dramas provocam, e a humildade perante os limites da compreensão humana, ajudaram a reconciliar a comunidade de familiares e amigos com a dor da sua perda e com o sentimento de culpa que sempre se sente.

Perdeu-se mais uma vida para uma doença que é das principais causas de morte entre os jovens, em todo o mundo. Cujo desfecho é fatal e cujos sintomas podem ser tantos e tão difíceis de detetar e tratar. Mas, temos de continuar a prevenir, a educar, a ajudar tantas pessoas que, afinal, somos todos nós, a tratar as dores da alma que nos fazem, em dado momento, considerar tal opção. Porque o suicídio nunca é uma opção. Antes, é a ausência de opções.

Temos que conseguir mostrar opções a quem, independentemente das razões, deixou de as ver. Neste mundo desafiador e extremo em que vivemos, não nos esqueçamos de continuar a olhar para todos aqueles que, na nossa limitação, apesar de tudo, podemos tentar ajudar. Só assim podemos prosseguir. Com esperança, humildade e fé.

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