Não há almoços grátis

Em bom português, a expressão “Não há almoços grátis” significa que tudo tem um preço e que quando nos deparamos com algo “grátis” temos de ter certeza de que alguém ou nós mesmos estamos a “pagar a conta”. Diz-se que, pelos Estados Unidos, era bastante comum o seguinte anúncio nas fachadas de tabernas: “Free Lunch” […]

Notícias de Viana
16 Nov. 2023 4 mins
Não há almoços grátis

Em bom português, a expressão “Não há almoços grátis” significa que tudo tem um preço e que quando nos deparamos com algo “grátis” temos de ter certeza de que alguém ou nós mesmos estamos a “pagar a conta”. Diz-se que, pelos Estados Unidos, era bastante comum o seguinte anúncio nas fachadas de tabernas: “Free Lunch” (“Almoço Grátis”, em tradução literal). Pagando pelo menos uma bebida, era possível desfrutar à vontade da comida oferecida nos balcões: ovos cozidos e aperitivos, como pães, bolachas de água e sal e queijos. Parecia uma alternativa solidária e boa para a carteira das pessoas mas dois fatores faziam o “barato sair caro” pois a comida era bastante salgada e os lugares que ofereciam o “almoço grátis” eram especialistas em bebidas. Portanto, o sal dos aperitivos despertava sede e, na prática, acabava-se por pagar porque aqueles que gastavam bastante com as bebidas compensavam o suposto “almoço grátis”. Quem nunca…

Assim como mostra a história dos clientes das tabernas que caíam na armadilha do free lunch, a frase “Não existe almoço grátis” é usada para mostrar que nada na vida é de graça, por mais fácil que possa parecer. E não estou a falar apenas em termos financeiros. Envolve, na verdade, qualquer escolha, que tem, de forma explícita ou implícita, um custo por trás.

Vamos a um exemplo mais atual para entender melhor a frase. Hoje em dia, na realidade política e social que abalou o país nos últimos dias, as tomadas de decisão quer dos políticos que selecionaram maus companheiros de viagem quer do povo que selecionou aqueles que nos iriam governar, têm contrapartidas. É incrível que na cabeça de muitas pessoas possa ainda existir a ideia de “almoço grátis”! É uma expressão que, basicamente, serve também como um alerta para as pessoas lerem nas entrelinhas as contrapartidas de cada situação. Quer dizer: nada é de graça neste mundo. E se é de graça, não o é por muito tempo. No nosso dia-a-dia, há exemplos para todos os gostos: as (ex)scut, o acesso tendencialmente gratuito aos cuidados de saúde e à educação, as férias e os carros a preços de saldo, etc., etc., etc. Tudo parecia poder eternizar-se à borla. Era mentira. Se gastarmos os fundos que vão chegar como se houvesse “almoços grátis” é quase certo que na próxima crise ainda mais portugueses não terão o suficiente para pagarem o pequeno-almoço quanto mais as refeições principais do dia.

A Bíblia também nos dá bons exemplos.

Recordam-se da passagem onde Judas concorda em trair Jesus e “vende-se” por “apenas” trinta moedas de prata? Isto era um “almoço grátis” que o preço a pagar era elevadíssimo, levando-se a enforcar e, mais tarde, resultando na morte de Jesus. Outra passagem bíblica que nos mostra o simbolismo desta expressão é a parábola do homem muito rico que perguntou a Jesus o que ele deveria fazer para ter direito ao Reino dos Céus. Jesus respondeu-lhe: «Venda tudo, dê aos mais pobres e siga-me.» 

Se pensarmos bem, tudo o que é oferecido temos tendência a desvalorizar – não custa nada! – Só valorizamos quando “nos sai do pêlo”. Já se for caro, é porque é bom. Ainda vivemos numa época excessivamente mercantil onde a lei do dinheiro impera. Talvez a natureza humana não esteja preparada para, de facto, haver “almoços grátis” mas isso faria toda a diferença no Mundo que precisa de voluntariado, gratuitidade nos gestos e nas ações. Enquanto isso não acontece, só nos resta “pedir a conta com número de contribuinte” para que não haja dúvidas.

Portanto, seja cauteloso e considere as implicações antes de aceitar algo que parece ser totalmente gratuito. Desconfie e lembre-se que, «se alguém oferece “almoço grátis”, na verdade quem estará pagando a conta, muito, muito salgada, é você»!

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