Nos anos 70, entre 1975 e 1979, a BBC, e depois a RTP, transmitiram a série Faulty Towers. Sybil e Basil eram os proprietários de um pequeno e familiar hotel; Polly e Manoel, os empregados (naquele tempo não eram colaboradores…). Basil, na sua ânsia de ascensão social, assim como Sybil, protagonizava trapalhices hilariantes. Polly era a mais sensata. Mas é Manoel que nos interessa. Típico imigrante catalão, com um domínio paupérrimo da língua inglesa, procurava desempenhar o seu trabalho o melhor que podia, dizia com orgulho: I´m Manoel. I´m from Barcelona! Num dos episódios, Basil arranja uma trapalhada que, como de costume, tenta ocultar de Sybil, envolvendo Manoel, que não devia desvendar a tramoia. Assim, Manoel respondia a tudo com I say nothing!
Também eu, perante “episódios” reais que vão sucedendo no país e no nosso burgo, deveria dizer: I say nothing! Mas, não consigo. NADA!
Tivemos um acontecimento importantíssimo, memorável – as eleições num clube de futebol, ainda por cima com 2.ª volta. Horas a fio de imagens, comentários, entrevistas, sondagens. E quem não estava interessado, que podia fazer? NADA! E a felicidade de quem esteve duas ou três horas numa bicha (sou do distrito do Porto, não tenho cultura telenovelesca, logo, contra essa palavra não tenho NADA!). Se fosse para votar numas eleições de que depende o futuro de todos, não podiam. Fico admirada? NADA! Bem revelador do ponto a que chegamos.
Envia-se um mail para um organismo oficial, e com raríssimas e honrosas excepções, a resposta é NADA! Nem sabemos se receberam a mensagem.
No último dia 5 deste mês, na Praça da República, um espectáculo deplorável de sadismo e prepotência. Uma enorme falta de imaginação, de criatividade, de originalidade. Uma parolada a que chamam Praxe. O mais triste é que estes que estão a ser humilhados e maltratados irão fazer o mesmo logo que possam. As autoridades, incluindo as académicas, os pais, que não os souberam educar, e os basbaques que assistem embasbacados e estupidificados, o que fazem? NADA!
Há uns “senhores” que debitam falsidades nos meios de comunicação, que nunca mais retiram os cartazes das últimas eleições, colocam cartazes a destilar ódio, e o que fazemos? NADA!
O que vemos quando estamos sentados numa paragem à espera do autocarro? NADA! (A publicidade impede, em certos lugares, a visão. Viana do Castelo é muito original – é a única que conheço, e conheço bastantes, que tem publicidade nos dois lados das paragens. Há anos, e a vários intervenientes, que o digo).
Li que, nesta quadra, quando fizermos compras nas lojas aderentes, receberemos um coração que pode ser utilizado descontado em compras futuras. Boa ideia! E quem não dominar o uso das app? NADA! Essa aplicação, numa cidade portuguesa, chama-se VIANA POCKET! Modernaço, mas possidónio, para ser simpática. A defesa da língua portuguesa? NADA!
Ainda a digerir esta pérola, deparo com o Projeto Atlantic Sunset. Nem quis saber o que era! Protecção da língua portuguesa, NADA! Espanto-me? NADA!
Os novos autocarros, bonitos e parece que a servir muito bem, não escapam à epidemia. Quando o veículo trava, acende uma informação – brake! – na parte traseira. Santo Deus! Ninguém consegue alterar para bom português? NADA! Já pensaram nisso? Era mais chic que estivesse em chinês… há mais indicações também em inglês. Língua portuguesa, símbolo nacional protegido? NADA!
Ainda por cima, num estudo recente, é nesta zona que pior se fala inglês…Será uma campanha para melhorar o desempenho deste idioma? Pelo menos sunset já está bem enraizado…
SUGESTÕES
Ler – Novas fases da lua: diário (2017-2021), João de Melo
(Se ainda não o fez, leia, também, o velhinho Gente feliz com lágrimas)
Ver – Esta língua que nos une, de Marco Neves, RTP1, integrado no programa Portugal em rede, depois das 18 h.
Nota de regozijo – enviado um mail para os SMVC, resposta quase imediata a acusar a recepção e a análise do problema, que foi resolvido pouco mais de 24 h depois.
(Escrito de acordo com a ortografia antiga)**
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