Manuel Pimenta: “Os livros que aqui estão são obras de arte”

As portas estão abertas todos os dias. Das 09h00 às 19h00, qualquer pessoa pode entrar na Livrearia, que se situa no centro histórico de Ponte de Lima, para ler ou comprar um livro. O espaço é de Manuel Pimenta, mas não há funcionários, nem caixa registadora. Os livros pagam-se nas lojas vizinhas.

Notícias de Viana
5 Jan. 2024 3 mins
Manuel Pimenta: “Os livros que aqui estão são obras de arte”

Colocar os livros acessíveis a todos num “tributo à palavra, aos livros e aos seus autores”. É esta a linha de pensamento do farmacêutico de 49 anos, que é natural de Viana do Castelo mas que vive em Ponte de Lima, “há muitos anos”.  “A loja pertencia ao meu avô e ficou livre. Nisto, questionámos o que iríamos fazer, até que realizei um sonho já antigo: abrir uma livraria”, explicou, recordando que a ideia ficou para trás com o tempo, embora sempre tenha sentido que a farmácia não o iria deixar completamente realizado. “Pertenci a uma associação cultural durante alguns anos, e deu-me a experiência para aquilo que pretendo aqui. Ainda bem que aconteceu agora, porque consegui amadurecer a ideia”, contou, considerando que a dinâmica do espaço lhe permite não ter muitos encargos, e que só é possível num lugar como Ponte de Lima. “Não é fácil reunir estas condições todas. O facto de ser diretor técnico da farmácia, ter vizinhos que se conhecem uns aos outros, e sermos uma terra pequena, onde as pessoas têm uma certa proximidade, ajudou muito”, destacou, reforçando que tentou “facilitar a vida” a quem vem à Livrearia. “As pessoas entram e são convidados, acima de tudo, à leitura. Depois, para pagarem os livros, dirigem-se aos comércios locais que são meus parceiros”, explicou.

As “obras de arte” da Livrearia são em várias línguas, e podem ser vendidas, como explica o letreiro da entrada, por “dez euros para quem for excêntrico ou tiver perdido o juízo, cinco euros para o cidadão comum, e gratuito para quem tiver o triste prazer de roubar sem necessidade”.

As portas abriram no final do ano passado e o feedback tem superado as expectativas. “Sei a importância dos livros e reconheço o que já me enriqueceram, o que me enriquecem, e vão continuar a enriquecer. A mim e aos outros, porque a leitura permite não ficar tão circunscritos ao nosso pensamento, acabar com verdades absolutas, metermo-nos no lugar do outro e, sobretudo, dá-nos conhecimento”, salientou Manuel Pimenta, afirmando: “Não quero ter livros de forma massificada. Os livros a monte parecem coisas sem valor. Os livros que aqui estão são obras de arte, são fenomenais e têm de ter o seu destaque.”

Para o futuro, o farmacêutico quer também promover eventos culturais dedicados à palavra escrita. O primeiro decorreu em dezembro com Ana Deus, vocalista da banda portuense Três Tristes Tigres. “Não ficaremos por aqui. A música estará sempre presente. Quem sabe, umas sessões de cinema e concertos acústicos”, exemplificou, referindo que “vai deixar fluir”. “Toda a nossa família tem fontes de rendimento. Não tínhamos necessidade de alugar este espaço só para ter mais lucro e, por isso, aproveitamo-lo para dinamizar o largo e promover a cultura”, sublinhou.

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