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Estudos têm vindo a mostrar que, nos tempos de hoje, estaremos criaturas menos empáticas, com uma tendência comportamental mais individualista e, portanto, menos comunitária. É António Damásio, o neurocientista português dedicado a aprofundar a investigação sobre a consciência e as emoções, que nos diz: “se não houver educação maciça, os seres humanos vão matar-se uns aos outros” (Público). Sabemos, ainda, que a cultura capitalista atual encoraja o rápido, o superficial, o lucrativo, o descartável, e que, neste andamento apressado do mundo, temos maior dificuldade em praticar a empatia, uma competência que consente que respondamos ao estado emocional e tomemos o ponto de vista do outro. Sem isto, será menos viável uma comunidade que cuida de todos para um florescimento coletivo. Convém lembrarmos que temos mais em comum do que imaginamos e estamos, inevitavelmente, interligados, uns e outros, o que nos deveria levar a construir mais pontes e menos muros. Os nórdicos, mais particularmente os dinamarqueses, têm investido no aumento da empatia (até para reduzir os números de bullying) e alinhavaram as klassens tid, desde 1993, para que as competências emocionais e sociais sejam ensinadas como outra disciplina, uma vez por semana, entre os seis e os dezasseis anos. A intenção destas aulas é aprenderem a ouvir o outro e a partilhar o que sentem sem julgamento nem crítica, colaborarem na resolução de problemas como grupo, praticarem a entreajuda quando um deles está perante um desafio, criarem um sentido comunitário dentro da turma, com inclusão e diversidade. E, aparentemente, têm tido sucesso: indicadores apontam a Dinamarca como o país mais feliz do mundo e com a menor taxa de bullying da europa. A meta é clara: tornar as crianças (e futuros adultos) melhores pessoas, com mais foco na humanização do que nas notas escolares).
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A startup WiseWorld, sediada em Portugal através da ligação com o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, está a apostar numa plataforma de inteligência artificial para treinar e medir competências humanas e potenciar o trabalho em equipa nas empresas, até porque, segundo estudos investigativos de Harvard, estas soft skills promovem mais o sucesso do que as competências técnicas. Através de simulações em cenários que espelham situações do mundo real, os utilizadores desta experiência de gamificação podem ampliar as competências (como a comunicação, a colaboração, a liderança e a empatia) e avaliar o processo evolutivo à medida que avançam nas etapas. Teremos máquinas a ensinar o que elas ainda não podem ser. Sabe-se, portanto, desta urgência de nos voltarmos a humanizar, até para inspirarmos a próxima geração, tão imersa nas tecnologias, a investir prioritariamente nas competências que nos fazem mais humanos. A empatia, ao criar estes fios de ligação entre uns e outros, estimula a parceria (e não a competição) e pode ser vista como um superpoder transformador que incentiva a mudança social: não estás sozinho, estamos juntos a atravessar este caminho. Especialistas avisam que, ao sermos mais empáticos nos nossos dias, também nos tornamos mais agradáveis, mais otimistas, mais satisfeitos com a vida e, também, mais resilientes, o que reduz a probabilidade de termos ansiedade, depressão e stresse em níveis elevados. Fica a esperança de que apostaremos o mais breve neste treino primário para sairmos do nosso olhar autocentrado e estarmos mais disponíveis para o coletivo, desde cedo, com o propósito maior de construirmos um mundo mais consciente e suportável.
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“As pessoas curam a sua dor quando têm uma conexão autêntica com outro ser humano.” Marshall Rosenberg
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PARA AUMENTAR A EMPATIA
> ver a nossa pessoa como parte dum coletivo maior
> desacelerar e viver o momento de agora com abertura e entrega
> ter curiosidade sobre a experiência e ponto de vista do outro
> explorar se aquilo em que acreditamos é livre de julgamento
> aceitar a diversidade como um engrandecimento da humanidade
> praticar voluntariado para ajudar a comunidade a florescer
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Floresçamos. Juntos.
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