Liberté, Égalité, Mbappé

O diálogo contra o extremismo.

Rafaela Gonçalves
10 Jul. 2024 4 mins
Rafaela Gonçalves

A França acordou esta segunda-feira mais leve, mas dividida em três como as cores da sua bandeira. Ao dizer não a um governo de extrema-direita, em apenas uma semana, os franceses recusaram a proposta de uma França racista, nacionalista e populista, que vai contra os seus próprios valores “Liberté, Égalité, Fraternité”. A democracia foi uma escolha consciente e coletiva da maioria do povo francês.

Durante a segunda volta assistimos a figuras como Mbappé, estrela da seleção de futebol francesa, a apelar numa conferência de imprensa ao voto dos jovens contra a extrema-direita, e coincidência ou não, quebrou-se um mito por toda a Europa: que a juventude é a responsável por colocar a extrema-direita no poder. Os dados divulgados indicam-nos que os jovens franceses preferiram a Nova Frente Popular, que agrega as esquerdas.

Destas eleições, apesar de ainda não conhecermos o acordo que irá permitir estabilizar a frágil situação política, sabemos apenas que Macron não aceitou a demissão de Gabriel Attal, no entanto há um facto duro e preocupante que ressalta aos olhos de todos, os resultados provam-nos que a sociedade francesa se divide entre as diferentes classes e os diferentes tons de pele. Estamos perante uma França desunida, dividida e crispada.

A França ganhou tempo até às presidenciais de 2027, e em simultâneo ganhou a Ucrânia e perdeu a Rússia. Putin deverá agora, concentrar as suas atenções na corrida eleitoral à presidência dos EUA. Se o cenário em França é caótico, nos EUA a questão do idadismo, em particular de Joe Biden, ocupa as manchetes desde o desastroso e embaraçoso primeiro debate presidencial. O New York Times, o jornal mais prestigiado dos EUA, apela ao ainda presidente que abandone a corrida à Casa Branca, ao ponto de escrever “O Sr. Biden tem sido um Presidente admirável (…). Mas o maior serviço público que Biden poderia prestar hoje seria anunciar que não se recandidata.”. Já a revista Economist fez a cruel capa com um andarilho e o selo da presidência dos EUA com a frase “isto não é maneira de governar um país”. Os sucessivos apelos criam desgaste à frágil imagem do presidente norte-americano, que pede insistentemente ao seu partido para confiar em si.

A questão não se reduz ao facto de Biden estar ou não preparado para ser reeleito Presidente por mais 4 anos, até porque mesmo muito debilitado seria inegavelmente melhor Presidente que Donal Trump, pois a questão fulcral é se está em condições para ganhar as eleições. Essa sim, deverá ser a grande prioridade dos democratas, que ao que parece, para além de não conseguirem defender o legado do seu candidato, não têm nenhum substituto à altura do desafio. É inaceitável que durante estes 4 anos, o Partido Democrata não tenha antecipado uma solução robusta para confrontar uma ameaça tão perigosa como a de Donald Trump. A solução evidente e mais sensata, seria apostar na vice-presidente Kamala Harris, que segundo a agência de Reuters numa sondagem, se encontra a um ponto percentual atrás de Trump, no entanto parece não ser suficiente para chegar aos votos moderados. Surgiram, entretanto, nomes como Antony Blinken ou Michelle Obama, mas só a última teria hipóteses de vencer a Trump. No entanto, escolher Michelle será fazer o mesmo que os republicanos fizeram ao escolher Trump há uns anos, não que sejam comparáveis de todo, mas a motivação da escolha seria a mesma, optar por uma celebridade e tornar a corrida à Casa Branca como um concurso de popularidade.

Pode um candidato a presidente norte-americano mentir mais de trinta vezes no primeiro debate presidencial, ser condenado por 34 crimes, ver-se envolvido no ataque ao Capitólio, e vir a colher votos dos americanos? Esperemos para o bem da saúde da democracia mundial e dos direitos humanos que tal não aconteça, pois lançaria ondas de choque por todo o mundo, colocando o nosso próprio futuro em causa.

Se é verdade que a extrema-direita nunca teve tanta força por toda a Europa, os resultados em França e do Reino Unido, com a vitória esmagadora dos trabalhistas, mostram-nos, que não está na escalada imparável e vertiginosa que se predestinava. Resta saber agora, se os americanos quando forem a votos em novembro, não se esquecerão do dia 6 de janeiro de 2021.

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