Lídia vive em França e trouxe a melhor amiga, Maria José, para Lanhelas, no Arciprestado de Caminha, para ajudar nas limpezas depois de a tempestade da madrugada do dia 1 de janeiro ter trazido “muita terra” para dentro de casa.
As marcas da terra são evidentes no chão e nas paredes. Alguns objetos que estavam guardados nos armários e no chão não sobreviveram à terra e à água que por ali passou. “Esta casa tem mais de 40 anos e nunca aconteceu nada assim”, começou por dizer Lídia. “Nós vivemos junto ao rego de água, mas nunca tivemos medo dele”, continuou.
No dia 4 comprou os bilhetes para Portugal e meteu mãos ao trabalho porque “ninguém veio ajudar”. “O meu marido não podia faltar ao trabalho porque, na semana anterior, esteve em casa com Covid-19 e, por isso, tive de contratar dois homens para nos ajudar. Hoje de tarde, vêm dois amigos meus dar uma mão”, explicou, contando que, no dia anterior, ainda não tinha luz. “Desentupimos canos porque dizem que vem aí mais chuva”, especificou, mostrando-se “assustada” com o que poderá acontecer se uma tempestade voltar a fazer estragos. “Saíram baldes e baldes de terra daqui”, acrescentou Maria José, queixando-se: “O problema é que, no verão, as pessoas abusam da natureza e ateiam fogo. Isto tem consequências no solo”.
Lídia contou ainda que soube o que tinha acontecido na sua casa por uma comerciante, que tem as chaves e que lhe mandou fotografias e vídeos dos estragos. “Esta é a casa dos meus pais. É a minha herança. Eles foram para França trabalhar para a construir e é por isso que me custa vê-la neste estado”, referiu, confidenciando que chorou “muito”, mas que está “pronta” para “andar para a frente”. “Em França, as pessoas ajudam-se umas às outras. Aqui, ainda ninguém apareceu”, lamentaram as duas amigas.
Para andar pela casa, só de galochas e com muito cuidado para não escorregar. Na cozinha, a louça está lavada, mas “o lava- -louças está morto”. “Já limpámos algumas coisas, mas outras é impossível”, referiu, acrescentando que as coisas não secam devido à humidade. “Ainda não tive tempo de avaliar os estragos porque todo o tempo é para limpar. Só paramos para comer e beber”, frisou, mostrando os estragos no quarto, na sala e na dispensa.
Lídia e a amiga não tiraram os bilhetes de volta, mas não pensam em ficar mais do que 15 dias. Voltam em fevereiro para uma limpeza maior. “Liguei à Maria José e perguntei-lhe se queria vir comigo para o spa de Lanhelas. Ela disse logo que sim”, ironizou, afirmando: “Vou lembrar-me para sempre destas ‘férias’”. “Não tinha como dizer que não. Ela precisava da minha ajuda”, salientou Maria José.
“… grande parte do muro da capela tinha caído”
Também o muro da capela de S. Martinho, “a igreja primitiva da Paróquia”, caiu. “Eu estava em casa e ouvia a chuva, mas só quando saí é que tive noção da realidade. Aliás, do metro cúbico de água que estava a cair”, começou o Pároco por contar, confidenciando que houve “algumas inundações” na casa paroquial. “No mesmo dia à noite, soube que grande parte do muro da capela tinha caído. Só vim ver dias depois porque acompanhei a passagem dos Símbolos da JMJ no Arciprestado”, contou, acrescentando que “a Paróquia tem de desenvolver diligências para proceder ao levantamento e reconstrução do muro”. “Vamos desenvolver contactos para ver se conseguimos algum apoio do Estado ou então, será à nossa custa, porque a capela é da Paróquia”, terminou.
O mau tempo provocou ainda inundações que arrastaram vários automóveis que ficaram amontoados, uns em cima dos outros.
A forte corrente de água destruiu a estrada, vários passeios e arrastou ainda todos os destroços, bem como vários ramos de árvores.
A Câmara Municipal de Caminha e a Junta de Freguesia procederam a trabalhos de limpeza e reposição das condições de segurança e operacionalidade e, desde aí, estão a ser apurados prejuízos e equacionadas soluções mais definitivas, repondo e melhorando as infraestruturas que irão assegurar maior resiliência e qualidade no futuro.
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