Ler jornais, desde que aprendi a ler, é um hábito, um vício diário. Ler jornais com alguns anos é um prazer.
Para prepararmos a próxima exposição do Núcleo do Arquivo Ephemera, em Outubro, como de costume, temos consultado duas publicações periódicas editadas na cidade – A Aurora do Lima e Notícias de Viana – além de outros materiais do Arquivo Municipal. Tarefa que me agrada muitíssimo.
Ler jornais é saber mais, uma frase publicitária que se usava há anos (nunca há anos atrás). Acrescentarei que ler jornais antigos é descobrir mais, relacionar mais, comparar mais.
Fixemo-nos no ano de 1930. Seriam as notícias publicadas em Viana do Castelo muito diferentes das de hoje? Claro que sim! Já não encontramos as deliciosas notas mundanas cheias de enlaces, bons sucessos, deliverances, elegantes reuniões familiares, majestosas corbeilles, etc., etc.
Encontramos, por outro lado, críticas a espectáculos, principalmente a cinema e teatro, polémicas que se iam alimentando ao longo de vários números, com respostas e contra- respostas, que não se encontram nas publicações actuais.
Vamos fugindo do tema da pesquisa, “perdemos tempo” com outras notícias que, se lhes actualizássemos a ortografia e um ou outro vocábulo, seriam bem de hoje. Se não, vejamos, melhor, leiamos:
“Reclamações
Reclamam os moradores no Carmo contra a não existência dum mictório naquelas paragens…” Não é actual? Quase. Teríamos de acrescentar todas as outras zonas da cidade, como já apontamos. A falta de instalações sanitárias, de que os jornais de hoje pouco ou nada falam, mantem-se.
Há algumas semanas (e não há algumas semanas atrás), indignámo-nos com um grupo que incendiava contentores pela calada da noite. “Fruto do tempo”, “Já não há autoridade”, ouvimos. Pois…
“Malvadez
… alguns mariolas entreteram-se (sic) a partir alguns vidros das casas da cidade, e ficaram impunes pois a polícia não os conseguiu descobrir.”
Há 95 anos (não há 95 anos atrás), já se chamava a atenção “… contra a exibição pouco interessante de roupas brancas, nas janelas de certos prédios e ali postas a secar pelas suas donas que ignoram, por certo, as posturas municipais.” Ainda há posturas municipais? São cumpridas? Quem as fiscaliza?
Com as devidas alterações, atentem nesta pequena nota inserida numa última página:
“Todos os pais teem um quarto de hora por dia para lazeres de café, para discussão de política, para má-língua, para qualquer passa-tempo inútil ou para se aborrecerem.
Do que raríssimos dispõem é de um quarto de hora por dia para lerem e explicarem a seus filhos uma historieta educativa, ou para os instruírem numa salutar conversação.
Quantos de esbofam inutilmente em querer impôr as suas ideias aos outros, sem se lembrarem de que a primeira corrente de opinião a estabelecer, a mais certa e a mais útil, é a que formamos em nosso próprio lar.”
Se incluirmos, no primeiro parágrafo, telemóveis, redes sociais, telenovelas, não é uma nota actualíssima?
Por outro lado, ficamos a saber que, por exemplo, no Café Bar, era tocado jazz por três grupos vianenses – Viana Orquestra Jazz, Jazz Modestos Vianense, Viana Melody Band – que animavam bailes, chás dançantes, convívios, em clubes e assembleias.
Não conseguimos apurar se nas muitas actividades desportivas que se realizavam já havia “música” para “animar”… Certamente que não, pois as aparelhagens sonoras ainda não existiam. Podia-se sim, assistir a demonstrações das novas aparelhagens, como His master´s voice, em cafés e no Sá de Miranda.
Vou inventar a necessidade de mais pesquisas. Uma delícia!
SUGESTÕES
Ler – Mudar de ideias, Julian Barnes
Ver – Segredos das casas e jardins históricos da Grã-Bretanha – RTP2 (O papel desempenhado pelo National Trust na preservação do património e o contributo de voluntários)
Ouvir – Mixórdia de temáticas (Ricardo Araújo Pereira) – Rádio Comercial
Nota de regozijo – o elevador junto à CP continua a funcionar.
** (Escrito de acordo com a ortografia antiga)
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