Iuri Leitão traz prata para a terra que ostenta o ouro na romaria

Iuri Leitão conquistou a prata nos Jogos Olímpicos, em Paris, a segunda medalha olímpica portuguesa. Ainda sem saber quantificar “o quão especial é” este resultado, o atleta tem sido elogiado por, na prova, “olhar mais para cima” para verificar se o francês Benjamin Thomas estava bem após uma queda. Um verdadeiro exemplo, raro nos dias de hoje, de como se alia o desportivismo à vitória.

Micaela Barbosa
9 Ago. 2024 5 mins

O ciclista não escondeu a emoção após classificar-se em segundo lugar na prova de omnium,  juntando a prata olímpica ao título de Campeão do Mundo da especialidade conquistado no ano passado. “É difícil descrever o que sinto neste momento. Foi uma tarde muito intensa, a concorrência estava forte. Tive uma queda há três semanas, não sabíamos como ia estar em termos físicos, mas o dia foi correndo bem. Fiz uma corrida praticamente perfeita, joguei taticamente e fui acreditando aos poucos. Na última prova ainda acreditei que era possível chegar ao ouro, ataquei perto do fim, mas o francês estava muito forte e foi um justo vencedor”, resumiu Iúri Leitão à RTP. 

Apesar do sucedido na corrida de eliminação – a terceira das quatro provas que compõem o omnium -, quando ficou apenas na sétima posição, depois de não ouvir a sineta a indicar que se ia entrar numa volta a eliminar, o ciclista quis “seguir em frente”, reconhecendo “os erros acontecem”. “Não vou dizer que não foi culpa minha, mas não havia nada que pudesse fazer. Vou rever a corrida e tirar as conclusões”, explicou. 

A última prova, que lhe garantiu a medalha de prata, ficou marcada pela sua atitude em verificar se o seu adversário estava bem após uma queda. “Quis ter a certeza que ele estava bem e que poderíamos voltar a discutir o ouro de forma justa”, referiu ao jornal Expresso, prosseguindo: “Seria injusto ele perder o ouro daquela forma, quis ter a certeza que ele voltava.”

Iuri Leitão garantiu ainda que têm feito “um trabalho muito sério”. “Nós merecemos o que acabámos de conquistar”, reconheceu, salientando o facto de ter tido, pela primeira vez, em provas internacionais, o apoio da namorada. “Faltavam cinco voltas para a corrida terminar e comecei a chorar agarrada à bandeira nacional. O casal que estava do meu lado esquerdo, a apoiar o francês, agarrou-se a mim a chorar. Acabamos todos agarrados e a chorar de felicidade”, contou Carolina Ribeiro, considerando que Iuri fez uma prova “excelente”. “Ele merecia mais do que a prata. Ainda assim, esta prata soube a ouro”, reforçou, admitindo que a coisa “mais importante” que Iuri lhe disse após ter cortado a meta foi poder contar com a sua presença e apoio. “Para além de me ter dito que voltava a pedir em casamento (risos), agradeceu-me por estar ali a partilhar aquele momento com ele”, disse.

Sobre a atitude durante a prova para com o adversário, a namorada não ficou surpreendida. “Eu sabia que o Iuri não ia aproveitar aquele momento de fragilidade para jogar sujo. E, quando ele teve a certeza de que o colega estava bem, é que ele voltou a entrar na pista. Efetivamente é um gesto que diz muito sobre a pessoa que ele é”, elogiou, considerando que a medalha é fruto do seu esforço e dedicação. “Isto mostra do que ele é capaz. Ele treina muito e, muitas vezes, abdica da sua vida pessoal para estar no seu melhor na vida profissional. Certamente, é das medalhas mais importantes da vida dele”, afirmou.

Um dia depois desta conquista, a freguesia de Santa Marta de Portuzelo, a sua terra natal, percorreu as ruas de Viana do Castelo para assinalar o início da sua romaria. Não encontramos nenhum familiar ou amigo próximo, mas não deixamos de sentir e ouvir “o orgulho” de ver um conterrâneo a singrar nos Jogos Olímpicos. “Foi um verdadeiro campeão. Trouxe uma medalha e esperou pelo seu adversário para concluir a prova”, ouviu-se.

Ricardo Afonso faz parte da organização das festas e mostrou-se “muito feliz” por Iuri Leitão. “Tenho a certeza que, daqui a quatro ano, Santa Marta será uma terra totalmente de ouro. Foi um excelente resultado e, certamente, iremos homenageá-lo”, afirmou. “Estamos em festa a dobrar porque, por um lado, temos a romaria na freguesia e, por outro, a medalha de prata do Iuri”, referiu Nuno Ferraz, presidente da Junta de Freguesia, frisando “o orgulho”, em especial, dos santamartenses. “é o orgulho de Santa Marta. É o orgulho de Viana do Castelo. E, é o orgulho de Portugal. Queremos homenageá-lo. Ele merece”, garantiu, congratulando o seu gesto para com o adversário. “Revela muito do seu caráter. É simples com um grande espírito de ajuda. Isto demonstrou ainda que é um grande ciclista e um grande homem”, acrescentou.

Já o pároco, Pe. Christopher Sousa, disse ter sido “curioso” que a conquista da medalha coincida com o início da romaria. “Os santamartenses têm muita chieira na sua romaria. Em declarações aos jornalistas, o Iuri também disse que tinha muita chieira em ser santamartense e, por isso, é uma alegria a dobrar que estamos todos a viver”, salientou.

Fotografia: Comité Olímpico de Portugal

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