Foi no meio de crianças que a Irmã Dores, da Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, cresceu. Hoje, com 100 anos de idade, apesar de já não trabalhar com elas, é muito acarinhada. Sempre que sai à rua, as crianças não a largam, abraçando-a e acariciando-a.
Apesar de ter dificuldade em ouvir e falar, a sua memória não esquece a sua entrada na Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria há 78 anos. “A 9 de dezembro de 1944 vim para aqui (Arcozelo) fazer o noviciado e, dois anos depois, a 13 de junho, tomei o hábito”, recordou, frisando que a sua missão era “fazer tudo” em prol da comunidade. No entanto, como percebia de música, ensinou muitas crianças e jovens a tocar órgão e a cantar. “Não tinha especialidade, mas dediquei-me muito às crianças”, afirmou, referindo que também apoiou na catequese.
Sentiu sempre o apoio dos pais e foi Nossa Senhora que a levou até às Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria. “A minha avó é que me trouxe e, como madrinha de batismo, deu-me a Nossa Senhora do Amparo (padroeira de Cardielos) e, por isso, digo muitas vezes que tenho Nossa Senhora como madrinha”, recordou entre risos, enaltecendo a importância de S. Francisco de Assis e da beata Maria da Paixão na sua vida.
A Irmã Dores é natural da Paróquia de Cardielos, no Arciprestado de Viana do Castelo, mas foi em Arcozelo, Barcelos, que praticou, maioritariamente, a sua missão. “Estive 24 anos em Lisboa. Fazia de tudo na comunidade, nem que fosse na cozinha”, acrescentou, garantindo, entre risos: “Todos gostavam dos meus cozinhados, principalmente, dos doces.”
Em 1971, regressou a Arcozelo, onde até hoje permanece. Colaborou na Paróquia de S. José e, segundo a religiosa, as crianças deliravam. “Elas gostavam muito. Algumas delas vinham ter comigo e pediam-me para serem cantores”, confidenciou.
Nas férias, ia até Cardielos e, nem aí tinha descanso. “O Pe. Zé Gonçalves sabia que percebia de música e desafiava-me para animar as celebrações. Ensaiei coros para as festas da terra, desde comunhões, casamentos e batizados”, especificou.
Antes de ficar mais debilitada, a Irmã Dores cuidava ainda do jardim de rosas. “Agora, estou à vontade de Deus. Não há outra coisa que possa fazer”, lamentou, confidenciando que, muitas vezes, questiona o Senhor porque é que ainda aqui está. “Tenho de aceitar com alegria o que o Senhor me vai dando, porque a vida não é toda rosas. Algumas delas têm muitos espinhos e outras menos, mas não deixam de ter a sua beleza. É como a vida.”, declarou.
Recentemente, mais especificamente, no dia 20 de outubro, celebrou o 100º aniversário. Teve direito a três festas. Uma na Congregação, uma com a família e outra na comunidade/Paróquia. “Chegar aos 100 anos é uma felicidade que não sei explicar. Entreguei tudo ao Senhor, e estou feliz por me ter dado a todos para ajudar e ensinar. Não poupava energias”, disse emocionada, continuando: “Não tenho palavras para descrever o que senti naqueles dias. Só sei que sou grata. Estou muito feliz por me entregar ao Senhor”.
Outra das suas grandes alegrias é a sua sobrinha Rosa. Tal como ela, foi a terceira de oito irmãos a seguir a vida consagrada. Embora não tenha sido na mesma Congregação, a Irmã Dores não podia estar mais feliz. “É com grande felicidade que vejo a minha sobrinha a entregar-se ao Senhor”, salientou, terminando com uma reflexão: “Quando os pais dão apoio aos filhos, é bom. Se eles fazem o que gostam e se isso é bom para todos, sentir-se apoiados é muito importante”, assegurando: “É isto que dá alegria. Fazer aquilo que se gosta e que é bom para todos.”
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