III Encontro da Quaresma: Assumir a fragilidade

O terceiro “Encontro da Quaresma: Cuidar da Humanidade” contou com a participação do Pe. Fábio Carvalho que, sob o mote “Assumir a Fragilidade”, fez uma reflexão sobre “as dores e feridas que causa o sofrimento no coração humano”.

Notícias de Viana
18 Mar. 2021 4 mins
III Encontro da Quaresma: Assumir a fragilidade

Fábio Carvalho, também Capelão da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, iniciou a intervenção com o significado de “trilhar a Quaresma”, recordando a liturgia do dia de quarta-feira de cinzas. “Trilhar o caminho da Quaresma é, antes e acima de tudo, arriscar experimentar alocar a vida pessoal e comunitária para o espaço e tempo dos recomeços. Fazer da oportunidade única do comum viver e do viver em comum, um ato de conversão à vocação originária de nos reconhecermos criaturas esculpidas a partir do pó da terra”, explicou.

Sobre “Cuidar da Humanidade”, o Capelão defende “uma reflexão séria”. “A urgência de reaprendermos a cuidar do especificamente humano é gritante em todos os contextos sociais e culturais. Portanto, a Igreja que somos, nas palavras do fundador da Diocese de Viana do Castelo (Papa S. Paulo VI), há-de ser mestra em humanidade. Esta mestria pressupõe abertura, disponibilidade e, acima de tudo, capacidade de ir ao encontro de todos, anunciando-lhes o Evangelho da vida sem floreados ou acrescentos de última hora”, sustentou.

Segundo Fábio Carvalho, “as ameaças à vida, sobretudo, à vida humana” existem “desde a antiguidade até ao presente”. “Constata-se, com efeito devastador no presente, que quando a humanidade corta o cordão umbilical com a sua origem e a razão de ser, impõe a si mesma a exclusão de um caminho que poderia ser de autêntica felicidade. No fundo, dá-se a repetição daquele ato de desobediência a Deus das origens para obedecer à astúcia demoníaca, maligna e mentirosa dos deuses com pés de barro”, referiu, recordando as duas grandes guerras mundiais do séc. XX. “Quantos danos a ausência de Deus vem causando nas nações cujos ditâmes políticos esvaziam os corpos das suas almas? Quantas famílias destruídas? Quantas pessoas desorientadas, deprimidas e dormentes existenciais? Quantas crianças e jovens, sem mais nenhum sentido para a vida, que não seja o de acabar com a própria vida?”, questionou.

O capelão acrescenta ainda que, paradoxalmente, “está cada vez mais em voga acreditar e devotar a vida ao inimigo de Deus e às diferentes formas ditas de conexão com o universo abstrato”. “É preocupante o impacto negativo, nos jovens e menos jovens, a procura por espiritualidades, no mínimo questionáveis, e cujos efeitos adversos a nível mental e espiritual não demoram em fazer-se sentir”, alertou, acrescentando: “Tenho sido testemunho com doentes de sofrimentos causados, não só por doenças físicas, mas também por doenças espirituais cujos motivos, na maior parte dos casos se relacionam com portas que se vão abrindo ao poder do maligno.”

O encontro termina com um prognóstico sobre “curar e cuidar da humanidade”, percebendo as suas feridas. “Como? Quem? Quando, pode, efetivamente, operar cura e cuidado?”, questionou, exemplificando com a parábola do Bom Samaritano. “Esta parábola fundamenta os alicerces da ética cristã do cuidado. Plasma-se aqui uma forma nova de agir em consequência da antropologia da responsabilidade e do cuidado por todos, judeus e/ou samaritanos, e por cada um de nós”, afirmou, terminando: “É difícil assumir a fragilidade dos limites próprios da natureza humana, sobretudo quando o contexto leva a viver como se tivéssemos nascido para fazer desta vida um paraíso definitivo. Não é mais fácil, deste ponto de vista, encontrar disponibilidade interior para parar junto daquele que sofre. O seu sofrimento mexe comigo e reclama de mim aquilo que nem sempre tenho: a capacidade de sofrer com ele, estando junto dele.”

Tags Religião

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