A Diocese de Santarém iniciou, no passado mês de julho, a celebração do Jubileu dos 50 anos da sua criação. O ponto de partida das celebrações foi a missa do aniversário da dedicação da Catedral, sendo que os eventos de comemoração prolongar-se-ão até ao dia 4 de outubro de 2025. A celebração dos 50 anos da Diocese de Santarém pretende ser, segundo a mesma, “…um momento de partilha e de reflexão para os cristãos, reconhecendo o dinamismo de fé herdado das gerações anteriores e a reafirmação do compromisso da diocese, e da Igreja Católica em si mesma, para com a missão e a evangelização nestes novos tempos…“.
No entanto, este primeiro momento de celebração ficou marcado (do ponto de vista mediático), não pela reflexão em torno do legado de fé herdado das gerações anteriores, mas pela polémica criada em torno do novo altar e da inauguração do novo presbitério. Com efeito, as peças do escultor Paulo Neves foram motivo de crítica e amplamente discutidas pela sociedade: “…a remodelação efetuada no espaço religioso (…), está a gerar acesa polémica. Há mesmo quem fale de “atentado ao património”…” – podemos ler no Público, de 13 de julho.
É de louvar o interesse generalizado em relação às intervenções em património, não só pelos agentes do setor e fruidores, mas também pela população em geral, mesmo por quem normalmente não tem especial interesse sobre estes assuntos. De facto, o trabalho realizado no legado patrimonial e deixado pelas anteriores gerações, desperta sempre em nós motivos de reflexão, e denoto especial atenção quando esse património é propriedade ou está sobre a responsabilidade da Igreja Católica. As heranças (e o nosso património mais não é que uma herança deixada pelos nossos antepassados) sempre foram motivo de discussão, e assim continuarão a ser. É este interesse e esta discussão que nos obriga a uma exigência redobrada, quer nas opções que fazemos (em termos de intervenção/gestão deste património), quer na forma como a posteriori apresentamos e explicamos o que foi decidido fazer. Neste sentido, não me parece plausível que se tomem decisões infundadas e sem recurso à opinião crítica dos especialistas.
Como faço perceber, a Catedral de Santarém não foi exemplo isolado. E concentremo-nos apenas nos mais recentes, e em sedes episcopais: ainda este ano, a “torre prateada na Sé de Lisboa gera muitas críticas…” (RFM, 24 de abril) e no ano passado, “…obra no batistério da Sé de Braga obriga a reformulação do projeto…” (Correio do Minho, 23 de agosto). A sociedade sente, e bem, que tem a responsabilidade de acautelar e zelar pela herança que lhe foi deixada.
Também a Diocese de Viana do Castelo – a mais jovem Diocese de Portugal – celebra em 2027 o seu Jubileu e já iniciou a preparação das comemorações; exemplo disso foi o “JUBIGO – Juventude a Caminho do Jubileu Diocesano”, acampamento juvenil, que no passado mês de Julho reuniu durante 5 dias, dezenas de jovens de toda a Diocese. Dias de celebração, repletos de experiências, novas amizades e novas vivências. Uma oportunidade única para que os jovens da nossa Diocese recebam esta herança de fé, legado que também eles um dia, de geração em geração, farão chegar aos jovens vindouros.
As vivências são, de facto, o único legado que nos plenifica e nos faz crescer sob o ponto de vista intelectual e espiritual. O legado material não nos pertence; passa por nós e deixamo-lo para as próximas gerações. É essa responsabilidade que nos faz zelar e proteger aquilo que nos foi deixado. É compreensível toda a discussão gerada em torno destes assuntos. Compete aos agentes e responsáveis saber ouvir, rodear-se dos mais diversos especialistas e decidir com fundamentada razão. Poderão sempre existir outras – até melhores – decisões, mas assim agiremos de forma responsável e sustentada. Termino evidentemente, felicitando a Diocese de Santarém (e também a Diocese de Setúbal) pelos 50 anos da sua criação!
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