O outfit obrigatório é t-shirt branca para conseguir assinaturas e dedicatórias de novos amigos. É este um dos grandes propósitos dos cerca de 4.000 alunos que participaram no XXVI Fórum de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), que decorreu no Centro de Estágios de Melgaço.
O parque de estacionamento parecia pequeno para o número de autocarros que chegavam. As filas estavam relativamente compridas e lentas porque eram muitos os alunos que atravessam a estrada para entrar no espaço que os acolheu durante um dia cheio de atividades.
Inês Amorim e Maria Alves estão no 9º ano na Escola Pintor José de Brito e Escola de Ponte da Barca, respetivamente, e é a segunda vez que participam no encontro. “Com a Covid-19, há muito tempo que não tínhamos uma experiência de convívio e, portanto, o fórum foi uma oportunidade que surgiu nesse sentido”, referiu Inês, enaltecendo “o bom ambiente”.
Já Luís Gonçalves frequenta o 12º ano na Escola Básica e Secundária de Melgaço, que foi responsável pela organização. “É uma experiência diferente e, até agora, está a ser engraçado”, confidenciou, descrevendo o fórum como uma iniciativa “interessante” que junta todos os alunos do distrito. “Frequento EMRC desde o 5º ano e sou da opinião de que qualquer disciplina, que acrescente algo ao currículo do aluno, é sempre importante. Nas aulas, também aprendemos coisas sobre outras religiões e são-nos transmitidos um conjunto de valores importantes para vivermos em sociedade”, salientou.
Carla Pires é professora de Português na Escola Pintor José de Brito, e Orlando Costa é professor de Ciências Naturais na Escola de Ponte da Barca. Os dois vieram acompanhar os seus alunos. “O Fórum é um espaço de grande convívio, em que os alunos têm a oportunidade de contactar com outros colegas de outras escolas. E é ainda uma forma de valorizar os valores que são transmitidos em EMRC. Hoje, eles têm a oportunidade de os pôr em prática e vivenciar”, salientou Carla. “Aqui não há pressão de nenhuma disciplina. Eles estão aqui simplesmente para se encontrar e constituir uma espécie de ordem num local geral”, acrescentou Orlando, referindo que o Fórum dá “abertura, capacidade para comunicar com outros e empatia”. “EMRC é uma disciplina opcional, mas é um espaço em que o aluno e o professor criam uma relação mais estreita e próxima, e é neste sentido que o professor de EMRC é um privilegiado, porque pode ouvir o que vai na cabeça dos alunos. Eles abrem-se mais facilmente com ele e falam daquilo que vai dentro deles”, afirmou.
O XXVI Fórum de EMRC é organizado pelo Secretariado Diocesano de EMRC, que é coordenado pela professora Lígia Pereira. “Hoje, temos 3.200 alunos e 250 professores de 18 agrupamentos”, revelou a responsável, admitindo que organizar um evento destes “tem uma logística complicada, que só é possível graças ao apoio da Câmara Municipal do local e do Agrupamento de Escolas do concelho e dos professores de EMRC locais”. “O nosso objetivo é que os jovens percebam que não estão sozinhos na disciplina e que há muitos mais matriculados. Na nossa Diocese, são 100 os inscritos entre crianças e jovens matriculados, o que é uma realidade muito boa para a nacional, até comparando com o número de alunos a frequentar o serviço público no próprio distrito”, indicou, enaltecendo o empenho dos professores. “Temos profissionais bem formados e capazes de darem a volta aos manuais e programas da disciplina, que nem sempre estão adequados à realidade de cada local porque cada um tem a sua realidade cultural e social diferente”, atirou.
Lígia Pereira contou ainda que o distrito, como outros do país, tem acolhido muitos imigrantes e que alguns deles frequentam a disciplina. “Temos alunos mulçumanos e evangélicos e é com grande alegria que os recebemos porque os pais reconhecem que conseguimos transmitir conteúdos, não só relacionados com a nossa própria religião, mas que faz uma interculturalidade e inter religiosidade”, salientou, mostrando o seu agrado nas parcerias criadas com comunidades evangélicas e seus pastores. “Espero que este dia seja um dia de alegria, partilha e esperança no futuro porque precisamos disso no mundo que estamos a viver. E, que os jovens percebam que existem valores pelos quais vale a pena lutar como a liberdade”, reiterou.
O Bispo diocesano, D. João Lavrador, também marcou presença no evento e, na sua intervenção, pediu aos jovens para estarem atentos aos sinais do tempo, interpelando-os para os seus sonhos. “Foi uma agradável surpresa quando vi todos estes jovens”, admitiu, enaltecendo a alegria e o ambiente de festa. “Isto tem uma logística enorme para oferecer a possibilidade, através do divertimento e do que precisam para a convivência, de responder aos anseios deles. E, portanto, é um evento meritório, muito bom e essencial para qualquer meio escolar mas, no que toca à EMRC, dadas as suas características e sendo uma disciplina opcional e que, muitas vezes, pode estar em alternância com o nada, proporcionar aos alunos outras atividades que os incentivem a ler a sua vida e a informar-se a partir desta ótica do humanismo cristão, despertando um ensino que, em muitas situações, é tão ideologizado e restritivo”, apontou.
O prelado defendeu ainda que “a EMRC procura ser resposta à humanidade através do humanismo cristão a partir da figura de Jesus de Nazaré, da notícia que Ele trouxe, dos Evangelhos, e de uma cultura que marcou e moldou ao longo de mais dois mil anos até hoje”. “EMRC tem as categorias necessárias para o ser humano e é esta oferta que a igreja faz, pelo domínio do ensino, para quem aceitar e queira ter esta ótica na sua formação”, disse, referindo que, “dada as circunstâncias da imigração, que trazem a sua forma de viver a sua fé, temos que favorecer locais de culto e ter a capacidade para eles poderem de desenvolver a sua forma própria de se relacionarem com o seu Deus e, por isso, seja com mulçumanos, judeus e religiões orientais, temos de os ajudar”. “Ficamos contentes que eles possam beneficiar também em sentido interconfessional, mostrando o que a igreja tem para oferecer. Ficamos todos favorecidos com este diálogo”, assegurou.
O Pe. Arcélio Sousa, Pároco de Melgaço, equiparou o encontro com a preparação da Jornada Mundial da Juventude e também enalteceu o ambiente de festa e alegria. “Hoje, mais importante que nunca, a EMRC faz falta para a educação que muitas vezes falta em casa e a disciplina é capaz de ajudar, transmitindo valores e apontando para a referência do próprio Jesus. É sempre bom”, terminou.
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