As eleições presidenciais de 2024 nos EUA estão a aproximar-se num momento de profunda divisão interna e de problemas globais complicados. Estes incluem a guerra em curso na Ucrânia e o agravamento da luta entre Israel e a Palestina. Nesta corrida, a candidata democrata Kamala Harris enfrenta o ex-presidente republicano Donald Trump. Eles defendem duas ideias muito diferentes sobre o futuro da América e sobre como o país deveria agir no cenário mundial. A corrida eleitoral entre Harris e Trump, ao mesmo tempo que define a trajetória do país, pode também influenciar diretamente a estabilidade global, especialmente em questões de segurança, direitos humanos e alianças estratégicas.
Cenário de Vitória Democrata com Kamala Harris
Num cenário onde Kamala Harris é eleita presidente, espera-se que a política externa americana siga uma linha de continuidade face à administração Biden, mas com uma possível reorientação mais progressista. Harris pode procurar fortalecer alianças internacionais e reafirmar os compromissos dos EUA em questões ambientais, direitos humanos e segurança coletiva, temas que preocupam tanto os aliados na Europa como os parceiros asiáticos. A guerra na Ucrânia, por exemplo, pode continuar a receber apoio firme dos EUA sob uma presidência de Harris, tanto a nível financeiro como militar, reforçando a NATO e apoiando sanções adicionais à Rússia. O objetivo seria pressionar Moscovo a recuar, contribuindo para uma solução negociada que permita preservar a soberania ucraniana e dissuadir ações expansionistas futuras.
No conflito entre Israel e Palestina, Harris teria, provavelmente, uma abordagem equilibrada, mas cautelosa, promovendo o direito de defesa de Israel enquanto encoraja a resolução pacífica e a proteção dos direitos humanos dos palestinianos. Embora a política dos EUA historicamente apoie Israel, Harris poderia adotar uma postura mais diplomática, incentivando negociações que reduzam a escalada militar e promovam uma solução de dois estados. Contudo, a sua capacidade de agir será limitada pelas pressões internas e pela influência do lobby pró-Israel.
Para o cenário interno, a presidência de Kamala Harris poderia representar uma defesa dos valores democráticos, com uma ênfase nas liberdades civis e na inclusão social. Os democratas têm pela frente o desafio de mobilizar uma base eleitoral diversa, especialmente entre jovens, minorias e progressistas, que frequentemente anseiam por políticas mais arrojadas e transformadoras. Harris teria de equilibrar as expectativas de uma ala progressista que exige avanços em temas como a justiça racial, a saúde pública e a sustentabilidade, enquanto tenta unir o país. Com um Congresso dividido, contudo, Harris enfrentaria uma difícil batalha para implementar reformas amplas.
No cenário de vitória de Kamala Harris, a política externa americana possivelmente reforçará a cooperação multilateral, apoiando instituições internacionais como a ONU e a OMS. Essa estratégia visa fortalecer a posição dos EUA como líder global, num momento em que a ascensão de potências como a China e o expansionismo russo desafiam a ordem internacional. A postura de Harris poderia, assim, ajudar a restaurar a confiança dos aliados europeus e asiáticos, contribuindo para a estabilidade global. Contudo, o desafio será encontrar um equilíbrio entre a firmeza nas respostas a conflitos e a promoção de uma diplomacia inclusiva que evite escaladas desnecessárias.
Cenário de Vitória Republicana com Donald Trump
Se Donald Trump for eleito, o impacto na política interna e externa dos Estados Unidos será substancial e imediato. Durante a sua presidência anterior, Trump mostrou-se crítico das alianças tradicionais e foi defensor de uma política externa mais isolacionista. Neste cenário, é provável que Trump reduza o apoio à Ucrânia, uma vez que já expressou dúvidas sobre a continuidade do envolvimento norte-americano nesse conflito. A vitória de Trump poderia enfraquecer a NATO e outros pactos de defesa, criando incerteza entre os aliados europeus e deixando a Ucrânia mais vulnerável a uma potencial agressão russa. Isso representaria uma vitória para Moscovo, que veria diminuída a pressão económica e militar.
Em relação ao conflito israelo-palestiniano, Trump tenderá a reforçar o apoio a Israel sem condicionantes, como fez no seu mandato anterior, quando reconheceu Jerusalém como a capital israelita e transferiu a embaixada dos EUA para a cidade. Esse apoio incondicional a Israel poderia intensificar as tensões na região, dificultando ainda mais uma solução pacífica e minando o papel dos EUA como mediador neutro no Médio Oriente. O impacto seria uma escalada das hostilidades e uma possível alienação dos parceiros árabes e muçulmanos.
Internamente, uma nova presidência de Trump pode acentuar a divisão social e política dos EUA, com o aumento de políticas restritivas em áreas como imigração, direitos LGBTQIA+ e aborto. O regresso de Trump à Casa Branca simbolizaria para muitos uma ameaça à integridade das instituições democráticas, já que ele e os seus apoiantes continuam a questionar a legitimidade das eleições e a promover uma retórica de desconfiança nas instituições. A política interna dos EUA poderia sofrer um retrocesso em termos de direitos civis e sociais, com sérias implicações para a coesão social do país.
Para o cenário global, uma vitória de Trump representaria um abalo na confiança dos aliados tradicionais dos EUA, que veriam novamente as suas parcerias estratégicas questionadas e enfraquecidas. Trump poderá também estreitar laços com regimes autoritários, como o da Coreia do Norte e, potencialmente, da Rússia, enfraquecendo a ordem multilateral e fortalecendo países que desafiam as normas democráticas. Além disso, a retirada de apoio à Ucrânia poderá ser vista por outros países como um sinal de fragilidade da liderança ocidental, incentivando disputas territoriais e colocando em risco a segurança coletiva.
Cenário de Eleições Contestadas
Um terceiro cenário possível é o de uma eleição contestada, caso os resultados sejam suficientemente próximos para suscitar dúvidas sobre a sua legitimidade. Neste caso, Trump e Harris poderiam recusar-se a aceitar o desfecho, especialmente num contexto onde tanto Trump quanto os seus apoiantes já expressaram ceticismo sobre a integridade do sistema eleitoral. Um impasse deste tipo poderia resultar em semanas de conflitos judiciais e protestos, acentuando a divisão social e prejudicando a imagem do sistema democrático dos EUA a nível mundial.
Internamente, um processo eleitoral contestado minaria a confiança dos cidadãos nas instituições e abriria caminho para uma maior radicalização política, levando a protestos e, possivelmente, a violência. Externamente, a incerteza política nos EUA enfraqueceria a sua autoridade global, deixando aliados e rivais na expectativa de um desfecho que poderia alterar as relações internacionais de forma imprevisível.
Notas Finais
As eleições de 2024 representam um momento decisivo para os Estados Unidos e para a ordem global. A vitória de Kamala Harris garantiria uma política externa mais estável e cooperativa, mantendo os compromissos com a NATO, ONU e fortalecendo alianças globais. Em contrapartida, uma vitória de Donald Trump poderia significar um regresso ao isolacionismo e ao reforço das relações com líderes autoritários, desestabilizando a segurança europeia e fragilizando a liderança democrática ocidental. Em qualquer dos cenários, as implicações dos resultados eleitorais norte-americanos irão ressoar globalmente, especialmente em tempos de crise e de tensões persistentes.
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