Diocese de Viana refletiu relação entre Juventude e Liturgia

Cerca de 600 leigos das Dioceses de Viana do Castelo, Braga e Porto, participaram no 45º Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica de Viana do Castelo, que decorreu no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque. Sob o mote “’Eis que faço novas todas as coisas!’ – A eterna juventude da liturgia”, a iniciativa foi promovida pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Litúrgica (SDPL) e visou “refletir sobre a mobilização e relação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) com a liturgia”.

Notícias de Viana
2 Fev. 2023 12 mins
Diocese de Viana refletiu relação entre Juventude e Liturgia

A sessão de abertura contou com a presença do presidente do SDPL, Pe. Tiago Rodrigues, e do Bispo diocesano, D. João Lavrador, que se referiu à realização da JMJ como uma ocasião de “impulso para a comunidade”, a partir de uma “criatividade com os seus fundamentos”. “Não fazemos acontecimentos só por si. A vida pastoral tem uma continuidade e todos os acontecimentos são um impulso para a comunidade”, afirmou. 

Já o Pe. Tiago Rodrigues mostrou-se “muito feliz” com a participação de todos, desde representantes dos dez Arciprestados da Diocese de Viana do Castelo e das Dioceses de Braga e Porto. “É com muita alegria que nos reunimos em assembleia diocesana para refletir sobre a liturgia”, salientou. 

O 45º Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica terminou com a celebração da Eucaristia na Sé Catedral, que assinalou também o encerramento da peregrinação dos Símbolos da JMJ por toda a Diocese.

D. José Cordeiro 

Ao iniciar a sua conferência, D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga, afirmou: “Todos vamos da liturgia para a liturgia. Por isso, o corpo da Igreja manifesta-se de um modo mais autêntico na liturgia. Nele, cada um faz somente aquilo que é da sua responsabilidade, em simplicidade e autenticidade. Sendo corpo, a Igreja é Sacramento de unidade, e as ações litúrgicas pertencem a todo o corpo da Igreja. Nela, todos os membros se ajudam e comunicam entre si as suas orações. 

A fé cristã não é algo que acontece fora da comunidade, mas dentro dela, nas suas interações. Por isso, a sinodalidade é a expressão de ação da Igreja. Quando nos formamos da liturgia para a liturgia, vivemos o passado o presente e o futuro e, por isso, a liturgia é eternamente nova. Mas, se a liturgia é jovem, porque é que os jovens não vão à celebração? Não é culpa deles, mas é nossa. As nossas liturgias não devem ser algo que se faz por fazer, em cima do joelho, mas que se preparam, de forma que sejam espelho da vida. Esta celebra-se por ritos que, segundo o Papa Francisco, não se reduzem ao aspeto cultual, mas que, na vida da Igreja, são algo vital. Porque Cristo dá a vida, habita no coração de cada um e é o centro da sua vida. Como tal, o altar de cada igreja deve ser único, destacado pela toalha que nos indica o centro onde o pão e o vinho se transformam no Corpo e Sangue de Cristo. Quando O recebemos, transformamo-nos Naquele que recebemos e, como tal, tornamo-nos Corpo de Cristo. 

As orações eucarísticas são dirigidas ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim, a oração é a conversa com o Pai, que tem a Igreja como sujeito. A liturgia torna Cristo presente pelo mistério da Comunhão, na qual os cristãos não são estranhos, mas participam ativamente nesta ação que combina todas as gerações. Precisamos de todos para dar corpo ao futuro da Igreja.”

Luís Miguel Figueiredo 

Na sua apresentação o Pe. Luís Miguel lançou a seguinte interpelação: educar a vida, não apenas a cabeça. Nesse sentido, percorreu o caminho iniciado pelo II concílio do Vaticano. Ora, sabemos de antemão que Deus, na Sua bondade e sabedoria, Se revelou a Si mesmo e deu a conhecer o mistério da Sua vontade. No Seu amor, Deus fala aos homens como amigos (cfr. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e convive com eles (cfr. Bar 3,38) para os convidar e admitir à comunhão com Ele (Dei Verbum, 2). Neste sentido, participamos também da função profética de Cristo, difundindo o Seu testemunho vivo, pela vida de fé e de caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Heb13,15). O cristão, outro Cristo, “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). 

Um cristão, através da inteligência, é capaz de conhecer aquilo que o rodeia. Pela vontade, toma decisões de forma livre, de acordo com aquilo que lhe é mais conveniente, e dialoga com os outros seres humanos. Através da afetividade, é capaz de estabelecer ligações a partir daquilo que é específico do ser-humano: a sua capacidade de amar. Assim, reconfigurar toda a sua existência é interligar os conhecimentos, capacidades e atitudes que se resumem na forma de estar no mundo. O apelo divino encontra um lugar real e bem-disposto onde ressoar, um sujeito capaz de o pressentir afetivamente, de o discernir com inteligência, de lhe responder livremente, precisamente enquanto o reconhece digno de confiança. Finalmente, de confiar e de se confiar, de assentir e de se empenhar, isto é, de avançar a própria existência como penhor-garantia dessa decisão livre. Por outras palavras, de crer». (José Frazão CORREIA). 

Em suma, educar a vida é saber-se integralmente existente e colaborador do mundo, no qual somos chamados a ser e viver numa teia de relações humanas. Estas seguem a herança que recebemos enquanto sacerdotes, profetas e reis. Assim, no sacerdócio de Cristo recebemos a afetividade, as atitudes e o culto; na profecia, recebemos a inteligência, o conhecimento e a doutrina; pela realeza, recebemos a vontade, a capacidade e a vida. 

Mesa Redonda – O dia a seguir às JMJ: renovação da Igreja 

D. Américo Aguiar diz que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é muito mais que um evento. Refere que ela está a ser preparada com muito carinho em todo o país. Faz o apelo a que todos se sintam embaixadores da JMJ. Levanta o problema dos tempos nas celebrações, caindo muitas vezes na tentação de se demorar bastante tempo, por exemplo na homilia, e o resto ser a correr. Isto provoca uma desmotivação nos jovens. É preciso uma celebração equilibrada. 

A jovem Sara, ao dar o seu testemunho pessoal acerca das JMJ, refere que “são importantes para renovar a fé” e que “estes eventos mostram que a Igreja não ficou estagnada no passado”. Também refere que as celebrações não estão concebidas a pensar em jovens e adultos. São muito repetitivas. 

O Pe. António Sérgio refere que as JMJ estão num contexto bem diferente daquele a que estamos habituados nas nossas Paróquias. Pode haver o risco de não aproveitarmos este acontecimento com os jovens e suas famílias. É uma oportunidade para chamar gente às atividades da Paróquia. Destaca o amor de Jesus como motor para atrair os jovens e nos mover. Também refere que a liturgia não permite o diálogo que as pessoas querem. 

Mons. Fernando Caldas disse que há um risco de as JMJ ficarem no esquecimento no futuro. Devemos fazer deste acontecimento um Sacramento. Refere também que é importante dar lugar aos jovens na Igreja e explicar-lhes a linguagem da Igreja e a Igreja começar a ter a linguagem dos jovens. Diz que a Igreja não dá valor ao silêncio na liturgia e que a celebração já fala por si se for bem feita e preparada. São necessárias a participação e a envolvência de toda a gente.

D. António Couto 

D. António Couto apresentou uma importante evocação da figura de Maria – «Maria guardava todas as coisas no seu coração» – que permite uma melhor compreensão do silêncio na liturgia. 

Inicia o raciocínio interpelando-nos acerca da extrema importância do silêncio, realçando que nenhum momento é mais importante que outro e o momento que perdemos pode ser o decisivo. É o silêncio usado pelo narrador a estratégia por excelência, que provoca uma atitude de vigilância, atenção e escuta. Seguindo esta linha, focou as duas exposições do quadro de Maria: Maria surge a guardar, mas a guardar palavras, como forma de lhes proporcionar sentido; daí ser Maria a compor palavras no seu coração, tudo isto para explicar com rigor o título da sua intervenção. 

Salientou ainda que Jesus não Se ocupava simplesmente das coisas do Pai, mas tinha uma atitude de «estar em», o que implica a vida e não apenas simples atos de administração. Apresentou-nos o artifício retórico, que surge inúmeras vezes no edifício bíblico, o 3+1 em que o vento, o terramoto e o fogo se podem confundir com a voz de Deus, mas a voz de Deus vem na «voz de um filho silêncio». Assim, D. António pediu que saibamos, assim como os profetas, distinguir a Palavra do entulho. «O sentido nunca fez barulho, nunca faz», diz-nos. O sentido precisa de um longo, lento e paciente trabalho de interpretação, como fez Maria, que só entende as palavras quando visita o túmulo na festa da Páscoa, a mesma em que Jesus Se havia desencontrado dos pais no Templo e surge também três dias depois. 

Terminou afirmando que: «só a constatação de uma voz mais íntima do que a originária capacidade de escutar poderá restituir ao homem o lugar próprio do ser criado», o que implica transformar as palavras em segredo e as palavras do segredo em silêncio. Apesar de tudo, não se trata, apenas de fazer silêncio, mas de o silêncio nos fazer.

João Duque 

Começou por referir que não existem celebrações por faixas etárias, mas que existe a comunidade eclesial que forma a assembleia. O que torna a celebração interessante é o facto de congregar vários gostos. No que se refere à música, esta pluralidade acontece, precisamente porque a música expressa as caraterísticas dos sujeitos. Por isso, deve ter-se em conta a constituição interna e externa de uma comunidade no contexto da celebração. Afirma que “o desafio das celebrações é precisamente atender à variedade dos seus participantes. Seria ótimo que, numa celebração, se conseguisse congregar estas variedades todas.” A questão conduz-nos a uma necessidade de pertença, que, como referiu, leva a uma dificuldade muito grande. 

A liturgia deve congregar e, como tal, a música litúrgica serve precisamente para isso e deve ser feita para esse efeito, com a qualidade necessária para esse fim. Não deve fazer-se da liturgia um momento para lançar novos êxitos, mas antes deve fazer-se dela algo que crie novidade com qualidade e que realmente congregue. 

De facto, não temos dado passos muito significativos na produção de música litúrgica juvenil, mas já vão surgindo algumas coisas com muita qualidade. Os jovens que gostam de música, gostam dela com qualidade e, como tal, a música litúrgica deve ser música com qualidade. Cabe às Paróquias, urgentemente, envolver nos grupos corais juvenis os jovens que têm uma boa formação musical. Num espectro de crescimento do estudo da música, surge a oportunidade de renovação. Aproveitemse as possibilidades de dar aos jovens, mas também de possibilitar às crianças, um ensino de qualidade, para podermos ter boa música litúrgica no futuro.

José Frazão Correia 

A tradição consiste numa fé autêntica que se recebe daqueles que nos precederam, ajudando a preservar pelos tempos esta fidelidade a Cristo, à Sua doutrina e à Sua Pessoa. Por outro lado, o tradicionalismo é, em determinados momentos, um apego conservador a certos princípios e costumes em relação às novas tendências que a Igreja propõe. 

Esta conjunção entre a Tradição e o tradicionalismo permite «acolher o coração da liturgia». É com o Concílio Vaticano II que surge um renovar da Igreja. 

De acordo com o Pe. José Frazão, o Concílio Vaticano II é «o momento em que a Igreja se reúne para trazer o momento presente da Igreja». Foi precisamente com este Concílio que inicia a compreensão do «hoje», no qual há uma interligação com a História. De facto, é este último Concílio Ecuménico da Igreja Católica que nos permite reafirmar que não somos pessoas de Cristo sem a própria história. 

No tema desenvolvido pelo Pe. José Frazão, que se deteve na liturgia, ele diz-nos que a «liturgia é uma ação comum». É uma «ação que se faz» e um «coração que sente». 

Ora, a liturgia é uma ação de todos, sendo que o Pe. Frazão nos remete para que «todos celebram com o corpo e não só com a cabeça, um só preside (ministro ordenado), e há uma diversidade de ministérios que participam, pois há uma articulação dos ministérios». Além disso, ser verdadeiramente fiel à Tradição é saber «avaliar a qualidade da ação da liturgia e não apenas a qualidade das homilias». 

Há uma expressão que fica na memória porque o Pe. Frazão recorreu a um ditado popular modificando-o para o sentido da liturgia «Diz-me como celebras e dir-te-ei em que Igreja vives».

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