Segundo o relatório da SmartVote, Portugal e Espanha tiveram um aumento da desinformação eleitoral, particularmente em legislativas, com o Chega e o Vox identificados como fontes centrais.
Segundo o relatório da SmartVote, Portugal e Espanha tiveram um aumento da desinformação eleitoral, particularmente em legislativas, com o Chega e o Vox identificados como fontes centrais.
Intitulada “Uma perspetiva ibérica: Desinformação eleitoral nos media em Espanha, Portugal e na União Europeia e ferramentas de identificação”, a investigação refere que as redes sociais desempenham “um papel central na disseminação de conteúdos falsos” e destacam o papel dos partidos de extrema-direita, com o Chega, em Portugal, e o Vox, em Espanha, a surgirem como as principais fontes de desinformação. Entre os temas recorrentes estão “fraude eleitoral, corrupção e imigração”.
Nos dois países, a desinformação visa sobretudo candidatos políticos, sistemas eleitorais e propostas políticas específicas, com táticas comuns que incluem imagens falsas, vídeos manipulados e sondagens enganosas.
O relatório observa ainda que, embora Portugal continue a ser “menos polarizado” que o espanhol, está “cada vez mais exposto à instabilidade política e à desinformação digital, com abordagens regulatórias mais suaves”.
A fraca participação eleitoral entre os jovens e o “aumento notável na partilha de narrativas transfronteiriças, especialmente em torno de questões como a imigração” são também apontadas como fatores que moldam negativamente o debate democrático. “Ambos os países enfrentam desafios significativos em distinguir entre propaganda política, desinformação e notícias erradas, o que sublinha a necessidade de esforços coordenados para combater essas tendências”, lê-se no documento.
Esse retrato ganha contornos concretos nas freguesias do Alto Minho, onde o Chega obteve resultados significativos nas últimas duas legislativas.
Em 2024, o Notícias de Viana falou com eleitores da região, onde o Chega saiu vencedor, e encontrou um padrão de desilusão e revolta, muitas vezes acompanhado por desinformação ou perceções distorcidas da realidade política. “Tudo o que é extrema-direita não me diz nada. Acho que é tudo falso e mentira”, afirmou um reformado de 74 anos, criticando o abandono a que sente que foram deixados os idosos e os jovens. Para si, o voto no Chega “não é de protesto, é de ignorância”.
Em Valença, uma moradora mostrou-se crítica em relação ao partido, mas compreensiva quanto ao motivo de muitos o escolherem. “Fecharam lares, creches. Não sei se o Chega resolve, mas isto não pode continuar assim.” O filho, mais cauteloso, preferiu esperar: “Quero ver para crer.”
A desconfiança nos partidos tradicionais foi repetida por vários eleitores. Um comerciante de 47 anos, ex-simpatizante do PSD, optou pelo Chega alegando que “PS e PSD seria mais do mesmo” e associando o voto ao tema da migração desregulada. “Não existe extrema-direita em Portugal. Isso é inconstitucional”, declarou.
Para Paulo Brandão Gonçalves, coordenador concelhio do Chega em Vila Nova de Cerveira, o partido representa uma força “antissistema”, ainda que admita que “não está imune à corrupção”.
Na freguesia de Freixieiro de Soutelo, o ambiente é mais cético. “Votei PS, mas não ganhou. O CH não vai correr bem. O líder tem cara de manhoso”, comentou um reformado. Outro morador foi mais direto: “Aqui está tudo esquecido. Talvez o voto no CH tenha sido só para mostrar que também existimos. A pia é toda a mesma, os porcos é que mudam de lugar.”
E se para uns o Chega é sinónimo de retrocesso democrático, para outros é apenas a última esperança de mudança, ainda que com reservas. “Há muito imigrante que trabalha e deve ter apoio. Agora, quem não quer trabalhar…”, comentou um comerciante, criticando o que considera serem subsídios mal distribuídos. “As pessoas estão revoltadas porque, até agora, não fizeram nada”, concluiu.
A SmartVote é uma entidade que se dedica ao estudo da desinformação em Portugal, em Espanha e na UE, bem como a forma como esta tendência afeta as escolhas e aumenta a desconfiança no sistema político e influencia as divisões sociais.
O relatório “Uma perspetiva ibérica: Desinformação eleitoral nos media em Espanha, Portugal e na União Europeia e ferramentas de identificação” tem coordenação científica do OberCom – Observatório da Comunicação.
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