De que é que estamos à espera?

Carlos Costa
12 Set. 2024 4 mins
Carlos Costa

Com 46 anos de idade, a Bienal Internacional de Arte de Cerveira é a bienal de arte mais antiga da Península Ibérica. Este ano decorre a sua XXIII edição, sob o tema “És livre?”, em consonância com a comemoração dos 50 anos do 25 de abril. Este evento, patente em Vila Nova de Cerveira até ao próximo dia 30 de dezembro, é dedicado à produção artística contemporânea, apresentando nesta edição 160 obras de 120 artistas de 20 países. A Bienal de Cerveira é um evento de arte, com reconhecimento e projeção mundial.

O conceito de bienal de arte surgiu em 1895, quando foi pela primeira vez apresentada a Bienal de Veneza, de longe a mais antiga e prestigiada Bienal de Arte do mundo. Uma bienal, no sentido literal da palavra, é um evento que acontece com intervalo de dois anos entre cada edição. Uma Bienal de Arte é um evento que ocorre com o intuito de incentivar a cultura e fomentar a produção artística, refletindo o modo como a arte se apresenta naquele preciso momento. Por norma, são ocasiões impactantes sob o ponto de vista artístico, propícios à reflexão, interpretação e critica.

Mas qual a importância desta Bienal de Arte no panorama artístico nacional? E qual a sua importância para o nosso território? Nomes como Amadeo de Souza Cardoso, Ângelo de Sousa, Artur Bual, Júlio Resende, Nadir Afonso, Paula Rego, Pedro Cabrita Reis, Vieira da Silva, entre muitos outros, passaram pela Bienal de Cerveira. Com esta síntese, ficamos esclarecidos, relativamente à importância com que este evento se apresenta no panorama artístico nacional. Porém, ao deambular pelo espaço expositivo, consigo perceber que a maioria dos visitantes fala castelhano ou galego e fico a pensar: onde estarão os portugueses? Acredito que quem tem especial interesse pela cultura e por arte, conhece e visita a Bienal. No entanto, um certame com esta importância deveria atrair também outros públicos, não tão habituados às reflexões e interpretações artísticas. Sabem aquela pessoa que não gosta de futebol, mas vibra com um jogo da seleção? Assim deveria ser a Bienal de Cerveira, para os alto-minhotos. Todos deveriam conhecer e visitar. Seria essencial, por exemplo, que a visita à Bienal fizesse parte dos programas escolares da região (e não apenas cingidas às escolas do concelho). Pelo menos, para todos os alunos dos Cursos de Artes Visuais do ensino secundário.

O interesse pelo evento é reflexo dos interesses das populações – a maioria não consume cultura. Mas esses interesses são também o resultado daquilo que nos é oferecido e da mensagem que nos fazem chegar. Anualmente, o orçamento de estado para a cultura é de apenas 2% da dotação financeira nacional. Os recursos despendidos são escassos e a imagem que passa para os cidadãos é a de que a cultura é um bem menor. E não é. A cultura, para além de ser aquilo que nos diferencia, promove por si só um desenvolvimento sustentado, gerando bens e serviços próprios, autossustentáveis. Eu arriscaria dizer que este número de 2% representa também a percentagem de alto-minhotos que visita o certame, a cada 2 anos.

Vila Nova de Cerveira possui ainda um dos mais importantes equipamentos culturais do Alto Minho. Diretamente relacionado com a Bienal, o Museu Bienal de Cerveira abriu portas em 2002, possuindo mais de 700 obras de arte contemporânea. Foi considerado o “Melhor Museu Português de 2019”, pela Associação Portuguesa de Museologia, e a primeira estrutura do Alto Minho a integrar a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea. Sim, leu bem: não foi considerado o melhor Museu do Alto-Minho; foi considerado o “Melhor Museu Português”! Um local de visita obrigatório para todos.

Deixo pois a minha questão: se nunca visitou a Bienal Internacional de Arte de Cerveira, de que é que está à espera? Certamente que, até final do ano, não faltarão oportunidades para visitar o certame. Aproveite, por exemplo, uma viagem de fim-de-semana a algum “Outlet” fronteiriço, ou até mesmo, no caminho para a visita anual às iluminações de natal de Vigo, e pare em Vila Nova de Cerveira. Mas vá com tempo. Há muito para ver, interpretar e refletir.

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