Não serei o primeiro nem o último a questionar-se sobre isto: será que um jovem que nasça no distrito de Viana do Castelo, ou até, que não nasça em Lisboa ou no Porto, tem as mesmas oportunidades? E caso tenha, o esforço para as conseguir será o mesmo?
O percurso de vida de cada um, seja pessoal ou profissional, está dependente de uma teia de fatores maioritariamente ligada às suas raízes sociais, económicas e geográficas, que são cruciais para a igualdade de oportunidades.
O ideal que hoje tanto ouvimos dos gurus motivacionais de que “se trabalharmos muito alcançamos tudo o que quisermos”, embora seja apelativo, é perigoso e não é totalmente verdadeiro. Por muito esforçados que sejamos, pouco podemos fazer quanto à falta de oportunidades – este é um problema transversal e que requer um esforço coletivo.
Desde logo porque o background socioeconómico é um fator decisivo no sucesso educativo e profissional. E, jovens de famílias com maior rendimento e escolaridade têm acesso a recursos que facilitam o seu percurso, têm acesso a melhores estabelecimentos de ensino, mais atividades extracurriculares e ainda, na maioria dos casos, beneficiam de um ambiente familiar que valoriza e incentiva a educação e a ambição profissional.
Por outro lado, jovens de famílias com menos recursos enfrentam desafios e bloqueios que vão para lá do dinheiro. Engane-se quem pense que uma história de sucesso que começa do zero e da pobreza se traduz numa regra ou num conjunto de casos que representam a maioria.
Haverá muitos mais exemplos de jovens que, por não terem um ambiente familiar propício ao estudo, por não terem acesso a melhor oferta educativa, por terem de contribuir desde cedo para o rendimento familiar, ou por terem de optar entre os estudos e a subsistência, não realizam o projeto de vida que idealizaram. Ou ainda, que nunca conseguiram sonhar um projeto de vida substancialmente melhor do que o dos seus pais.
O ambiente familiar é o primeiro ponto, mas e as desigualdades que resultam da origem geográfica, do sítio onde nascemos e crescemos, que, invariavelmente moldam quem nos tornamos?Nos grandes centros urbanos as famílias tendem a ter um rendimento médio mais elevado, é um facto. E ao nível educacional? O pilar fundamental do desenvolvimento de cada um e o local onde passamos a maioria do nosso tempo enquanto crianças e adolescentes.
1.º De acordo com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), a taxa de transição do ensino secundário para o ensino superior em Portugal é maior nas regiões urbanas, com Lisboa e Porto liderando.
2.º O relatório “Education at a Glance”, da OCDE, indica que a urbanização está associada a maiores taxas de educação superior, com jovens em áreas urbanas tendo uma probabilidade significativamente maior de ingressar no ensino superior.
Se é verdade que a educação muda o mundo através do conhecimento incutido em cada um de nós, também é verdade que a educação não chega a todos da mesma forma ou intensidade, e infelizmente continuam a existir diferenças substanciais relacionadas com o código postal.
Contudo, as desigualdades vão para além das condições económicas e da educação, apresentam-se a muitos outros níveis, têm várias dimensões e cruzam-se entre si.
Por exemplo, quanto à oferta cultural e à acessibilidade a cultura e artes, onde os grandes centros urbanos dispõem de ofertas incomparavelmente mais vastas. Mas também noutras vertentes, como na exposição à diversidade que existe nas cidades, nas redes de contactos que se criam, na competitividade, e noutras questões não tão mensuráveis mas igualmente impactantes.
No fundo, a realidade é que as assimetrias existem e não devemos ignorá-las, as oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional dependem do contexto familiar e económico, mas também do sítio onde se nasceu e cresceu.
Para contrariarmos o que muitas vezes é um ciclo geracional de falta de oportunidades e desigualdades desde o ponto de partida, é necessário continuar a investir no acesso universal a uma educação de qualidade, a melhores cuidados de saúde, a uma oferta cultural descentralizada e atual, e também melhorias nas ligações de mobilidade e nos seus preços, para que seja possível aos nossos jovens conhecerem o país e mundo e obterem exemplos de saber comparado.
Ao abordar tais questões de forma integrada e consciente, estaremos a investir num futuro onde cada jovem terá a oportunidade de prosperar e contribuir de forma significativa para a sociedade. Mas iremos mais longe, ao diminuir as diferenças qualitativas na educação e no seu investimento, melhorando o acesso e a oferta, faremos com que exista menos ressentimento e desconfiança entre classes, fechando assim a porta ao populismo.
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