Dar tempo é (também) dar amor

Marlene Ferraz
11 Dez. 2024 3 mins
Nós, bichos sociais

Dar tempo como uma corajosa resistência a um mundo ilusoriamente apressado.

Dezembro tem esta mensagem de que a nossa ligação com os outros é a grande preciosidade. Festas, presentes, visitas, mensagens, cartas, abraços, beijos, memórias, saudades. Duma forma mais ampliada, entendemos – claramente – que nos sentimos mais felizes se pertencermos a um círculo relacional de outros importantes e que, assim, neste fio que nos une, encontramos mais sentido e propósito para a nossa experiência existencial. Nós somos os outros, inevitavelmente, e a vida acontece nesta confluência de histórias. Poderíamos, então, apontar que, num mês de celebração do nascimento, da família, dos afetos, dar tempo é dar amor.

Mas precisaremos de validação científica para ficarmos convencidos a dar tempo neste exercício mais humanizado do Natal? A universidade de Harvard (EUA) tem apontado para resultados verdadeiramente convincentes: (1) o maior determinante da nossa felicidade é a qualidade (e quantidade) das relações humanas, (2) a satisfação com os relacionamentos sociais aos 50 anos parece prever melhor a saúde física do que os níveis de colesterol e (3) lembrar intencionalmente memórias positivas do passado aumenta a satisfação no presente (e a lista de conclusões investigativas poderia continuar). Sublinhemos as vantagens de termos um catálogo de memórias especiais e a necessidade obrigatória de dedicarmos tempo para que estas possam acontecer. Sem tempo, não há experiência. Sem experiência, não há memória. E, sem memória, poderemos nos perder na amplitude da vida – é nas histórias alinhavadas em conjunto que acertamos o nosso caminho, o nosso sentido, a nossa identidade.

Portanto, embrulhemos tempo numa caixa de oferta. Sentemo-nos de mão dada. Reparemos no olhar. Dividamos o riso. Escutemos os silêncios. Perguntemos pela vida, mas também pelos sonhos e pelas ausências. Convidemos para um chá de ervas, uma caminhada perto do mar ou um grito no alto da montanha. Um filme, um salto, um poema. Tiremos retratos. Escrevamos um bilhete. Abramos o coração. Para que, no novo ano, comecemos com um catálogo maior de momentos íntimos que nos possam valer nos futuros menos favoráveis e desafiantes. Agora que sabemos mais dos benefícios em evocar estas experiências agradáveis do passado (como abrandar a ansiedade, baixar os níveis de cortisol / hormona do stresse, aumentar a saúde psicológica e reforçar a resiliência), sublinhemos a urgência de criar memórias bonitas. E, mesmo que consideremos ter o nosso tempo contado, dar tempo é uma corajosa resistência a um mundo ilusoriamente apressado.

“O Natal entrega-nos um Verbo para a vida, para todos os dias do ano, para cada hora que vivemos. E esse verbo é o verbo Nascer.” Cardeal Dom José Tolentino de Mendonça

Floresçamos. Juntos.

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