Cerca de 60 sacerdotes da Diocese de Viana do Castelo participaram no encontro diocesano de padres, que decorreu a propósito da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O momento ficou marcado pela intervenção de D. Jorge Ortiga, arcebispo emérito de Braga, que sublinhou que, num tempo marcado por cansaço espiritual, desorientação social e relações frágeis, os padres devem ser presença consoladora e cuidadora no meio das comunidades.
“Somos amados por Deus até nas nossas limitações. E esse amor deve transbordar em relações positivas com os outros — é isso que nos faz ministros da consolação”, afirmou.
Segundo o arcebispo, a missão do padre não se esgota na celebração dos sacramentos ou na administração paroquial. “O que as pessoas esperam de nós é proximidade. Esperam que estejamos presentes, atentos, que cuidemos. E que consolemos. Hoje, muitos andam desalentados, tristes e perdidos. Se o nosso ministério não for o da consolação, o que é que estamos realmente a oferecer?”, questionou, alertando para a eucaristia “demasiado fria” que “muitas vezes já não criam relação nem despertam encontro com o Ressuscitado”. “Falta deixar que Cristo se manifeste na forma como escutamos e cuidamos. Converter o ministério sacerdotal é isso mesmo: voltar ao essencial”, defendeu.
D. Jorge Ortiga destacou que o verdadeiro desafio da Igreja passa por uma conversão relacional, explicando que o sacerdote deve ser “ponte, espaço de escuta e rosto de Deus que consola”. “A santificação do padre não está apenas na fidelidade às normas, mas sobretudo no cuidado concreto das relações: com Deus, com os outros e com o mundo”, salientou.
Num contexto social que classificou como marcado por “anemia espiritual e humana”, o arcebispo propôs uma espiritualidade da reparação, centrada na escuta e na presença real junto das pessoas. “Reparar é dar vida nova, é acolher a fragilidade, é não fugir do sofrimento. As comunidades precisam disso. E os padres devem ser os primeiros a testemunhar essa compaixão ativa”, acrescentou.
Por fim, apontou o ano jubilar que a Igreja vive como uma oportunidade para “reajustar a rota”, tanto a nível pessoal como comunitário. “O nosso caminho precisa de tempo, de interioridade e de reencontro com o essencial. A meta é Cristo, mas o caminho até Ele faz-se de pequenos gestos de cuidado e proximidade”, referiu, concluindo: Se a Igreja não for capaz de se recentrar no essencial, dificilmente poderá realizar aquilo que verdadeiramente importa.”
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