Foi aprovada no passado dia 20 de junho, pela Comissão Executiva do Eixo Atlântico, a proposta para que Viana do Castelo seja a Capital da Cultura do Eixo Atlântico em 2025. Viana do Castelo recebe assim, pela segunda vez, esta importante organização, que permitirá promover a nossa cultura, interrelacionando-a com os elementos identitários desta região transfronteiriça. A última edição, em 2023, decorreu na cidade de Lugo.
Num total de 41 municípios que compõe o Eixo Atlântico, Viana do Castelo é a primeira cidade da Eurorregião a repetir esta organização. Estão previstos 64 eventos, distribuídos por 10 meses, de janeiro a outubro. Comparando com a nossa última organização, percebemos facilmente que o salto qualitativo e quantitativo é enorme: em 2011, Viana do Castelo promoveu 9 eventos, entre junho e julho (a maioria dos quais já bem conhecidos dos Vianeses), que pouco ou nada acrescentaram à dinâmica cultural da cidade. Constavam então do programa a Feira Medieval, a Feira do Livro, o Festival de Jazz, entre mais meia-dúzia de exposições e cerimónias de abertura/encerramento.
A Capital Cultural do Eixo Atlântico nasceu em 2007 e promove a cada dois anos os artistas da Eurorregião. Tem como objetivo “potenciar a cultura em todas as suas expressões nas cidades do Eixo Atlântico contando sempre com a presença cultural dos países historicamente ligados a Portugal e à Galiza”. Em 2025 dinamizaremos mais eventos, e estou certo que aumentará também a qualidade e diversidade, abrangendo agora temáticas de praticamente todas as áreas do espetro cultural: arte urbana, gastronomia, cinema, arquitetura, música, entre muitas outras. Bem sabemos que quantidade não é sinónimo de qualidade, mas aumenta certamente a probabilidade de recebermos grandes eventos. A título de curiosidade, em 2016, a cidade de Vila Real, organizadora do certame, acolheu 200 eventos culturais. Um calendário mais preenchido acaba por criar hábitos e rotinas; os visitantes, sabendo que têm disponíveis eventos regulares, regressam. De todo o modo, estou certo que apesar de termos um cartaz ainda reduzido (3 eventos a cada 2 semanas), vamos conseguir ter mais qualidade, atraindo maior quantidade e diversidade de públicos.
Esta organização será ainda uma oportunidade de repensar, para o futuro, a agenda e a oferta cultural de Viana do Castelo. Desde logo, a curto/médio prazo, pensando maior, melhor e diferente. Para tal, será essencial o desenvolvimento e a implementação do Plano Estratégico para o Património e Cultura, já discutido pelo menos desde 2021. Na maioria das oportunidades que dispomos – em termos orçamentais – são implementadas ações de promoção cultural e preservação do património, desenvolvidas no âmbito de outros planos sectoriais, como por exemplo o turismo, o ambiente ou as novas tecnologias. O usufruto e a valorização Patrimonial e Cultural deverão, por si só, apresentar-se como o mais estratégico dos vetores de desenvolvimento da sociedade, de modo particular no nosso concelho. Se retirarmos o Património Cultural, Natural e Imaterial de Viana do Castelo, perdemos tudo o que nos identifica. Promover o Património Cultural, “potencia um impacto direto nas comunidades locais, promove o emprego intensivo e de qualidade, promove o desenvolvimento sustentado, gera bens e serviços próprios – não importados nem deslocalizáveis – e permite, claro está, a capacidade de atração externa”.
Este Plano Estratégico deverá pensar a região, apta para oferecer o que de melhor Portugal poderá receber e organizar. Uma parte substancial dos Vianenses espera que os eventos organizados na cidade possam atrair milhares de visitantes, tal como neste momento acontece noutras regiões já afirmadas e na rota dos grandes eventos culturais: Braga, Guimarães e Grande Porto. Reconhecemos Viana naquilo de que mais tradicional, puro e diferenciador poderemos oferecer – e bem – mas esquecemo-nos que a cidade também poderá respirar vivências de massas e atrair grandes públicos. Amália Rodrigues, Gustave Eiffel: quando teremos grandes eventos com projeção nacional, relacionados com grandes figuras que marcaram Viana do Castelo? Na minha opinião, podemos ter em Viana do Castelo, eventos relacionados com a nossa cultura e com a nossa região, que tragam mais públicos e coloquem Viana do Castelo no eixo da dinâmica cultural nacional.
Finalmente, Viana do Castelo, Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2025, deverá ainda trazer repercussões a longo prazo: com esta dinâmica de poder fazer maior, melhor e diferente, poderemos um dia retomar a preparação de uma forte candidatura à Capital Europeia da Cultura. A nossa candidatura a 2027 acabou por se revelar insuficiente para organizar o maior evento Cultural da Europa, mas o trabalho foi iniciado. Aliás, esta segunda oportunidade de receber a Capital de Cultura desta região transfronteiriça poderá em muito estar relacionado com o trabalho notável – ainda que de maturação tardia – que foi realizado para a organização europeia. Portugal receberá certamente na próxima década de 30 uma nova organização da Capital Europeia da Cultura. Esperamos que a experiência acumulada e o trabalho já realizado (tanto de preparação da candidatura a 2027, como de organização de 2011 e 2025), seja mote suficiente para trazermos a maior montra de promoção cultural, para Viana do Castelo.
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