Confiança no Espírito

Nuno de Matos
27 Fev. 2025 4 mins
Nuno Matos

Ao longo da minha vida passaram pela cadeira de Pedro 5 Papas, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Embora todos os sumo pontífices marquem a vida dos crentes, e até dos não crentes, o mais impactante na minha vida foi João Paulo II. O pontificado de 26 anos acompanhou o meu crescimento enquanto homem, e cristão. Foi o primeiro Papa que tive a Graça de ver fisicamente, estando a metros dele. Tive a mesma Graça com Bento XVI e Francisco. Nessas situações percebi que, embora homens com todas as normais fragilidades de cada um de nós, emanam uma força que vai para além da nossa compreensão. Neles se percebe, realmente, a expressão, várias vezes repetida no Evangelho, de “ungido de Deus”.

Em 2000, pleno ano jubilar, nas Jornadas Mundiais de Juventude, em Roma, encontrei um Papa João Paulo II, apesar de alguma debilidade, com uma força e pujança empolgantes. Dois anos depois, no encontro em Toronto, a debilidade já era muita, mas João Paulo II não vacilou, dando exemplo aos milhares de jovens e mostrando como a esperança e a fé se mantinham mais fortes do que nunca, “Não tenhais medo, abri de par em par as portas a Cristo!”. Quase 3 anos depois falecia e Joseph Ratzinger, em Abril de 2005, era eleito Papa, escolhendo o nome de Bento XVI. Tive a sorte de poder estar na missa de início do seu ministério petrino, em cuja a homilia, o novo Papa começou por afirmar “não estou sozinho”, terminando a exortar, reforçando as palavras do seu antecessor, “não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo”.

Em Fevereiro de 2013, Bento XVI, aquando da sua resignação, pouco antes da entrada no período de sede vacante, afirmou “neste momento particular, peço-vos que rezeis por mim e pela Igreja, confiando sempre na Providencia de Deus”. Um mês depois, de forma surpreendente, contra todos os prognósticos dos vaticanistas, o argentino Jorge Mário Bergoglio era eleito Papa. A surpresa foi ainda maior pela escolha do nome, Francisco I. Se a coragem da resignação de Bento XVI, por reconhecer a sua incapacidade para administrar bem o ministério que lhe tinha sido confiado, é de realçar e louvar, o mesmo deve ser feito pela forma disruptiva com que Francisco, desde o início, aborda o peso do seu ministério.

Quando escrevo estas linhas, a atenção mediática está toda no Hospital Gemelli, em Roma, onde o Papa Francisco se encontra internado há vários dias. Com boletins médicos diários, onde a palavra “critico” prevalece, vai-se sabendo que o Papa, dentro das limitações, vai trabalhando. Os jornalistas vaticanistas vão ganhando tempo nas emissões das televisões, os prognósticos de conclave vão aumentando o tom. É preciso, no entanto, manter a esperança!

Como escreveu Francisco, na recente mensagem para a Quaresma, “graças ao amor de Deus em Jesus Cristo, somos conservados na esperança que não engana (cf. Rm 5, 5). A esperança é “a âncora da alma”, inabalável e segura. Nela, a Igreja reza para que «todos os homens sejam salvos» ( 1Tm 2, 4) e ela própria anseia estar na glória do céu, unida a Cristo, seu esposo. Santa Teresa de Jesus expressou isso da seguinte forma: «Espera, espera, que não sabes quando virá o dia nem a hora. Vela com cuidado, que tudo passa com brevidade, embora o teu desejo faça o certo duvidoso e longo o tempo breve» (Exclamações, XV, 3)”.

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