Domingo e segunda-feira de Páscoa são dias de festa. No Alto Minho, o Compasso Pascal sai às ruas para anunciar Cristo ressuscitado. Há quem o faça com sacerdotes, seminaristas e jovens, e ainda com bandas de música, grupos corais e bombos.
Na União das Freguesias de Barroselas e Carvoeiro, são duas cruzes. O compasso é composto pelos mordomos, um padre, um seminarista e vários jovens, que levam a campainha e a água benta. A acompanhar, as duas Banda de Música da freguesia: Banda Nova e Banda Velha de Barroselas.
Nos dois dias, são mais de 40 quilómetros que o Compasso Pascal percorre naquela vila. De ano para ano, o número de casas diminui, mas “o espírito, de quem abre a sua casa, mantém-se”. “As pessoas que nos receberam estavam muito bem dispostas e tinham o cuidado de nos oferecer de beber e comer”, contou Sofia Gonçalves, sobrinha do mordomo da cruz, que já andou em anos anteriores, mas com a campainha. “Este ano, a responsabilidade foi maior, porque andava com a cruz”, admitiu.
João e Ana Guiomar Novo são irmãos. São escuteiros e ajudam, algumas vezes, à Missa. Não é a primeira vez que fazem parte do Compasso e, este ano, andaram com a campainha. “É uma experiência muito boa”, garantiram, lamentando que as pessoas vivam mais para as Bandas de Música que para a parte religiosa. Ainda assim, têm consciência da importância deste momento, que “proporciona momentos em família e amigos”. “As pessoas recebem-nos bem”, reforçaram.
Tiago Rebelo, maestro da Banda Musical Velha de Barroselas, contou que os cerca de 50 músicos estiveram, no Domingo, em Mujães e, na segunda-feira, em Barroselas. “É uma tradição com muitos anos. São dois dias de alegria, em que vamos às casas das pessoas e os próprios músicos se encontram uns com os outros, fortalecendo laços de amizade”, afirmou, assumindo que são dias igualmente “cansativos”. “Com o passar dos anos, há menos casas a abrir. É pena, porque é uma tradição que se deve manter e as pessoas gostam muito”, considerou, confidenciando que “as pessoas vibram com a Banda”.
Já Gregório é padre passionista e, este ano, foi convidado para ajudar no Compasso Pascal, em Barroselas. “É com alegria que vamos anunciar algo que nos move: a ressurreição de Jesus. E, depois, uma certa curiosidade, porque cada lugar tem as suas tradições”, referiu, descrevendo a experiência do encontro das três cruzes, no Largo das Neves, como “muito bonita”. “Tivemos a oportunidade de trocar algumas palavras como sinal de esperança para o mundo e para a nossa comunidade civil”, salientou, considerando “positivo” a abertura das casas, “independentemente das motivações”. “Ali é também um espaço de partilha e comunhão. Não só para nós, que anunciamos Cristo vivo, como para todos os outros, através de pequenos momentos com uma palavra ou gesto que desbloqueia muitas portas”, afirmou, frisando a importância da Páscoa para acolher as famílias e manter as tradições.
Na freguesia de Meadela, o recolher das seis cruzes conta com a participação da fanfarra do Agrupamentos dos Escuteiros de Meadela.
José Luís, de 63 anos, ajuda na Paróquia e está envolvido no Compasso Pascal “há muitos anos”. “As pessoas que abrem a porta são muito menos, e é cada vez mais difícil arranjar pessoas para ajudar no Compasso”, confidenciou. Ainda assim, “faz-se com quem pode”. “As famílias mais antigas, e descendentes, vão abrindo a porta. Hoje, somos uma freguesia com muitas famílias imigrantes ainda não envolvidas neste espírito paroquial. Temos, ainda, pessoas que vieram de outros locais, onde o Compasso pascal não é tradição e, por isso, não abrem as portas”, justificou, considerando que “tem de haver uma renovação na Igreja”. “Os leigos têm de ajudar, e esperemos que, daqui a alguns anos, tenhamos mais pessoas e jovens na igreja”, frisou, terminando: “O Compasso é festa, alegria e visita a familiares e amigos. A Páscoa, ou melhor, a Semana Santa é o ponto alto e central do cristianismo. Ali está o cerne da doutrina cristã. Para mim, a Quinta e a Sexta-feira Santas são os pontos centrais.”
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